sexta-feira, 21 de julho de 2017

CHICO PEDROSA



Da cacimba de Chico Pedrosa...

O poeta Chico Pedrosa deu três gatos de presente a um bodegueiro que vivia perseguido por uma súcia de ratos tão ávidos e infames, que só perdiam em safadeza e cupidez para aqueles do Congresso Federal. Passados uns cinco ou seis dias, Pedrosa foi à bodega do amigo e perguntou: - TIMÓTEO, CADÊ OS GATOS???

Resposta do Bodegueiro:

(TIMÓTEO, CADÊ OS GATOS?)
Botei na mercearia
Comeram a mercadoria
E nem ligaram pros ratos
Cagaram dentro duns pratos
De loiça, que mamãe fez,
Morderam o pé de um freguês
Que só comprava a dinheiro
Dei três conto a um maloqueiro
Pra dar sumiço nos três.

quinta-feira, 20 de julho de 2017

O AMIGO DA ONÇA


O Amigo da Onça é um personagem de cartoons e histórias em quadrinhos criado por Péricles de Andrade Maranhão (14 de agosto de 1924 - 31 de dezembro de 1961) e publicado em um cartoon pela primeira vez na revista O Cruzeiro em 23 de outubro de 1943.

Satírico, irônico e crítico, o Amigo da Onça aparece em diversas ocasiões desmascarando seus interlocutores ou colocando-os nas mais embaraçosas situações.


Em 1989, foi publicado na revista Semanário com roteiros de Jal e arte de Octavio Cariello.

(Fonte: Wikipedia - A Enciclopédia Livre)

terça-feira, 18 de julho de 2017

NO TEMPO DA LAMPARINA




MOTE E GLOSA NO SERTÃO

O saudoso CORONÉ LUDUGERO, personagem vivido no rádio, no disco e na TV pelo saudoso humorista pernambucano Luiz Jacinto, com textos formidáveis de Luiz Queiroga e a participação de Dona Felomena (Mercedes del Prado) e Otrope (Irandir Costa), continua sendo uma das gratas recordações que tenho de minha infância. Eu ouvia os causos e as cantigas do Ludugero nas ondas amigas da Rádio Difusora Cristal de Quixeramobim ou pela Rádio Tupinambá de Sobral. De vez em quanto Ludugero se metia a CANTADOR DE VIOLA. Quem dava os motes, geralmente, era a sua esposa, dona Felomena. Um desses motes ficou retido em minha lembrança: NO BEM DA MULHER AMADA / ESTÁ O BEM DA CRIAÇÃO.


Luar do Sertão / Sabonete-Madalena-CE

Mas a vida reproduz a arte. A minha esposa Juliana Silva, que também admira profundamente a poética popular nordestina, me apresentou um mote depois de ver uma foto de uma lamparina que fizemos no último domingo, em nosso recanto do Sabonete, município de Madalena-CE. Eis o mote da companheira: “NO FOGO DA LAMPARINA / ACENDI MINHAS LEMBRANÇAS”. Seguem as glosas:

Trilhei as velhas estradas
Do meu Sertão benfazejo
No clarão vi um lampejo
Igual aos contos de fadas
Nessas trilhas palmilhadas
Resgatei as esperanças
Encontrei outras crianças
Nessa chama cristalina
No fogo da lamparina
Acendi minhas lembranças.

Revi nas chamas brilhantes
As fumaças do passado
O meu desejo focado
Em livros interessantes
Li os cordéis mais vibrantes
Dos Pares vi as andanças
E também subi nas tranças
De uma bela menina
No fogo da lamparina
Acendi minhas lembranças.

Eu vi o Cancão de Fogo
Resgatando o mesmo tema
Mané Mago de Jurema
Também estava no jogo
Até mesmo ave com gogo
Retempera as temperanças
E renova as alianças
Do jeito que a Bíblia ensina
No fogo da lamparina
Reacendi as lembranças.

Mote de Juliana Araújo Silva
Fotos / Glosas: Arievaldo Vianna


Compadre Policarpo, apreciando a luz da lamparina.


Juliana Araújo Silva, autora do mote


CORONÉ LUDUGERO - MISTURA DE VIOLA
Link: https://www.youtube.com/watch?v=c5YrvOWlnCk






quinta-feira, 6 de julho de 2017

PASSARIM DO ASSARÉ


XILOGRAVURA: Arievaldo Vianna (Direitos Reservados)


15 ANOS DA PARTIDA DE PATATIVA

Quinze anos após a morte, vitimado por pneumonia, Patativa do Assaré continua sendo referência e presença constante entre os artistas cearenses. Em entrevista ao O POVO, o pesquisador Tadeu Feitosa reflete sobre o legado do poeta popular. Para ele, Patativa permanece em evidência porque é “fruição artística, porque a cada leitura se revelam mais e mais semioses”.
O POVO - Por que Patativa consegue ainda ser tão presente? Tadeu Feitosa - Eu que nunca gostei de classificar nem o Patativa e nem a sua obra, nunca deixei de ter em mente que ele era – mesmo em vida – insubstituível. As caretices científicas e metodológicas que me impediam de chamá-lo de gênio no corpo de uma tese de doutoramento nunca me impediram de dizer isso nas minhas conversas e palestras sobre ele. Ele é presente porque sua obra é atual, tem a dureza de uma realidade dita sem rodeios – ainda que a sua arte também tenha lhe permitido edenizar o sertão que ele também cantou tão duro, tão árido, tão real. Os ritos de calendário sobre Patativa só se repetem na contagem sequenciada dos anos que o distanciam fisicamente de nós. Esses ritos são incapazes de delinear fronteiras para sua obra. Muito menos fronteiras temporais que a distanciem do valor poético e estético de sua obra. Ele permanece porque sua voz ainda ecoa como tradutora do seu e do nosso tempo; porque sua poesia ainda reverbera sobre os fenômenos que ele analisou e ela, poesia, pode ser vista e sentida do sertão ao mar; porque sua obra é uma plêiade de tratados: sociológico, antropológico, histórico, geográfico, ecológico, cultural, literário, poético. Patativa permanece porque é fruição artística, porque a cada leitura se revelam mais e mais semioses. Seu canto ecoa buscando novos a atualizados refrães e eles são vistos nas infinitas práticas leitoras que se faz da sua obra nas mais diversas linguagens: na literatura, no teatro, no cinema, nos cordéis, nas cantorias...
O POVO - O que difere ele de contemporâneos da literatura?
Tadeu - Patativa se difere porque ele transita nas linguagens populares e eruditas com desenvoltura. Não é uma habilidade da língua e da fala apenas, mas uma desenvoltura perceptiva, cognoscente de um mundo em eterno processo de tradução. E ele o traduziu muito bem. Ele se diferencia dos outros por transitar entre as frestas das fronteiras simbólicas. Inconformado com as convenções simbólicas – mesmo as necessárias – ele buscava as intersecções, as intersemioses, o frescor do olhar por entre as brechas dessas convenções. A poesia de Patativa era e é fronteiriça: ele transita no limbo dos significados e dos sentidos e estes não são datados, ainda que situados num tempo histórico, que foi o que ele viveu. Como sua obra é de memória, sua verve poética transita pelo imemorial. Ele se difere dos demais porque continua sendo melhor do que os outros.
O POVO - Você consegue enxergar na nova geração algo semelhante ao que ele produziu?
Tadeu - Não consigo ver nada e nem ninguém que tenha essa condição de ter uma obra como a dele. Claro que um dia aparecerá, mas ainda não vejo. O que há são inclinações e apelos midiáticos com o intuito de tentar reproduzir o que ele fez; marcas indisfarçáveis de ocupações de espaços na indústria cultural com propostas poéticas parecidas com a de Patativa, mas todos gerando produtos com conteúdos quase sempre efêmeros. O que me parece inegável é que sua obra é lida e discutida com frequência: das escolas às tevês; do cinema ao cordel digital. Nessas tentativas vão se abrindo possibilidades, mas o ninho poético está vazio. Graças aos deuses de dentro ou de fora desse ninho ainda se ouve fortemente aquele canto imorredouro.

Ilustração: ARIEVALDO VIANNA

Caricatura: Arievaldo Vianna



FONTE: O POVO
Ver postagem completa: http://www.opovo.com.br/jornal/vidaearte/2017/07/pesquisador-tadeu-feitosa-reflete-sobre-legado-de-patativa.html

quarta-feira, 5 de julho de 2017

MINI CONTO


Baleia do Sabonete, a cachorra do Major Policarpo Quaresma

DIÁLOGO DAS RABUGENS DO BRASIL

- BALEIA!
- Pronto, patrão!
- Vou cuspir no chão! Monte na bestinha melada e risque. Você vai ter que me trazer três préas de balseiro antes do cuspe secar...
- Nesse instante, patrão!
.............
- Patrão...
- O que foi, BALEIA?
- E o IBAMA?
- Arre égua, Baleia. Deita aí, vamos comer MIOJO.
- Ai, que NOJO!

* * *



Já que os preás estão vetados pelo IBAMA resolvi apostar numas costeletas de carneiro, fatias de bacon e afins, o que motivou esse mote sugerido por Geová Costa: ESSA BALEIA QUE LATE / QUER DEVORAR MEU CHURRASCO.

Baleia, a jovem cadela, 
É um esmeril da França,
Alimenta a esperança
De comer uma costela...
Seja de porco ou daquela
Ovelha que desenrasco,
Pois engordou no carrasco,
Antes de ir pro abate,
ESSA BALEIA QUE LATE
QUER DEVORAR MEU CHURRASCO.

terça-feira, 4 de julho de 2017

NO REINO DA ENCANTARIA



O MARCO CIBERNÉTICO DO 

REINO DOS TRÊS MONÓLITOS

Autor:  Arievaldo Viana

Nos  sertões do Ceará
Há mais de cinco milênios
Havia um reino imponente
Obra de fadas e gênios
Com três castelos vistosos
Quais luminosos procênios.

Nesse tempo tão distante
O índio selvagem, inculto,
Que habitava essas terras
Um dia avistou um vulto
De uma grande espaçonave
Conduzindo um povo culto.

Vinha de outra galáxia
Aquela grande astronave
Pousou em nosso planeta
A fim de trazer a chave
De grandes conhecimentos
Mas padeceu um entrave.



Os índios ficaram atônitos
Com a súbita aparição
Pois julgavam que Tupã
Vinha no grande clarão
Na sua rude linguagem
Buscavam uma explicação.

Vinham naquela missão
Engenheiros, cientistas,
Sacerdotes, artesãos,
Astrólogos e alquimistas
Matemáticos e geólogos
Poetas e repentistas.

Olhando o povo atrasado
Que habitava o lugar
Com muito zelo e cuidado
Quiseram os ensinar
Mas aquela raça inculta
Nada pôde assimilar.

Exilados neste mundo
Sua tecnologia
Mostrou-se pouco eficaz
E recorreram à magia
Para encantar os três reinos
Que aqui fundaram um dia.

Cristalizaram os castelos
Com tudo que existia
Uma camada de rocha
Fruto de grande magia
A sua esplêndida aparência
Ocultava e revestia.

Três monólitos de pedra
De assombrosa semelhança
Ocultaram os três castelos
Dos quais só resta a lembrança
No verso dos trovadores
Do reino da Esperança.

O enorme conhecimento
Daquela raça suprema
Para as gerações futuras
Será um ditoso tema
Que pretendo revelar
Nos versos do meu poema.

Só numa era futura
Remota e muito distante
Os três reinos encantados
Com seu astral fulgurante
Virão a desencantar
De maneira triunfante.

Ao pé do primeiro reino
Mesmo no sopé do monte
Existe uma pedra estranha
Da cor de um rinoceronte
Da qual jorra sem cessar
Uma maviosa fonte.

É a fonte das Coronhas
De todos bem conhecida
A vegetação nativa
A deixa bem escondida
Mesmo nos anos de seca
Ela é a fonte da vida.

Outra fonte cristalina
Um pouco mais adiante
Rumoreja entre as pedras
E o cascalho brilhante
É o Olho D'água do Bode
Que desponta cintilante.

As aves cantam nos galhos
Trina a cigarra na mata
Os cristais resplandescentes
São filigranas de prata
E o olho d'água da fonte
Jorra em suave cascata.

No sopé da cordilheira
Que se ergue abruptamente
O sabiá laranjeira
Canta sublime e plangente
O sol dardeja os seus raios
Tocando a alma da gente.

Preás se escondem nas locas
Com medo dos predadores
Inhambus arrulham nas matas
Atraindo os caçadores
Abelhas zumbem na relva
Sugando o néctar das flores.

No pé destes três serrotes
Tudo é encanto e beleza
Seus habitantes convivem
Em paz com a natureza
E os monólitos ostentam
O seu porte de nobreza.

Tem todo encanto e beleza
Que se vê em Istambul
O vento sopra suave
Varrendo de norte a sul
Ali o céu foi pintado
Com o mais bonito azul.

No ano sessenta e sete
Do outro século passado
Nasci naquele recanto
E fui por Deus inspirado
A beber daquela fonte
Perto do reino encantado.

Ao completar oito anos
Meu pai, um agricultor,
(Também um iniciado
Na arte de trovador),
Levou-me pra conhecer
Aquele grande esplendor.

(...)