terça-feira, 24 de junho de 2014

ILUSTRAÇÕES


O CALDEIRÃO - Geraldo Amâncio (trechos)

01
A esperança move o sonho,
Que depois de se mover,
Faz nascer a atitude,
Esta depois de nascer,
Liga o motor de partida,
Maneja as rodas da vida,
Faz o bem acontecer.
          
  O2
Quem crê escuta a esperança
Na voz da premonição.
Para os despidos de fé,
De crença e religião,
A crença é um mal sem cura,
A fé sinal de loucura,
E o sonho alienação.
      
   O3
Conta este livro a chacina
De pessoas convertidas.
Dizimadas pelas balas,
De muitas mãos homicidas.
Perderam primeiro as roças,
Casas, plantações, palhoças,
Perderam depois as vidas.
            
  04   
Quarenta anos depois
Da chacina canudense,
Cujos crimes ainda causam
Mágoa, revolta e suspense,
Houve uma cópia fiel
Dessa tragédia cruel
No Cariri cearense.
        
   O5
A história de Canudos
Por Euclides foi contada.
Do Caldeirão a chacina
Não se contou quase nada.
Por um estranho interesse,
Para que o mundo esquecesse
Ela foi silenciada.
       
  06
Os livros sobre esses fatos,
Alguns são comprometidos,
Onde os vencedores são
Lembrados e enaltecidos.
Excluindo no geral
De forma proposital,
A história dos vencidos.
              

               07
Faltou Euclides da Cunha
Para escrever tudo certo.
Rosemberg Cariri
Foi o que chegou mais perto.
Quando fez a descrição
No seu filme “ o Caldeirão
Da Santa Cruz do Deserto”

 08
 O Caldeirão era um sítio
De solo fértil e extenso.
No município do Crato,
Sítio de um progresso imenso.
Onde um povo de confiança
Viveu sob a liderança
Do beato Zé Lourenço.
         
 09
Zé Lourenço era uma fonte
De amor e fraternidade.
Só fez o bem, mas foi vítima
De tudo o quanto é maldade:
Calúnia, infâmia, cobiça,
Perseguição, injustiça,
Falcatrua e falsidade.
            
10
Foi em mil e oitocentos
E oitenta e dois, o ano
No lugar Pilões de Dentro
No Brejo paraibano,
Que nasceu o Zé Lourenço,
Um ser de paz e bom senso,
Humilde, amigo e humano.

(...)



Estou empenhado atualmente na ilustração destas duas obras: A LAGARTIXA DE OURO (de minha autoria) e O CALDEIRÃO, cordel do poeta Geraldo Amâncio. Lançamento em breve...

terça-feira, 10 de junho de 2014

ORAÇÕES DE SANTO ANTÔNIO


JACULATÓRIAS DE SANTO ANTÔNIO

Quando criança eu via a minha avó Alzira, devota fervorosa de Santo Antônio de Pádua, rezar sua Trezena todos os anos, no período de 01 a 13 de junho. O que eu mais gostava era de ouvir o RESPONSO DE SANTO ANTÔNIO e as JACULATÓRIAS, ambas compostas em quadras, em redondinha maior (versos de sete sílabas), o que lembrava-me sempre os folhetos e romances de cordel que ela lia após o jantar.

A seguir, algumas quadras extraídas do ESCUDO ADMIRÁVEL, livreto de orações impresso em Portugal, que pertenceu ao meu bisavô Fitico e depois passou para minha avó:

Ó angélico Santo Antônio
Com Deus-Menino nos braços
Fazei com que Ele me prenda
Com seus amorosos laços.

Ó angélico Santo Antônio
Espelho de castidade
Conserve meu coração
Livre de toda maldade.

Ó angélico Santo Antônio
Em milagres portentoso
Pedi a Deus que me dê
Um coração fervoroso.

Ó angélico Santo Antônio
Dai-me a vossa proteção
Na terra guiai meus passos
Pra lograr a salvação.

Ó angélico Santo Antônio
Que deparais o perdido
Alcançai-me uma dor grande
De ter a Deus ofendido.

Ó angélico Santo Antônio
Se vossa língua é bendita
Fazei que vossa doutrina
Na minh’alma esteja escrita.

Ó angélico Santo Antônio
Se os inocentes livrais
Livrai-me de cometer
Horrendas culpas mortais.

Ó angélico Santo Antônio
Esplendor de Portugal,
Valei-me e acompanhai-me,
Que sou vosso natural.



* * *

O poeta Marco Haurélio, através do blog CORDEL ATEMPORAL, publicou também uma oração de Santo Antônio recolhida no interior da Bahia, que fala do milagre em que ele encontrando-se em Pádua (Itália), conseguiu se transportar até Lisboa (Portugal), em fração de segundos, para livrar o pai da forca:

SANTO ANTÔNIO

Socorre, Antônio, socorre,
Depressa, incontinenti,
Vai livrar seu pai da forca,
Que vai morrer inocente.

— Você fica aqui em Pádua,
Que eu vou lá em Portugal.
Vou livrar meu pai da forca,
Que sem culpa vai pagar.

Tenha, moço, a justiça,
Daí não consiga mais
E olhe que não é esse
O homem que vós pensais.

Veja que não sou Justino
Nem também falando torto.
Vim aqui justificar
Pela boca de um morto.

Te alevanta, corpo morto,
Vem aqui justificar
Se esse homem te matou
Ou sem culpa vai pagar.

— Esse homem não me matou
Nem por mim ele pecou.
Na hora da minha morte,
Mas ante’ ele me ajudou.

— Ô meu padre Santo Antônio,
Vossa glória é de reis.
Sei que é o padre santo Antônio,
Vencedor de todas leis.

Ô meu padre santo Antônio,
Me diga onde foi morar.
Embora eu não lhe conheça,
Mas mando lhe visitar.

— Oh meu pai, eu sinto muito
De você desconhecido.
Eu sendo seu filho Antônio,
Que de vós eu fui nascido.

Eu me chamava Fernando,
Mudei meu nome pra Antônio
Pra livrar as criaturas
Da tentação do demônio.

Eu de vós não quero nada,
Só quero a vossa benção.
Que eu para a Itália
Terminar o meu sermão.

Nota: Santo Antônio de Pádua (ou de Lisboa), o grande taumaturgo, ainda em vida foi considerado santo. O milagre citado no bendito acima, como se pode perceber, deu origem à expressão "tirar o pai da forca".

Fonte: Seu Heliodoro (Dorão), já falecido.
Serra do Ramalho, Bahia.

segunda-feira, 9 de junho de 2014

O CORDEL ESTÁ DE LUTO


Poeta Manoel Monteiro

A poesia popular está de luto. Um dos maiores entusiastas do cordel na sala de aula e um dos maiores cordelistas em atividade foi encontrado morto num quarto de hotel, em Belém do Pará. Conheci Manoel Monteiro em 1999, quando comecei a levar mais a sério a minha atividade como cordelista. Trocamos diversas correspondências e, finalmente, em 2001 ele veio me fazer uma visita em Fortaleza. Ficou hospedado na minha casa. Depois fui visitá-lo em Campina Grande, onde recebi sua maravilhosa acolhida. Participamos juntos de um evento na UEPB, a convite do professor Rangel Júnior. Guardo do poeta quase toda a sua obra e diversas correspondências que trocamos ao longo desses anos. 

(Arievaldo Viana)

Foto publicada em 23/09/2005, no Diário da Borborema


A matéria que circula hoje num jornal da Paraíba diz o seguinte:


POETA MANOEL MONTEIRO ENCONTRADO 

MORTO EM HOTEL DE BELÉM-PA

Está confirmado, o corpo do poeta Manoel Monteiro, 77, que estava desaparecido desde o dia 30 de maio, foi encontrado num quarto de hotel, em Belém do Pará, neste sábado (7). Uma das filhas do poeta, Kátia estará viajando por volta das 21h de hoje para fazer o reconhecimento.

Segundo informações de Kátia Monteiro, ela recebeu uma ligação na tarde deste sábado e a recepcionista do Hotel conferiu com ela a documentação do poeta, com a qual ele deu entrada para se hospedar e, ficou confirmado que se tratava mesmo do poeta Manoel Monteiro.

Ainda conforme explicou Katia, a recepcionista lhe informou que o poeta chegou na última terça-feira (3), entrou no quarto e não saiu mais de lá. Até que os funcionários começaram a desconfiar e sentir um mal cheiro, foi quando resolveram entrar em contato com a Polícia.

Após entrarem no quarto, encontraram o poeta Manoel Monteiro sem vida. Kátia disse que nos últimos dias, seu pai vinha falando que já tinha vivido demais e que já tinha feito o que devia em vida.

Ela acrescentou que o poeta Manoel Monteiro se encontrava num quadro depressivo e que tinha muito medo de se tornar uma pessoa inválida e dependente dos familiares, portanto, resolveu sair de casa sem avisar a ninguém e viajou para a cidade de Belém do Pará, onde foi encontrado hoje.

"Nós vínhamos lhe dando o máximo de atenção porque víamos por sua conversa que ele estava triste. Ele estava sempre dizendo que já tinha feito o que tinha de fazer em vida e que não queria se tornar uma pessoa inválida, dependente dos filhos e acabou nos pregando essa surpresa desagradável e triste. Estarei viajando agora à noite com o coração destruído….", desabafou sua filha, Kátia.