terça-feira, 28 de junho de 2016

Quem a paca cara compra...

Capa do cordel PELEJA DE CEGO ADERALDO 
COM ZÉ PRETINHO DO TUCUM

ADERALDO, O MAIOR CANTADOR DE TODOS OS TEMPOS

Por Alberto Porfírio


No dia 30 de junho de 1967, o dia amanheceu nas ruas de Fortaleza com os jornais trazendo a seguinte manchete:

“MORREU O CEGO ADERALDO, O MAIOR CANTADOR DE TODOS OS TEMPOS”

Essa homenagem que tanto enaltece aquele poeta, causou celeuma nas reuniões de cantadores de todo o Nordeste brasileiro.

Eram poucos os profissionais da viola que não se mostraram contrários ao que, naquele dia, publicaram os jornais do Ceará em relação ao famoso cego cantador desaparecido. Eles achavam que isso não estava certo. Que o Cego Aderaldo não era merecedor daquela homenagem, quando existiam um Severino Pinto e outros, como os irmãos Batista Patriota e muitos que, como o Aderaldo, já haviam desaparecido e eram, também, estrelas de primeira grandeza.

Eu, por minha parte, não sei se com isso o povo do Ceará fez ou não justiça para com o célebre menestrel cearense.

Também quando foi morto em Sergipe, em 1938, o famigerado bandoleiro Virgulino Ferreira, semelhante manchete inundou toda a imprensa brasileira. O título de maior cangaceiro de todos os tempos, não queria dizer que o Lampião fosse invulnerável. E que nunca se tenha amofinado e corrido para se defender dos ataques e tiroteios de policiais de vários estados que o perseguiam.
O Cego Aderaldo eu conheci. E muito de perto. Tenho a honra de dizer que o acompanhei nos anos de seu apogeu como cantador e poeta.

(...)

Em 1933, quando vinha da romaria que fazia anualmente a Canindé, em Itapiúna, na Pensão da Quixabeira, encontrou-se com Ignácio Leite, cantador potiguar que o esperava. O próprio Aderaldo depois nos relatou:

“Encontrei um peso!... Vi-me em dificuldades ante aquele adversário que me esperava prevenido. Mas - dizia ele – falo sem exagero. Contei com oitenta por cento das palmas (aplausos) e saí como vencedor, quando eu não era melhor cantador do que ele!... Por que isso?”

E continuava:

“Geralmente o bom repentista é somente isso. E, sem que tenha boa voz e saiba fazer a entonação no instrumento que toca, o cantador nunca poderá agradar convenientemente ao seu público ouvinte.”

O cego tinha razão em seu argumento. Conhecemos grandes repentistas que não sabem tocar. E que usam o instrumento apenas para lhe estimular a verve poética. E dá-se que, em meio a calorosos debates, humilham-se diante do seu opositor pedindo-lhe para que a afine a viola.

O Cego Aderaldo quando moço, tinha uma voz forte e agradável e ainda tocava, regularmente, todos os instrumentos mais comuns em sua época. Aliás, a mais de duas dúzias de filhos adotivos ele ensinou a tocar desde o violino, instrumento em que se iniciara, passando por todos os instrumentos de cordas, até o clarinete, instrumento de sopro.
O gramofone com o seu disco, assim como o cinema, embora mudo, ele apresentava aos matutos. Sem falar da Literatura de Cordel, que era também vendida por ele aos sertanejos cooperando no aprendizado da leitura. Assim era o Aderaldo, uma espécie de missionário, pelo que lhe são merecidas todas as homenagens.

(...)

Leonardo Mota, Jacó Passarinho e Cego Aderaldo



 É, por exemplo, do cantador João Firmino, também cego, o seguinte martelo que conseguimos colher em Brasília, junto a amigos e conterrâneos que assistiram ao enterro do Cego Aderaldo no Cemitério São João Batista (no dia 30 de junho de 1967):

“Foi a forte aroeira que ruiu
A contato do gume do machado.
Foi o ferro melhor já fabricado
Que o mercado do mundo jamais viu;
Foi  o trem, sem destino, que partiu,
E ao longo da estrada deu o prego;
Como Homero, também, ele era cego
A quem todo o seu povo admirava...
Para ser o próprio Homero só faltava
Ao invés de cearense ser um grego!”

O cineasta Rosemberg Cariry fez documentário sobre a vida do Cego 
Aderaldo e entrevistou o mestre Ariano Suassuna.


O Cego Aderaldo foi um ‘assum preto’. O destino lhe furara os olhos para ouvi-lo cantar melhor e deleitar, por alguns tempos, os moradores desse Nordeste moído que se alimenta de cantos, sonhos e esperanças!

(...)


 In Alberto Porfírio -  “Poetas Populares e Cantadores do Ceará”, editora Horizonte, Brasília, 1978.



TRECHOS DA FAMOSA 

PELEJA DE CEGO ADERALDO 

COM ZÉ PRETINHO DO TUCUM, 

FOLHETO ATRIBUÍDO A FIRMINO TEIXEIRA DO AMARAL


Capa da peleja em quadrinhos



(...)


Afinemos o instrumento,
Entremos na discussão!
O meu guia disse a mim:
- O negro parece o Cão!
Tenha cuidado com ele,
Quando entrarem em questão!

Então eu disse: - Seu Zé,
Sei que o senhor tem ciência 
Me parece que é dotado
Da Divina Providência!
Vamos saudar este povo,
Com sua justa excelência!

PRETINHO:  Sai daí, cego amarelo,
Cor de couro de toucinho!
Um cego da tua marca
Chama-se abusa-vizinho 
Aonde eu botar os pés,
Cego não bota o focinho!

CEGO:  Já vi que seu Zé Pretinho
É um homem sem ação 
Como se maltrata o outro,
Sem haver alteração?!...
Eu pensava que o senhor
Tinha outra educação!

P -  Esse cego bruto, hoje,
Apanha que fica roxo!
Cara de pão de cruzado,
Testa de carneiro mocho 
Cego, tu és o bichinho,
Que comendo vira o cocho!

C -  Seu José, o seu cantar,
Merece ricos fulgores;
Merece ganhar na sala
Rosas e trovas de amores 
Mais tarde, as moças lhe dão
Bonitas palmas de flores!

P -  Cego, eu creio que tu és
Da raça do sapo-sunga!
Cego não adora a Deus 
O deus do cego é calunga!
Aonde os homens conversam,
O cego chega e resmunga!

C -  Zé Preto, não me aborreço
Com teu cantar tão ruim!
Um homem que canta sério
Não trabalha verso assim 
Tirando as faltas que tem,
Botando em cima de mim!

P  - Cala-te, cego ruim,
Cego aqui não faz figura!
Cego quando abre a boca,
É uma mentira pura 
O cego quanto mais mente,
Ainda mais sustenta e jura!

C  - Esse negro foi escravo,
Por isso é tão positivo!
Quer ser, na sala de branco,
Exagerado e altivo 
Negro da canela seca
Todo ele foi cativo!

P -  Eu te dou uma surra
De cipó de urtiga,
Te furo a barriga,
Mais tarde tu urra,
Hoje, o cego esturra,
Pedindo socorro 
Sai dizendo: Eu morro!
Meu Deus, que fadiga,
Por uma intriga
Eu de medo corro!

C  - Se eu der um tapa
Num negro de fama,
Ele come lama,
Dizendo que é papa!
Eu rompo-lhe o mapa,
Lhe rompo de espora;
O nego hoje chora,
Com febre e com íngua
Eu deixo-lhe a língua
Com um palmo de fora!

P  - No sertão, peguei
Cego malcriado 
Danei-lhe o machado,
Caiu, eu sangrei,
O couro eu tirei
Em regra de escala:
Espichei na sala,
Puxei para um beco,
E, depois dele seco,
Fiz mais de uma mala!

C  - Negro, és monturo,
Molambo rasgado,
Cachimbo apagado,
Recanto de muro,
Negro sem futuro,
Perna de tição,
Boca de porão,
Beiço de gamela
Venta de moela,
Moleque ladrão!

P - Vejo a coisa ruim 
O cego está danado!
Cante moderado,
Que não quero assim,
Olhe para mim,
Que sou verdadeiro,
Sou bom companheiro,
Canto sem maldade
E quero a metade,
Cego, do dinheiro!

C - Nem que o negro seque
A engolideira,
Peça a noite linteira
Que eu não lhe abeque 
Mas esse moleque
Hoje dá pinote!
Boca de bispote,
Vento de boeiro,
Tu queres dinheiro?
Eu te dou chicote!

P - Cante mais moderno,
Perfeito e bonito,
Como tenho escrito
Cá no meu caderno!
Sou seu subalterno,
Embora estranho 
Creio que apanho
E não dou um caldo...
Lhe peço, Aderaldo,
Que reparta o ganho!

C - Negro é raiz
Que apodreceu,
Casco de judeu!
Moleque infeliz,
Vai pra teu país,
Se não eu te surro,
Te dou até de murro,
Te tiro o regalo 
Cara de cavalo,
Cabeça de burro!

P - Fale de outro jeito,
Com melhor agrado 
Seja delicado,
Cante mais perfeito!
Olhe, eu não aceito
Tanto desespero!
Cantemos maneiro,
Com verso capaz 
Façamos a paz
E parto o dinheiro!

C - Negro careteiro,
Eu te rasgo a giba,
Cara de guariba,
Pajé feiticeiro!
Queres o dinheiro,
Barriga de angu?
Barba de quandu,
Camisa de saia,
Te deixo na praia,
Escovando urubu!

P -  Eu vou mudar de toada,
Pra uma que mete medo 
Nunca encontrei cantador
Que desmanchasse esse enredo:
É um dedo, é um dado, é um dia,
É um dia, é um dado, é um dedo!

C  - Zé Preto, esse teu enredo
Te serve de zombaria!
Tu hoje cegas de raiva
E o diabo será teu guia 
É um dia, é um dado, é um dedo,
É um dedo, é um dado, é um dia!

P - Cego, respondeste bem, 
Como quem fosse estudado!
Eu também, da minha parte,
Canto versos aprumado 
É um dado, é um dia, é um dedo,
É um dedo, é um dia, é um dado!

C  - Vamos lá, seu Zé Pretinho,
Porque eu já perdi o medo:
Sou bravo como um leão,
Sou forte como um penedo 
É um dedo, é um dado, é um dia,
É um dia, é um dado, é um dedo!

P - Cego, agora puxa uma
Das tuas belas toadas,
Para ver se essas moças
Dão algumas gargalhadas 
Quase todo povo ri,
Só as moças estão caladas!

C - Amigo José Pretinho,
Eu nem sei o que será
De você depois da luta 
Você vencido já está!
Quem a paca cara compra
Paca cara pagará!

P -  Cego, eu estou apertado,
Que só um pinto no ovo!
Estás cantando aprumado
Satisfazendo esse povo 
Mas esse tema da paca,
Por favor, diga de novo!

C - Disse uma vez,  digo dez 
No cantar não tenho pompa!
Presentemente não acho
Quem o meu mapa aqui rompa 
Paca cara pagará,
Quem a paca cara compra!

P  - Cego o teu peito é de aço 
Foi bom ferreiro que fez,
Pensei que o Cego não tinha
No verso tal rapidez!
Cego, se não for maçada,
Repita a paca outra vez!

C  - Arre! Com tanta maçada,
Deste preto capivara!
Não há quem cuspa pra cima,
Que não lhe caia na cara 
Quem a paca cara compra,
Pagará a paca cara!

P  - Demore, Cego Aderaldo,
Cantarei a paca já 
Tema assim só um borrego
No bico de um carcará!
Quem a caca cara compra
Ca-ca... cara cacará!

Houve um trovão de risadas
Pelo verso do Pretinho.
Capitão Duda lhe disse:
- Arreda pra lá, negrinho!
Vai descansar teu juízo,
Que o Cego canta sozinho!

Ficou vaiado o Pretinho,
E eu lhe disse: - Meu ouça,
José, quem canta comigo
Pega devagar na louça!
Agora o amigo entregue,
O anel de cada moça!

(...)


segunda-feira, 20 de junho de 2016

ARTES E OFÍCIOS DO SERTÃO


Vista panorâmica da comunidade Saco da Serra (Canindé-CE)

RELEMBRANDO O ANTÔNIO ÂNGELO 
(ANTÕE ANJO)
ARTESÃO E FERREIRO HABILIDOSO

Sandálias de couro, tipo quinaipe, produzidas por artesão nordestino


Serra do Peitão (Foto de Erasmo Sousa)

O ENCANTO DAS SERRAS
E uma curtição à moda antiga

Arievaldo Vianna


Por detrás daquela serra
Passa boi, passa boiada,
Também passa moreninha
Do cabelo cacheado.
(cantiga popular)

Dizem que as serras atraem as chuvas. Desde pequenino eu fiz essa constatação pois as chuvas que banhavam as terras de meu avô vinham sempre das bandas da Serra do Peitão (situada ao nascente) ou dos lados da Serra da Cacimba Nova (situada ao sul). As montanhas também são associadas à caças abundantes, clima mais ameno e nascedouro de fontes, rios e riachos. De modo que as serras me fascinavam e eu tinha uma enorme curiosidade para saber o que havia do outro lado daquelas cordilheiras. Que lugares existiriam depois do lado oculto? Quem os habitava, de que se ocupavam? Às vezes apareciam moradores do Saco da Serra, do Fundão, do Pitanguá e eu perguntava:

— Aonde fica isso?
Vovô apontava e dizia:
— Pros lados da Serra... Do outro lado da serra.

Aquilo aumentava ainda mais a minha curiosidade. No Saco da Serra morava um habilidoso ferreiro, mestre dos sete ofícios, que também curtia sola e trabalhava com ossos e chifres. Era o mestre Antônio Ângelo, grande amigo do meu avô, figura cujo andar se assemelhava ao Sassá Mutema, personagem vivido pelo ator Lima Duarte numa novela global dos anos 80. Visto de longe, o velho parecia um cangaceiro, com um chapéu de couro quebrado na testa e dois bornais de couro a tira-colo, cruzados no peito, sobre a roupa de mescla azul. Gostava de tomar uma bicada e à medida que cachaça surtia efeito, ficava mais falador, dizia chistes e arrematava com seu riso largo a encher toda a bodega. Mas não era inconveniente. Sabia se portar com dignidade, dentro dos limites do respeito e da camaradagem. “Antõe Anjo”, como todos o chamavam, fabricava foices, machados, chibancas, picaretas, dobradiças, armadores, mas sua especialidade eram as facas, para as quais fazia também o cabo e a bainha. Um artesanato de finíssimo acabamento, tudo produto de sua engenhosidade.

Quando vinha fazer compras na bodega do meu avô adquiria sempre uma ou duas latas de soda cáustica para curtir os couros e fabricar a sola de que precisava para confecção de bolsas, chinelos, bornais, patuás e bainhas. Ignoro com quem aprendera tais ofícios. Era um artesão dos mais finos, criativo e bastante curioso, vivendo num ambiente isolado e distante, onde as companhias deviam ser macacos, saguis, passarinhos, raposas e a Prazer. Já ia me esquecendo de informar que a sua companheira se chamava Maria dos Prazeres, mas todos a chamavam simplesmente de “Prazer”.
No meu imaginário de criança, a palavra CURTIR sempre esteve associada a esse curioso personagem. E, por conseguinte, lembro-me incontinenti das latas de soda cáustica da marca “Dragão” que ele comprava para fazer a curtição das peles. Tanto que me causou bastante estranheza quando ouvi um locutor da rádio Difusora Cristal de Quixeramobim dizer o seguinte:
— Caros ouvintes, agora vamos curtir o novo sucesso de Roberto Carlos!
Só me vinha à mente o sujeito mergulhando o LP do Rei, com capa e tudo, num tanque cheio de couros embebidos numa ‘golda’ de tanino e soda cáustica.


Três Irmãos - divisa de Canindé com Madalena

CURTIÇÃO À MODA ANTIGA

Depois que a rês é abatida, o couro é retirado cuidadosamente e espichado em varas até secar. O mesmo processo se repete com ovinos e caprinos e até mesmo com caças do mato, como o veado capoeiro, cujo couro é muito apreciado para o fabrico dos apetrechos do vaqueiro. Depois que o couro seca, retiram-se pelancas e restos de gordura com uma faquinha afiada. Após isso, mergulha-se num tanque com água, tanino e soda cáustica. Nesse processo milenar o artesão faz um curtimento artesanal, usando casca de angico, uma árvore nativa bastante encontrada na caatinga nordestina. A casca da planta é rica em tanino, componente responsável por tingir o couro e deixá-lo bem curtido. Para isso, a casca é quebrada ou triturada e misturada com a água. Durante esse processo, o artesão precisa proteger as mãos, para não sofrer cortes devido a acidez da mistura.

Artefatos de couro - foto TV Morena


Às vezes, o couro fica de molho no angico por uma semana. A soda cáustica ajuda a acelerar esse processo, provocando a queda dos pelos, mas o que dá a cor avermelhada e a maciez é o tanino retirado da casca do angico. Antônio Ângelo, comentando esse processo, dizia ser necessário mexer algumas vezes para o couro não ficar manchado. Depois de uma semana, a sola fica tingida de um tom bem avermelhado. Então, a peça seca na sombra, para não ressecar, e é sovada, etapa necessária para amaciá-la.
Diferentemente de outros meninos da minha idade, eu acompanhava essas conversas com grande interesse, fazendo perguntas um tanto esparçadas e bem suscintas, pois meu avô não gostava de criança se intrometendo na conversa dos adultos. Creio que vem, desde esse tempo, a minha vocação para repórter e escritor.

CRIME AMBIENTAL?

Como já era de se esperar, ambientalistas, professores universitários, defensores do eco-sistema e do bioma da caatinga já começaram a se manifestar e publicar teses contra a extração da casca do angico e outras árvores taníferas da nossa Região. Segundo dizem, “a utilização de cascas de árvores taníferas, prática comum em curtumes tradicionais, compromete a fisiologia da planta quando a casca é retirada de forma anelar, pois impede o fluxo da seiva na árvore, levando-a a morte. O manejo sustentado de plantas taníferas precisa ser realizado de forma que sejam adotadas algumas estratégias para conservação dos recursos pelas comunidades. Iniciativas como extração de tanino das folhas poderiam ser muito menos impactantes nessas populações, já que se observam, em algumas espécies, diferenças não significativas entre os teores de tanino nas cascas e nas folhas. Esses mesmo autores, no entanto, lembram que a coleta preferencial das cascas deve-se a disponibilidade das mesmas durante todo ano, na região semiárida, ao contrário das folhas.” [1]
Que eu saiba o velho Antônio Ângelo não andava depredando a flora nativa do Saco da Serra, Pau D’Arcal e Três Irmãos. Ele sabia retirar parte da casca, sem comprometer a sobrevivência da árvore, que tem capacidade de recomposição. Tanto é que ainda existem vários pés de angico naquela região. Analfabeto e liberto da influência desses doutores das universidades o velho curtidor sabia, por instinto herdado de seus ancestrais afros e indígenas, conviver harmonicamente com a natureza extraindo o que era necessário sem depredar o meio-ambiente.
No meu modo de entender, o desaparecimento desses labores sertanejos é tão preocupante quanto às possíveis agressões ambientais que eles podem desencadear. Acho que as universidades deveriam se preocupar, também, com o registro e a preservação destes ofícios milenares que estão desaparecendo, um a um, vítimas do acelerado processo de industrialização que atinge até mesmo os recantos mais distantes do nosso Sertão.

Cascas de Angico


[1] Fonte: http://www.diadecampo.com.br/zpublisher/materias/Materia.asp?id=31140&secao=Artigos%20Especiais (Data de acesso: 15 de junho de 2016).


Do "LIVRO DAS CRÔNICAS - VOLUME II DE MEMÓRIAS"

sexta-feira, 17 de junho de 2016

REVISTA GENTE DE AÇÃO


Clique na imagem para ampliar. Artigo de BARROS ALVES
na revista GENTE DE AÇÃO, do poeta Dideus Sales.



quinta-feira, 16 de junho de 2016

quarta-feira, 15 de junho de 2016

ÁLBUM DE FORTALEZA É REEDITADO


Fundação Waldemar Alcântara reedita o ÁLBUM DE FORTALEZA, publicação de 1931

Foi lançada nesta terça-feira (14/6) a obra “Álbum de Fortaleza”, publicada originalmente em 1931. O evento de lançamento aconteceu  a partir das  19 horas, no Palace Bistrô (Prédio da Associação Comercial do Ceará - Rua Major Facundo, 30 – Centro), sob a coordenação do presidente da Fundação Waldemar Alcântara (FWA), Lúcio Alcântara.
O texto introdutório à obra “Álbum de Fortaleza” é de autoria de José Liberal de Castro, arquiteto, professor emérito da Universidade Federal do Ceará (UFC), membro da comissão de instalação didático-administrativa da Escola de Arquitetura/UFC e um dos pioneiros na adoção dos princípios da arquitetura moderna em Fortaleza.
“Na época, novas técnicas, a serviço do conforto, e novas concepções estéticas modificavam a escala e a aparência dos conjuntos urbanos, impulsionando vaidades e instigando em seus habitantes desejos de difundir as conquistas locais em amplitude nacional. Por tais motivos, à medida que a República Velha se desmoronava, particular interesse começaram a despertar os álbuns dedicados a cidades brasileiras, entusiasmadas com as perspectivas recentes e desvanecidas com a divulgação de suas imagens urbanas em transmutação, derramadas em áreas vastas e traduzidas por formas arquitetônicas festivas.” – Professor Liberal de Castro.



Sobre o Álbum

O Álbum de Fortaleza, colocado à venda em novembro de 1931, é um inventário cuidadoso da capital cearense. Estão no Álbum, enumerados e fotografados, fábricas, estabelecimentos comerciais, escritórios de profissionais liberais, bancos, jornais, cinemas, artistas, personalidades do governo, e da sociedade da época, além de anúncios publicitários e artigos elucidativos sobre economia local.
Organizado por Paulo Bezerra, teve como colaboradores Jorge Raupp, desenhista autor da capa em cores, Meton de Alencar Gadelha (Meton Gadelha), em cuja tipografia (Tipografia Gadelha) se realizaram os trabalhos de impressão (adquirida posteriormente pelo Governo do Estado foi transformada na Imprensa Oficial). Era carioca nascido no Botafogo. Morreu no Rio de Janeiro, em 7/11/1982; Manuel Guilherme, conhecido por M. Guilherme, desenhista que ilustrou as páginas do álbum; e João Ribeiro Pessoa (J. Ribeiro), fotógrafo cearense de projeção mundial, por muitos anos teve, na Praça do Ferreira, a Foto Ribeiro – autor dos retratos constantes na obra.
A reedição do Álbum de Fortaleza integra o projeto editorial da Fundação: a BIBLIOTECA BÁSICA CEARENSE, composta por obras em formato fac-similar já esgotadas, que constituem fontes de pesquisa para a história do Ceará, preservando seu formato e conteúdo originais.




FONTE: Diário do Nordeste, coluna do Roberto Moreira.


segunda-feira, 13 de junho de 2016

SANTO ANTÔNIO

NA LITERATURA DE CORDEL





Hoje, dia 13 de junho, dia consagrado a Santo Antônio, resolvemos resgatar mais um cordel onde o Taumaturgo Português aparece como personagem central. Este folheto, atribuído a João Martins de Athayde, nesta edição cuja capa está retratada acima, vem a ser, na verdade de Antônio Ferreira da Cruz conforme atesta Leonardo Mota* e outros pesquisadores mais antigos. A obra do poeta Antônio da Cruz está praticamente esquecida porque muitos de seus folhetos foram publicados em Guarabira-PB, por Pedro Baptista e tiveram somente uma única edição. Daí que pouco se sabe sobre este vate sertanejo e menos ainda sobre a sua obra. É mais que oportuno o resgate desse folheto que apesar do sabor de ingenuidade, próprio do catolicismo arcaico do sertão nordestino, traz uma mensagem positiva no final.

Amava a sua mulher
E muito bem lhe queria
Principalmente ao filho
Que beijava todo dia
Também estimava muito
Um ‘quartau’ que possuía.

Amava sua mulher
E a seu filhinho inocente
E também a seu cavalo
Por achar muito decente
Pediu a Deus que seus trastes
Ficassem para semente.

Um dia estava dormindo
Quando despertou em sonho
Então uma voz lhe disse:
- Não é arte do demônio
Pra seus trastes não morrerem
Vai adorar Santo Antonio.

(...)

Quando foi no outro dia
Fizeram invocação
Trazendo aquele santo
Contrito no coração
Daquele dia em diante
Começaram a devoação.

Adoravam a Santo Antônio
Com toda força que tinha
Rezavam o padre-nosso
Também a Salve Rainha
Com muita jaculatória
Rezavam a ladainha.

Um dia estava dormindo
Acordou sobressaltado
Quando chegou na cocheira
Tava o cavalo laçado
Com a corda no pescoço
Tinha morrido enforcado.

Ele acordou a mulher
Lhe disse o que se passou
- Senhora, neste flagrante
Meu cavalo se enforcou
Pelo jeito que estou vendo
Santo Antônio me enganou.