sexta-feira, 10 de janeiro de 2014

O VAQUEIRO CHICO VIANA E O EINSTEIN DO CEARÁ

Francisco de Assis Viana e Geracina Lobo, meus bisavós

Eu tive dois bisavós com o nome de Francisco de Assis, o padroeiro de Canindé, de quem meus ancestrais eram devotos fervorosos. O primeiro Francisco já foi apresentado neste blog... Trata-se de Francisco de Assis e Sousa, que tinha o apelido de Fitico. O segundo Francisco de Assis tinha a alcunha de "Pai Chico" e foi patriarca de uma prole numerosíssima. Era filho de Miguel Martins Viana e Francisca de Sousa Mello (Mãe Sousa), irmã do citado Fitico. Revendo uma antiga foto do Chico Viana, ao lado de sua esposa Geracina Lobo e duas filhas, percebe-se que eram pessoas bonitas e elegantes, apesar de viverem no meio rural. Meu bisavô era vaqueiro. E essa história de "Einstein do Ceará", o que seria? É o que vamos saber, no decorrer da leitura desse texto a seguir.

Eis alguns apontamentos que consegui reunir sobre esse ancestral:


Francisco de Assis Viana e Geracina Lobo Viana


Francisco de Assis Sousa Viana, o Pai Chico, avô paterno de minha mãe, era filho de Miguel Martins Viana e de Mãe Sousa. Casou-se com Geracina Lobo Viana, filha de José Martins Viana e Luzia Geracina de Sousa Lobo, casal procedente de Santa Quitéria, no dia 15 de julho de 1906, na capela de Belém (Itatira). Essa Luzia Geracina era irmã do escritor João Miguel da Fonseca Lobo, considerado o “Einstein do Ceará”, por haver publicado obra pioneira com especulações sobre a Teoria da Relatividade, no ano de 1907. José Martins era irmão de Miguel Martins Viana e Luzia foi professora primária em Belém do Machado, atual Itatira, que até a década de 1940 do século passado pertencia ao território de Quixeramobim. É provável que tenha vindo para Belém na companhia de seu irmão João Miguel da Fonseca Lobo, que negociou com tecidos na Serra do Machado na década de 1850, quando tinha apenas 12 anos de idade, segundo nos informa o Barão de Studart. Durante a terrível seca de 1877-79 seguiu para a Amazônia atraído pela exploração dos seringais e ali fez fortuna, retornando definitivamente 15 anos depois.
Casamento católico de Francisco e Geracina, na capela de Belém do Machado. 
Registrado no livro da Paróquia de Canindé-CE pelo vigário Frei Mathias de Ponterânica.
CLIQUE NA IMAGEM PARA AMPLIAR!

Para quem não conseguiu decifrar o manuscrito eis a sua transcrição integral: "Aos quinze dias do mês de julho do ano de mil novecentos e seis, na capela de Belém, nesta Paróquia de São Francisco de Assis de Canindé, na presença do Reverendíssimo Frei Marcelino, comparareceram para se receberem por marido e mulher Francisco de Assis Viana e Geracina de Sousa Viana, já se achando dispensados de impedimento de consanguinidade em segundo grau colateral e igual, lhes foram dadas as bênçãos nupciais de conformidade com o rito da Santa Madre Igreja Romana, na presença das testemunhas Esmerino Alfonso Lobo e Antônio Maciel de Araújo. E para constar mandei fazer este assento que assino, o Vigário Frei Mathias."

Chico Viana faleceu em 19 de março de 1965. Francisca Geracina Lobo Viana, nascida em 1883, faleceu no dia 16 de janeiro de 1969. Os Vianas vieram de Sobral e Santa Quitéria para Serra do Machado e depois para o Castro e a Cacimbinha. Parece que uma leva anterior já havia chegado na região, esquivando-se do recrutamento de “voluntários” para a Guerra do Paraguai.
As pessoas que conheceram o Chico Viana descrevem-no como um sujeito brincalhão, alegre, expansivo e de conversa agradável. Inicialmente morou no Castro, numa casa próxima a de seus pais (ou seria a mesma?) – depois mudou-se para o município de Capistrano de Abreu, onde foi vaqueiro do coronel Chico Nunes, pai de José Walter Cavalcanti, ex-prefeito de Fortaleza, que hoje dá nome a um populoso bairro de nossa capital. Por volta de 1950 retornou para o meio de sua parentela, indo residir na Várzea Grande. Eis a descendência do casal:

1 – Raimundo de Assis (Lobo) Viana – c.c Preta Maciel
2 – José (Dedé) – c.c Lourdes Guerra / e depois com Raimundinha (mãe do Zé Milton)
3 – Almerinda Lobo Viana – c.c Raimundo Chagas – Pais do Galileu Chagas Viana
4 – Mariquinha – c.c Aristóteles Maciel
5 – Neomísia (Dodó) – c.c José Sousa Viana (Tio Dica)
6 – Ernesto – c.c Edite, natural do município de Capistrano
7 – Miguel de Assis Viana (Caboclo) – casado com Áurea de Sousa Viana, meus avós maternos.
8 – Francisco (Chico Preto) – c.c Iracilda
9 – Antônio – c.c Lucila
10 – Alberto – c.c  Hilda
11 – Expedito – c.c Luizinha
12 – Guilherme (Guedim) – c.c Senhorinha (Natural do Capistrano)
13 – Branca (Geracina) – morreu solteira
14 – Alcides – c.c Moça (Filha do Chicó da Várzea Grande).


ASCENDÊNCIA DO BISAVÔ CHICO VIANA

Francisco de Assis Sousa Viana era filho de Miguel Martins Viana e Mãe Sousa (Francisca de Sousa Melo), filha de Miguel José de Sousa Mello e Francelina Paulino do Amor Divino. Casou-se em 1906 com Geracina Lobo Viana.
Miguel Martins era filho de Francisco Martins Viana e Ana Feijó de Mello.
Geracina Lobo Viana, minha bisavó, nasceu em 1883. Era filha de José Martins Viana (irmão de Miguel Martins Viana) e de Luzia Geracina Alves da Fonseca Lobo, filha de Vicente da Fonseca Lobo, família residente em Santa Quitéria. Luzia era prima (ou tia) do Dr. João Otávio da Fonseca Lobo (filho do Cel. Manoel Alves da Fonseca Lobo, advogado rábula e juiz de paz).
Seus irmãos eram:
1 - Maria Amélia Lobo Viana (Marica), casada com Raimundo Araújo Viana (Raimundo Eustaquilino), pais do Abdísio, Luzia e Francisca.
2 – Laura (solteira)
3 – Francisca (Chiquinha), casada com Antônio Araújo Viana (Eustaquilino). Antônio era viúvo e fora casado anteriormente com Francisca, filha do Miguel Martins e Mãe Sousa;
4 – Senhor Lobo (Raimundo Lobo Viana), nascido em 1880, primeiro marido da tia Francelina de Sousa Viana. Foram pais de numerosa prole, dentre os quais o Chico Lobo, que aos 98 anos de idade prestou boas informações para a nossa pesquisa.
5 – Maria, casada com Abel Pimentel de Sousa (Belo)
6 – Artur Lobo Viana (1879) – casado com Inês Guerra;
7 – Sinhá, casada com Silvestre Guerra (irmão de Inês Guerra);
8 – José, casado com Maria do Espírito Santo (Paulino)
9 – Francisco – solteiro.


Artur Lobo Viana, marido de Inês Guerra


Sobre o escritor e filósofo João Miguel da Fonseca Lobo, irmão da trisavó Luzia Geracina de Sousa Lobo, é interessante registrar o que escreveu sobre ele o Barão de Studart, com a devida atualização da ortografia:

O intrigante filósofo João Miguel da Fonseca Lobo, irmão de minha trisavó Luzia Geracina

João Miguel da Fonseca Lobo - Seus bisavós, paterno e materno, eram portugueses, ricos fazendeiros; um deles, Francisco Lobo dos Santos, residia no município de Quixeramcbim; o outro, José de Souza Maia, residia no município de Santa Quitéria.
Seus pais, Vicente Alves da Fonseca Lobo e D.a Geracina Carolina de Sousa Lobo, já não alcançaram as fortunas dos avós, devido ás vicissitudes más por que sempre tem passado o Ceará.
Nasceu a 29 de Setembro de 1849, em um Sitio denominado —Sussuanha ou Suassú-anha, município do Campo Grande (atualmente Guaraciaba do Norte), sobre a Serra da Ibiapaba.
Na idade de seis anos completos entrou numa escola de primeiras letras, na vila de Santa Quitéria, onde passou a infância e aos doze anos foi negociar com fazendas (tecidos) na Serra do Machado (Itatira). Quando aos 26 preparou-se para ir matricular-se na Escola Militar do Rio de Janeiro, mas, indo antes ao Amazonas a tratar de cobranças lá permaneceu 15 anos, num trabalho permanente, árduo e penosíssimo, com o fim único de ganhar dinheiro para ajudar aos velhos pais e família já muito empobrecidos pela seca de 1877.
Em 1891* mudou-se de vez para Fortaleza.
Publicou:
Fragmentos de Philosophia Natural e Especulativa, in 8." de 290 pp., impresso em Lisboa na Typ. do Annuario Commercial, Praça dos Restauradores n.o 27, 1909.

Fonte: Diccionário Bio-bibliográfico Cearense-Barão de Studart.

A data de seu falecimento, 10 de janeiro de 1938, está registrada na Revista do Instituto Histórico e Geográfico do Ceará. Outras obras publicadas por João Miguel foram:
- A camponesa – Romance, 1914;
- A Hipotipose do Mundo – Premoção de um médium, lenda filosófica, traços românticos; que traz dedicatória ao seu sobrinho Dr. João Otávio Lobo, datada de 4 de setembro de 1923;
- Jesus Cristo e Maria Madalena – Lenda Judaica; romance publicado em Portugal que teve sua primeira edição rapidamente esgotada. Em 2009 saiu uma segunda edição do romance prefaciada e organizada por Moysés Rodrigues Pereira.


Segundo seu bisneto Newton Lobo, a quem devemos a maioria das informações aqui registradas, além dos livros já mencionados, João Miguel deixou outras obras inéditas, que infelizmente se extraviaram durante uma enchente ocorrida na Moitinga, um dos sítios de sua propriedade. 

  
* O Barão de Studart dá como ano de sua fixação em Fortaleza 1871, o que é improvável, pois ele só veio para capital cearense depois de haver trabalhado nos seringais da Amazônia. A data correta, segundo Moysés Pereira, é 1891.

VER ENTREVISTA DE MOYSÉS PEREIRA SOBRE FONSECA LOBO, NO PROGRAMA "PAPO LITERÁRIO"
Link: https://www.youtube.com/watch?v=qY0h8XdlFik



* * *

MEUS AVÓS MATERNOS, AURINHA E MIGUEL


Meus avós maternos Áurea de Souza Vianna e Miguel de Assis Lobo Vianna

Pais do Chico Viana – Miguel Martins e Mãe Sousa
Pais da Geracina – José Martins e Luzia Geracina de Sousa Lobo
Pais de Luzia: Vicente da Fonseca Lobo – Geracina Carolina de Sousa Lobo
Filhos do casal Pai Chico e Mãe Sina: Raimundo, Almerinda, José (Dedé), Miguel (Caboclo), Maria (Mariquinha), Alberto, Ernesto, Guilherme, Alcides, Neomízia (Dodó), Francisco (Chico Preto), Antônio, Expedito, Branca (Geracina). Ao todo, 14 filhos.

* * *

ESSA E MUITAS HISTÓRIAS DAS FAMÍLIAS SOUSA MELLO, MARTINS VIANNA, FONSECA LOBO E SEVERO BARBOSA VOCÊ VAI ENCONTRAR NO LIVRO "SERTÃO EM DESENCANTO"; LANÇAMENTO DIA 07/05/2016.


quarta-feira, 1 de janeiro de 2014

A CIGANA ESMERALDA


Ilustração: ARIEVALDO VIANA

 

O TESTAMENTO DA


CIGANA ESMERALDA


Autor: Leandro Gomes de Barros
 

QUERES saber tua sorte
Para tua proteção?
Estuda o Livro dos Sonhos
E preste muita atenção
Aprenda a ler tua sina
Nas linhas da tua mão.

 
É a Cigana Esmeralda
Que dá o apontamento,
Com um príncipe da França
Foi feito o seu casamento,
Vamos ver o que ela diz
No seu grande Testamento.
 

É um testamento achado
Por um bando de ciganos
Que andou toda a Europa
No correr de muitos anos
E no rancho de Esmeralda
O descobriu entre panos.
 

Esse bando de ciganos
Veio depois ao Brasil
Trazendo esses papéis
Escondidos num barril
Aportou aqui em quarenta (1840)
A quinze do mês de abril.
 

Quem quiser fazer negócio
No primeiro de janeiro
Não queira vender fiado
Receba logo o dinheiro
Senão venderá fiado
No correr do ano inteiro.
 

Goze o dia do ano
Em festança e brincando
Quem trabalha nesse dia
Passa o ano trabalhando
E quem nele viajar
Passa o ano viajando.
 

Lembrai-vos do Ano Bom
O tempo é coisa que voa
Reparai quando encontrardes
Com a primeira pessoa
Menina, rapaz ou moça
Encontra promessa boa.

 
Não queira em dia de ano
Adquirir intrigado
Porque é dia feliz
Para assistir-se um noivado
É bom para se gozar
A festa de um batizado.
 

A Cigana Esmeralda
Falando em seu natural
Disse que nesse mundo
A vida é comercial
Sem quadras e sem idéias
Não se forma cabedal.
 

E nisso ela não errou
Antes, andou acertada
Antes de entrar em negócio
Estuda logo a parada,
Para não ires cair
Em coisa muito embrulhada.
 

Não jogue na loteria
Que tenha prêmio avultado
Desconfiar das vantagens
Que nunca deu resultado
Como bem, rifas e máquinas
São sonhos de acordado.

(...)