Projeto do
escritor Arievaldo Viana encanta
alunos do Norte ao Sudeste do Brasil
Por: Pedro Paulo Paulino*
A Literatura de Cordel está reconquistando seu espaço nos mais
diversos setores, com visibilidade na mídia e reconhecimento nacional e até
internacional. O sucesso que esse gênero de literatura popular está atingindo
deve-se principalmente a um movimento de ressuscitação do Cordel empreendido
por artistas talentosos e dedicados que não medem esforços para mostrar ao
público o valor da arte nordestina. Percebendo que a poesia popular tem uma
densidade muito forte, não só em sua vasta temática mas como tradutora e
guardiã fiel da nossa cultura, o cordelista Arievaldo Viana Lima foi um dos
pioneiros a levantar a bandeira de reabilitação do Cordel que a cada dia se
torna mais à mostra na simpatia do público.
O seu trabalho mais recente introduz o Cordel em um setor bem
especial: a educação. Segundo Ari, no passado os estudantes da zona rural
tinham contato com a leitura unicamente através dos folhetos comprados nas
feiras das pequenas cidades. “Minhas primeiras leituras foram os ‘versos’ que
eu lia para mim e para uma platéia que vibrava com as histórias de amor, de
bravura, de gracejo, dos melhores autores, como Leandro Gomes de Barros, João Martins
de Athayde, José Pacheco e muitos outros”, diz Arievaldo, referindo-se à sua
infância na Fazendo Ouro Preto, em Quixeramobim, Ceará.
Partindo dessa constatação, ele caiu em campo e produziu agora um dos
melhores trabalhos didádicos sobre o tema, o livro “Acorda Cordel na Sala de
Aula”, publicado em parceria pelas editoras Tupynanquim e Queima Bucha, lançado
no dia 05 de maio no espaço da livraria Livro Técnico, no Centro Dragão do Mar
de Fortaleza. O trabalho, segundo o autor, está direcionado especialmente aos
estudantes, e pode ser utilizado como ferramenta paradidática na alfabetização
de crianças, jovens e adultos, pois traz explicações claras a respeito das
técnicas do Cordel, versificação, rima, métrica, estrofes, modalidades, origens
do Cordel e exercícios e atividades escolares baseados nessa literatura. A
obra, ricamente ilustrada com reprodução de capas dos folhetos e xilogravuras
dos melhores mestres, traz também biografia e antologia dos autores mais
consagrados do gênero. “As experiências obtidas em cidades como Campina
Grande-PB, Palmas-TO e Canindé-CE nos autorizam a afirmar que a receptividade
entre os alunos é excelente, sobretudo em atividades como leitura em grupo e
elaboração de novos folhetos entre os próprios estudantes”, explica. O livro
acompanha ainda uma caixa contendo 12 folhetos de vários autores, inclusive
canindeenses como Gonzaga Vieira e o próprio Arievaldo.
O autor informa que em
Londrina-PR, o Cordel está sendo trabalhado há mais de um ano pela profª. Bruna
Scrivanti e na cidade de Palmas-TO, vem tendo grande destaque graças ao prof.
Milton Félix, que participou de oficina realizada em setembro do ano passado,
naquela capital. O projeto ACORDA CORDEL já foi destaque na imprensa nacional,
com reportagens nas revistas Época e Palavra. Ainda este mês, segundo Ari, a
revista Nossa História deverá trazer uma matéria sobre o Projeto Acorda Cordel.
O próximo lançamento do livro será no dia 09 de junho em Mossoró-RN, a convite
da Sociedade Brasileira de Estudo do Cangaço (SBEC).
Zé Maria de Fortaleza, Mestre Azulão, Arievaldo Vianna e Geraldo Amâncio
O BE-A-BÁ VERDADEIRO
Uma avaliação recente do Ministério da Educação e Cultura (MEC), sobre
as metodologias de ensino adotadas nas escolas, chegou a uma conclusão: é
preciso mudar. Atualmente, mais de 60% das escolas em várias partes do mundo,
inclusive no Brasil, usa o método construtivista, criado pelo suíço Jean
Piaget, no qual o professor mostra à criança um livro e a faz interessar-se
pela história por meio de imagens. Ela é incentivada, inclusive, a adivinhar o
enredo. Já pelo método fônico, o professor ensina o som de uma letra (B) e suas
variações silábicas (BA, BE, BI, BO,BU). Pois agora o MEC reconhece que este é
o método mais eficaz na alfabetização. Ora, através do método fônico um
sem-número de gerações, inclusive a minha, alfabetizou-se, principalmente nas
escolas informais da zona rural, pelas mãos da dedicada “professorinha que
ensinou o bê-a-bá”, como disse Ataulfo Alves. E não resta dúvida que a
alfabetização por meio desse método, além de direta, fixa muito mais a eufonia
das palavras no ouvido do aluno, abrevia o aprendizado da leitura e ajuda a
melhorar a ortografia, tão sofrível nos dias de hoje. Em nossas séries
iniciais, numa dessas escolinhas domésticas do interior, aprendi, assim como o
poeta Arievaldo, a ler e a escrever ouvindo e acompanhando a nossa mestra na
soletração das palavras. Até mesmo uma cultura gráfica era desenvolvida naquele
tipo de escola, pois se aprendia a rigor a desenhar cada letra - a mão da
professora segurando a mão do aluno. Resultado era uma caligrafia artisticamente
clara. Também meus primeiros livros foram os folhetos de Cordel, que os lia
cheio de encantamento e expectativa. O Cordel estva atrelado à minha rotina
escolar na infância. Era interessante, empolgava, remetia a temas épicos ou
presentes no meu habitat. Era uma extensão da nossa cartilha. E talvez não é à
toa que o seu formato padrão é o mesma da antiga Carta de ABC e da Tabuada na
qual se aprendia aritmética e rudimentos da matemática. O escritor Arievaldo
Viana teve um desses raros lampejos de inspiração ao conceber o Projeto Acorda
Cordel na Sala de Aula. Seu trabalho é tão substancial e atraente que à
primeira vista prende a atenção e o interesse do leitor, especialmente do
aluno. Não pude esconder o contentamento quando chegou às minhas mãos o
exemplar do seu livro Acorda Cordel. Ao mesmo tempo, senti um profundo pesar
íntimo, pois gostaria de ter recebido o seu belo livro na minha infância,
quando aluno da minha primeira professora, Susana Viana, na Escolinha
Particular de Vila Campos (Canindé-CE).
* Pedro Paulo Paulino,
cearense de Canindé, é jornalista e poeta
popular. (Artigo publicado no Jornal DE MÃO EM MÃO, edição nº 100)
Fonte: www.acordacordel.blogspot.com.br
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