sexta-feira, 30 de novembro de 2018

CONTO DE BRUNO PAULINO




“Jô Soares e o puxador de riquixá”

Por Bruno Paulino

Jô Soares é atualmente um dos mais populares artistas do Brasil tanto no teatro como na televisão. Tenho recordações que no seu extinto programa de entrevistas no fim da noite – O Programa do Jô – com seu fino humor, vez ou outra o humorista fazia uma piada com Quixeramobim. Isso nunca me incomodou, ficava até orgulhoso de ver minha cidadezinha do interior do Ceará ser citada na televisão mesmo que de forma jocosa.

Recentemente Jô Soares lançou o primeiro volume de sua autobiografia “desautorizada”, O Livro de Jô. De agradável leitura narra casos e episódios de sua vida, e conta uma história engraçada que muito me chamou a atenção. Eis o caso:

Um tio seu, médico, Dr. Pedro Eugênio Soares, se formou no Rio de Janeiro e fez carreira diplomática. E em 1926, aceitou uma missão para um lugar remotíssimo, que as pessoas conheciam muito pouco, a embaixada brasileira em Pequim. Um dia na capital chinesa Dr. Pedro Eugênio – o tio de Jô Soares – pegou um riquixá, conta. Com o insuportável e intenso calor chinês não resistiu e soltou um palavrão em português. Então, para sua surpresa, o cara que estava puxando o riquixá olhou para trás e perguntou:

– Brasileiro?
– Sim – respondeu o tio de Jô Soares.
– E você de onde é? Emendou a pergunta.
– Sou Cearense de Quixeramobim. Isso aqui tá muito melhor! Respondeu satisfeito o puxador de riquixá.

Jô Soares termina de contar o causo se perguntando como um cearense foi parar na China naquela época e que tipo de vida levava em Quixeramobim para achar que puxar um riquixá para chineses fosse o paraíso comparado a viver na cidade?

Enfim, depois da reflexão de Jô Soares confesso que fiquei me perguntando se nos dias de hoje é, de fato, bom morar em Quixeramobim ou seria melhor puxar um riquixá para chinês?

p.s: O riquixá é um meio de transporte de tração humana em que uma pessoa puxa uma carroça que pode transportar até duas pessoas.

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Bruno Paulino é cronista e aprendiz de poeta

quarta-feira, 21 de novembro de 2018

PEQUENOS ASSOMBROS




Novo livro do escritor Bruno Paulino é destaque

no CADERNO VERSOS do DN

Por Diego Barbosa



“Pequenos assombros” reúne dez contos ambientados no sertão com temática sobrenatural

O misticismo de um sertão sobrenatural invadiu o Centro Educacional Sesc Ler na noite da última terça-feira (20/11), em Quixeramobim, durante o evento Bazar das Letras. É lá que acontecerá o lançamento do livro “Pequenos assombros”, do escritor e professor Bruno Paulino, a partir das 20h. A obra, publicada pela Luazul Edições, prima por um recorte sombrio, recuperando ambientações e figuras do imaginário popular presentes nas histórias de terror que crescemos escutando.
Por sinal, os detalhes de frontal diálogo com o lúgubre já aparecem na capa do exemplar, assinada pelo poeta Arievaldo Vianna. À luz de um candeeiro, se sobressai o breu, a engolir nossos medos e angústias perante o desconhecido. Conforme justifica o autor, “sempre ouvi muitas histórias de Trancoso, de visagens… Sempre fui um menino antigo nesse sentido”.
“Era um sentimento curioso o de ouvir, sobretudo meu avô Luís, contar essas histórias, pois eu morria de medo, mas sempre ficava atento quando ele começava a contar alguma história de alma e ia dormir depois rezando a Deus que me livrasse de encontrar uma visagem pelas veredas”, completa. A influência do avô foi tão grande que Bruno dedicou o livro a ele, inclusive, contando ainda com prefácio de Carlos Vazconcelos e posfácio do poeta Léo Prudêncio.
As referências do escritor, contudo, ultrapassam os laços de família. Nomes como Stephen King, Edgar Allan Poe e HP Lovecraft exercem grande peso sobre a carreira de Bruno, entusiasta das narrativas bem contadas, o que esclarece o investimento, neste novo trabalho, em personagens como lobisomens e fantasmas, personagens canônicos ligados ao horror.
Indagado sobre o porquê de se debruçar sobre essas figuras na obra, o autor é enfático: “Acho que o filão artístico dessas histórias não está esgotado e penso que o diferencial do livro se dá justamente no modo de contar. Como sou um escritor de meu tempo, também sou fruto de outras referências da literatura do terror mais contemporâneo e, por vezes, até da cultura pop. Isso transparece numa proposta de misturar o moderno com o arcaico”.



O sobrenatural toma conta da nova empreitada literária de Bruno Paulino Foto: Tarcísio Filho


Registro oral

O processo de compor a obra bebeu do desejo de não apenas recuperar memórias da infância como de também valorizar o registro oral. Enquanto escrevia o livro, Bruno conta que se sentiu como se fizesse uma espécie de “transcrição” das narrativas do povo, levando em conta a consciência que também não era um mero escrever. “Como dizem, quem conta um conto aumenta um ponto”, brinca o autor.
Já quanto à percepção que alimenta sobre o recorte literário na seara do horror nesses tempos que vivemos, ele diz que o nome que mais se destaca nesse aspecto, no Brasil, é André Vianco, com trabalho voltado para vampiros. “Mas, me prendo mais no que toca ao fantástico regionalista, algo que na literatura cearense ainda é bastante explorado, sobretudo no conto, que tem uma tradição consolidada”.
Nesse sentido, a cada virar de páginas é perceptível o esforço de Bruno em deixar com que tudo fique muito próximo do cenário sertanejo, com descrição de residências arcaicas e vilarejos sinistros, por exemplo. Tudo ganhando nova roupagem a partir de uma linguagem fluida e objetiva, em que o sinistro toma conta a partir de sugestões sutis. Feito louvável, que traduz o talento do autor ao construir, em poucas linhas, atmosferas de pavor, e suscitar boas lembranças nos leitores quanto às narrativas clássicas de horror.
“Já lancei o livro em Fortaleza, na I Feira de Literatura Cearense, e também em outras cidades do Ceará com uma boa receptividade do público, que me devolveu com algumas boas resenhas. Curiosamente, o único lugar que não tinha lançado ainda era na minha cidade, Quixeramobim”. Bem, chegou a hora. “Pequenos assombros”, aos poucos, vai ganhando o mundo.



Serviço
Valor do livro: R$ 30 (disponível para compra com o autor).
Contato: (88) 3441-1402.

FONTE: Diário do Nordeste:

domingo, 4 de novembro de 2018

CORDEL DE LUTO




Cordelista “Raimundo Santa Helena” morre aos 92 anos

O poeta possui uma significativa variedade temática em sua obra poética

Morreu neste sábado (03) no Rio de Janeiro, o poeta popular Raimundo Luiz do Nascimento, mais conhecido como “Raimundo Santa Helena ou apenas Santa Helena”. Ele, nasceu em 06 de abril de 1926, “em um trole rodando à vara”. Auto-intitula-se “Paraibense”, pois sempre diz que “sua cabeça nasceu na Paraíba e o restante do corpo nasceu no Ceará”.




Sertanejo

O cordelista Raimundo Santa Helena era filho do Delegado Raimundo Luiz, que segundo a História foi assassinado por Lampião. E o poeta atuou por muitos anos na Feira de São Cristóvão no Rio de Janeiro. Inclusive temos muitos cordéis dele em nossa biblioteca que tem o nome de seu pai. O poeta veio a Santa Helena na década de 90 paraninfar uma turma de 3° ano pedagógico da Escola Municipal Padre José de Anchieta, a convite da turma, orientados pela professora Rosangela Tavares Dantas de Souza.

A maior parte de seus folhetos traz trechos autobiográficos, reforçando a construção de uma imagem de si constituída através de uma trajetória de vida bastante peculiar, que tem como ponto de partida a morte de seu pai pelo cangaceiro Lampião, durante uma invasão do bando no sertão de Cajazeiras, na Paraíba, em 9 de junho de 1927.

Em função deste fatídico dia, Santa Helena, aos 11 anos, fugiu de casa com um canivete na mão para vingar a morte do pai. Foi parar em Fortaleza e, acolhido por uma professora, estudou, trabalhou e acabou entrando para a Escola de Aprendizes de Marinheiros do Ceará. Na Marinha, participou da Segunda Guerra e estudou nos Estados Unidos, o que o ajudou na composição de cordéis bilíngues, como o “Brazilian Amazônia”, publicado na ocasião da ECO-92.

Seu primeiro cordel foi declamado a bordo do navio “Bracuí”, em 1945, após o anúncio do final da segunda grande guerra. Em 1984, lançou o folheto Mãos à obra nas escolas, cuja tiragem de 500 mil exemplares foi distribuída em diversas escolas. Dentre os seus folhetos mais importantes, destacamos ainda os cordéis Malvinas, Guerra de Canudos, Massacre dos Ianomâmis, Cruzado Furado, Desastre aéreo na TV, Nicarágua em dez línguas e o cordel para crianças O menino que viajou num cometa. Dentre os últimos lançamentos publicados, destacamos os cordéis intitulados Rio-2012 – Olimpíada, Transplantes e Passageiros da paz, lançados ao vivo pela TVE e em pleno ar num avião sobre o oceano Atlântico.

O poeta possui uma significativa variedade temática em sua obra poética, que vai desde o cangaço, passando por biografias de pessoas importantes – como as dos ex-presidentes Tancredo Neves e Getúlio Vargas – a temas ligados à educação sexual e à saúde de um modo geral. No entanto, a sua predileção temática e mais recorrente está relacionada à informação divulgada pela mídia, seja impressa, radiofônica ou televisiva.

Para se manter atualizado e garantir a credibilidade das informações que costuma divulgar, o poeta acessa pelo menos três notícias publicadas em meios diferentes; seleciona as que coincidem, a fim de garantir a ‘veracidade dos fatos’; e constrói o poema, imprimindo sempre a sua opinião pessoal acerca do acontecimento midiático selecionado. Para elaborar seus “cordéis midiatizados”, o poeta utiliza colagens a partir de matérias de jornais, fotos e documentos pessoais, ocupando todo o espaço em branco de seus folhetos, garantindo, assim, uma boa dose de originalidade em sua produção.

Referências bibliográficas
▪ SANTA HELENA, Raimundo. Plataforma de um poeta de cordel imortável. Folheto 261, Rio de Janeiro, 25/07/1988.
▪ Seleção feita por Braulio Tavares no livro: SANTA HELENA, Raimundo. Introdução e seleção feita por Braulio Tavares. São Paulo: Hedra, 2003. Biblioteca de cordel.
▪ SANTA HELENA, Raimundo. O menino que viajou num cometa. Rio de Janeiro: Entrelinhas, 2003.
▪ SANTA HELENA, Raimundo. Um marinheiro na esquina do mundo – de grumete a tenente. (Em fase de elaboração).

FONTE: Diário do Sertão
https://www.diariodosertao.com.br/noticias/cidades/285441/tristeza-cordelista-raimundo-santa-helena-morre-aos-92-anos.html?fbclid=IwAR09gTjTV6GaBxhTIOskmxeEfivplEDAPEl4fVmbx7s8NAHTNYMgy6JxrBY

quinta-feira, 1 de novembro de 2018

DOCE DE LATRA




COMIDA ESTRANGEIRA

Em suas andanças sertão afora, proferindo palestras e recolhendo matéria prima para seus livros, o folclorista cearense Leonardo Mota chegou a uma cidade sertaneja de médio porte, servida por linha férrea, e tratou de se hospedar numa pensão que tivesse além da dormida uma mesa farta. À hora do almoço sentou-se perto dele um matuto, pequeno fazendeiro da região. A dona da pensão trouxe, para agradá-lo, dentre outras comidas uma travessa de macarrão. Leota virou-se para o matuto, que se empanturrava de feijão com arroz e uns pedaços de galinha e indagou:

- O senhor é servido?

- Ah... Cuma?

- O senhor quer servir-se de macarrão?

Ao que o velho sertanejo respondeu prontamente:

- Inhor não, dotô! Dessas comidas estrangeiras eu só gosto de doce de latra!

(Adaptação de uma anedota do livro SERTÃO ALEGRE)