Crédito da foto: blog CORDÉIS HERDADOS DO MEU AVÔ
O PAÍS É UMA ROSEIRA
Autor: Antônio Marinho
O País é uma roseira,
A pobreza é a raiz;
No trabalho é a primeira
Na sorte a mais infeliz...
A haste, a escadaria
Por onde a aristocracia
Sobe os degraus a vontade;
Deputados, senadores,
Desta roseira são flores
Sem responsabilidade
A raiz desta roseira
Está no estrume enterrada;
Ali passa a vida inteira
Do mundo não goza nada;
As rosas estão em cima,
Arejadas pelo clima,
Cada qual quer ser mais bela
Mais garbosa, mais feliz,
Esquecidas da raiz
Que vivem à custa dela
Espinhos por guarnição
Ainda a roseira tem;
Eis os soldados que são
Guardas dos grandes também;
Negam ao pobre o que é propício,
Sujeito ao sacrifício,
Cumpridor do seu dever
Mas, por não ter ideal,
Termina no lamaçal
Uma vida sem viver...
Em seu silêncio profundo,
O pobre é quem está de pé;
Passando a vida no mundo
Sem saber o mundo onde é.
Lá solitário, sozinho,
Foi a base do caminho
Por onde o grande passou,
Esquecido, em bom lugar,
Em cima, sem perguntar
Quem para ali o levou.
Os votos da populaça,
O candidato a rogar...
A rosa esmola, por graça,
Água para não murchar;
Porém depois de votados
São para cima levados,
Ali ficam como quem
Subiu passo a passo, a esmo,
Conduzidos por si mesmo
Não devem nada a ninguém.
Proprietários da sede
Os grandes quando não são,
Estão como a rosa que pede
Água pra vegetação;
Depois de bem irrigada,
De flores bem enfeitada,
Deu-lhe o inverno a ação;
Adorna num apogeu,
Esquece de quem lhe deu,
Água quando era verão.
Fonte: Sarno, Geraldo – Cadernos do Sertão, NAU, 2006 – página 163
BIOGRAFIA DO POETA
Poeta popular,
repentista, Antônio Marinho do Nascimento nasceu a 05 de abril de 1887, no
município de São José do Egito, sertão de Pernambuco, e morreu na mesma cidade,
a 29 de setembro de 1940. Permaneceu praticamente toda a vida com residência
fixa em sua terra natal, mas viajou o Nordeste inteiro fazendo cantorias.
A maioria dos seus
versos não foram registrados, ficaram na memória do povo. Tinha como
características principais as respostas cômicas a seus contedores e espantosa
rapidez no improviso. No final da década de 1930, ao retornar de uma viagem,
participa de uma cantoria com um antigo parceiro e este indaga como fora a andança.
Antônio Marinho
responde: "Eu só fui a Espinharas/Porque a precisão obriga/Mas fui com
muita saudade/Daquela nossa cantiga/Minha saudade era tanta..." Neste
instante, Marinho foi obrigado a tossir, porque estava com bronquite. Tossiu e
concluiu: "...Que a tosse não quer que eu diga." O poeta era
conhecido como a "Águia do Sertão".
Crédito da foto: http://cordeisherdadosdomeuavo.blogspot.com.br/
Profeta-Poeta...
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