quarta-feira, 30 de julho de 2014

Entrevista no Portal da TV Cultura



Trechos de uma entrevista de ARIEVALDO VIANA ao site CMAIS, do Portal da TV Cultura, sobre a sua participação na Flipinha de Paraty-RJ:

EXCLUSIVO

ARIEVALDO VIANA FALA SOBRE 

SUA PARTICIPAÇÃO NA FLIPINHA

(Mala de Romances)

flipinha

Voltado especialmente para os pequenos, a Flipinha surgiu em 2004, junto com a Flip, 
para ser um movimento de formação de leitores em Paraty. O ano inteiro, a ação social e educativa segue uma agenda intensa, incentivando e instigando a curiosidade das crianças para o universo mágico da literatura infantil.
Entre os dias 29 de julho e 3 de agosto, os jovens leitores de Paraty norteiam a programação da Flipinha com os temas trabalhados em sala de aula e um levantamento dos autores mais lidos por elas do acervo de 12 mil títulos da Biblioteca Casa Azul. Tudo isso junto com a participação das crianças visitantes.
O cordelista cearense da cidade de Quixeramobim Arievaldo Viana, que está a frente do projeto ‘Acorda Cordel na Sala de Aula’, estará pela primeira vez no evento. Com quase trinta livros publicados, ao longo de 10 anos de atividade, e mais de 100 folhetos de cordel, ele participará de duas mesas na Flipinha, sendo uma delas em parceria com o poeta Fábio Sombra.
O cmais conversou com o autor, que conta sobre seus projetos para levar cada vez mais cultura aos brasileirinhos, da resistência ao cordel que é feito fora do Nordeste, de sua história de vida e o que espera da Flipinha 2014.
cmais: Você já participou de alguma edição da Flip ou essa é sua primeira vez? Como é seu contato com o público infantil?
Arievaldo Viana: Trabalho com a Literatura de Cordel e livros infanto-juvenis desde o final da década de 1990 e já participei de diversas bienais e feiras de livro em diversas cidades: Fortaleza, Recife, Salvador, Rio de Janeiro, São Paulo, Brasília e Porto Alegre, dentre outras, a maioria das vezes lidando com o público infantil. É a primeira vez que sou convidado para a FLIP de Paraty e estou muito honrado com esse convite. Na verdade, eu já venho trabalhando há bastante tempo, através do projeto Acorda Cordel na Sala de Aula, ministrando palestras, oficinas, shows de declamação e os resultados são sempre favoráveis.
cmais: Você já teve algum momento marcante com os pequenos leitores?


Viana: Na Feira do Livro de Porto Alegre, por exemplo, os autores são ‘apadrinhados’ por escolas da rede estadual de ensino e contato com as crianças é algo maravilhoso. Estive, em 2012, no município de Barra do Ribeiro-RS, onde as crianças da escola que visitei transformaram três obras minhas em apresentações teatrais. Foi um momento muito marcante, com música, dança, declamações e outras atividades culturais, tendo como eixo os meus textos em cordel. Um desses textos foi “A PELEJA DE CHAPEUZINHO VERMELHO COM O LOBO MAU”, livro ilustrado por Jô Oliveira, que foi lançado numa coleção pela Editora Globo. Essa coleção inclui também “O COELHO E O JABUTI” e “JOÃO BOCÓ E O GANSO DE OURO”, todos de minha autoria. Aqui no Nordeste, tenho vários livros por uma editora chamada IMEPH, que trabalha um projeto chamado “Nas ondas da leitura”. Sempre sou convidado a participar de atividades desse projeto e o encontro com o público infantil é sempre muito marcante.
cmais: Com quantos anos surgiu o interesse pelo cordel? Conte um pouco de sua trajetória de vida no sertão do Ceará.
Viana: Antes mesmo de ser alfabetizado, aí por volta dos quatro ou cinco anos de idade, eu já havia me encantado com os folhetos da Literatura de Cordel. Tanto meu pai, quanto a minha avó Alzira tinham o hábito de ler folhetos em voz alta para um público misto, que incluía crianças e adultos.


Nesse tempo ainda não havia energia elétrica no sertão do Ceará. Só nas cidades. As comunidades rurais ainda eram iluminadas por lampiões a gás. Eu ficava encantado pelo texto agradável dos cordéis. Aquilo mexia com a minha imaginação e motivou meus primeiros passos como poeta popular. Minha primeira escola funcionava numa casinha de taipa. Éramos somente uns 10 alunos, mas o aprendizado funcionava de verdade. A leitura em voz alta, principalmente de poesia, era uma prática comum nessa escola. 
Aos dez anos tive que me mudar para a cidade, a fim de continuar os meus estudos e só então tive contato com a televisão, a revista em quadrinhos e os brinquedos industrializados. Claro que isso também me influenciou, mas aquela cultura popular, típica do ambiente rural, já estava impregnada no meu processo criativo. A essa altura eu já desenhava e escrevia compulsivamente. O engraçado é que só comecei a publicar meus trabalhos no final da década de 1980 e de forma artesanal, usando, na maioria das vezes, a velha fotocopiadora. Foi o período dos fanzines e dos folhetos alternativos. Finalmente, na virada do milênio, comecei a levar a coisa mais a sério e comecei a bancar as minhas próprias edições. Esteei com um livro chamado “O baú da gaiatice”, que traz uma miscelânea de causos, anedotas, crônicas e cordéis. Essa obra foi muito bem aceita. Apesar de nunca ter saído por uma grande editora já vendeu mais de 10 mil exemplares e já está na 4a. Edição. Em 2006 recebi convite do Governo do Estado do Ceará para participar de uma coleção chamada “BAIÃO DAS LETRAS”. Foi aí que nasceu a ideia de fazer cordéis ilustrados, com capa colorida, para o público infantil. A princípio houve alguma resistência por parte do público tradicional e de alguns pesquisadores mais conservadores, mas isso foi superado porque CORDEL não é o suporte. O que caracteriza o cordel é o seu estilo literário, que é determinado por regras fixas: métrica, rima, oração etc. O “cordelivro” caiu no gosto da criançada e hoje, mais de 20 editoras de todo o Brasil trabalham com esse tipo de literatura.
(...)
VER ENTREVISTA COMPLETA AQUI: http://cmais.com.br/flip/exclusivo/arievaldo-viana-fala-sobre-sua-participacao-na-flipinha

quarta-feira, 16 de julho de 2014

ARIEVALDO VIANA NA FLIPINHA DE PARATY-RJ

Clique na imagem para ampliar...

 Flipinha e FlipZona, a festa das crianças e dos jovens

FOTO: DIVULGAÇÃO
Programação infantil traz encontros com autores e ilustradores

PARATY
Parte da programação da Flipinha, a Ciranda dos Autores leva a Paraty um time de nove escritores e seis ilustradores de livros infantis, que participam de encontros aguardados com expectativa pelos alunos das escolas da cidade.
A mesa Da memória às histórias, que reúne as ilustradoras Laura Teixeira e Luciana Grether Carvalho marca a abertura das atividades na tenda da Flipinha. Ilustração é o tema da conversa de Daniel Kondo, que desenhou Contos das quatro estações e Domingão joia, e Mario Bag, cujos traços estão em Mentiras caipiras e Mitos e lendas do folclore do Brasil.
Entre os destaques, também aparecem a cultura indígena, com o amazonense Roni Wasiry Guará, do povo Maranguá, e a temática nordestina, presente nas obras Cordel da Candelária e Cordel das cavalhadas, de Sandra Lopes; e nas adaptações de Shakespeare para o teatro e o cordel, de Arievaldo Viana. 
Complementam as atividades da Flipinha as apresentações de alunos das escolas de Paraty, os já tradicionais “pés de livro”, que convidam à leitura sob as árvores da Praça da Matriz, e a mesa em homenagem a Millôr Fernandes.
Formação de leitores 
Ao longo do ano, a Casa Azul desenvolve em Paraty um trabalho permanente de formação de leitores, como parte do programa educativo da Biblioteca Casa Azul, que envolve cerca de 13 mil alunos de mais de 40 escolas públicas e privadas da região. No início do ano letivo, os professores recebem o Manual da Flipinha, material didático com informações sobre a vida e a obra dos autores convidados, e participam de uma oficina de formação. É o ponto de partida para trabalharem a Flipinha em sala de aula, com leituras e atividades práticas que culminam nas apresentações dos alunos nos dias de festa.
FlipZona: espaço de experimentação
A programação jovem contempla diferentes áreas de interesse e se caracteriza pela presença de múltiplas linguagens, como a produção audiovisual e o grafite. Palestras, bate-papos e oficinas fazem parte da programação, que traz para o universo jovem alguns autores da programação da Flip, como Antonio Prata e Eliane Brum, e da Flipinha, como a escritora e roteirista Rosana Rios.

Ao longo dos cinco dias da Flip, um grupo de jovens paratienses estará ativo na Central FlipZona – uma redação jornalística que fará a cobertura de toda a festa literária. No último dia, domingo, será a vez de apresentarem sua produção audiovisual: é o CineZona.
Oficinas para jovens
Assim como na Flipinha, o trabalho de formação com foco nos leitores jovens – sob o nome de FlipZona – também é um movimento que acontece o ano inteiro na Biblioteca Casa Azul, em Paraty. Sempre aberta a novos participantes, a FlipZona mantém um blog e realiza oficinas de artes visuais e literatura. Em abril e maio de 2014, realizou uma oficina de fotografia com Walter Craveiro, fotógrafo oficial da Flip, e uma oficina de grafite, com o designer e grafiteiro carioca Meton Joffily. Participaram cerca de 80 jovens paratienses. 

SAIBA MAIS: http://www.avozdacidade.com/site/page/noticias_interna.asp?categoria=56&cod=33984

domingo, 13 de julho de 2014

LEANDRO NO DN

Ilustração: Arievaldo Viana


LITERATURA DE CORDEL

O best-seller da poesia popular

13.07.2014

Clássico maior do cordel, Leandro Gomes de Barros é ainda referência para os autores do gênero

Em prosa, Carlos Drummond de Andrade escreveu em sua reverência: "não foi príncipe dos poetas do asfalto, mas foi, no julgamento do povo, rei da poesia do sertão, e do Brasil em estado puro". O registro, está em artigo publicado no Jornal do Brasil, em meados da década de 1970. Leandro Gomes de Barros (1865 - 1918), paraibano, "caboclo entroncado, de bigode espesso, alegre, bom contador de anedotas", como o definiu o Câmara Cascudo (no livro "Vaqueiros e Cantadores"), é ainda hoje um dos mais influentes autores da literatura de cordel.
Em sua bibliografia, há quem defenda um legado em torno de mil livretos de cordel. A Fundação Casa de Rui Barbosa, detentora da maior coleção do poeta, disponibiliza 200 títulos digitalizados na internet (www.Casaruibarbosa.Gov.Br/cordel). Além de escritor, considerado o primeiro cordelista de quem se tem notícia, foi pioneiro também como editor de livretos e é o mais vendido do gênero.
"Em 2018, completará 100 anos de sua morte. E com quase 100 anos do seu desaparecimento, ele continua sendo um dos principais poetas populares brasileiros de todos os tempos. É um fenômeno. Se for escolher 20 clássicos dessa literatura, no mínimo cinco obras tem que ser do Leandro. Os folhetos dele ainda estão entre os mais procuradas", atesta o cordelista e editor de cordéis Klévisson Vianna. Somente por sua editora, a Tupynanquim, ele estima que alguns livretos do paraibano tenham chegado a 10 edições, com 2 mil exemplares cada. "Não tem nenhum poeta erudito que rivalize com a popularidade de Leandro. Nunca em época nenhuma a obra dele deixou de ser reeditada. Prova de sua vitalidade", reforça o editor.
Influência
No artigo - registrado no acervo da Fundação Rui Barbosa - Drummond concede ao poeta paraibano o título de "Príncipe dos Poetas" (tomando-lhe de Olavo Bilac). Outros, como o poeta e editor João Martins de Athayde, o de "o primeiro sem segundo". Fato é que, além de popular entre os leitores, Gomes de Barros foi uma das principais referências das gerações seguintes de cordelistas.
Dois de seus folhetos, "O enterro do cachorro" e "O cavalo que defecava dinheiro" serviram, por exemplo, como base para o "Auto da Compadecida", de Ariano Suassuna. "Tudo que se diz do Leandro se justifica pelo pioneirismo, primeiro, pela qualidade e quantidade de obras que deixou. Mas também pela variedade de temas. Transitava por cordéis humorísticos, outros mais sarcásticos, com uma grife social que estava além do seu tempo. Outros eram mais dramático, românticos, também. Todas as vertentes ele abordou", destaca o poeta cordelista Rouxinol do Rinaré.
Leandro, aponta Rouxinol, é uma das referências de infância, de quando ouvia as leituras de seu irmão mais velho. "Mais tarde me tornei leitor para meus pais", diz. "Eu como poeta e editor, que edito mais de cem poetas, posso falar com propriedade de quem faz e comercializa: Leandro é a base. Você vê coisas muito importantes, como as personagens femininas. Extremamente fortes, superam homens na força. Ele era muito à frente de seu tempo. Perde a viagem quem achar que ele era matuto", completa Klévisson.
A critica social, a sátira política, os romances: encontra-se de tudo na obra de Leandro Gomes de Barros. Há referências desde a política da Capital Federal, na época, o Rio de Janeiro, aos causos sertanejos ou enredos de ficção científica. "Apesar de ter nascido em Pombal, interior, da Paraíba, ele era cosmopolita. Escreveu folheto, em 1909, sobre uma viagem à lua. Não era em foguete, era balão, que era o que havia de mais moderno na época", ilustra Arievaldo Vianna.
Biografia
Arievaldo é autor de um extenso trabalho sobre o poeta paraibano que segue ainda inédito. A pesquisa inclui uma biografia e uma antologia com os principais textos do poeta e está pronta há pelo menos cinco anos a espera de uma editora que encampe a publicação. O autor lamenta o pouco interesse das editoras, ainda que haja uma lacuna no que diz respeito a pesquisa sobre a vida de Leandro. "O Bráulio Tavares (escritor paraibano) dizia que fazer essa biografia era como catar confete na rua um mês depois do Carnaval. Pela falta de documentos", cita.
O livro teve por base viagens aos locais por onde passou o poeta, entrevista com descendentes dele ou de pessoas que conviveram com ele, além da identificação de documentos. "Entrevistei muita gente, escrevi para tantos outros. Paulo Nunes Batista rendeu uma das melhores entrevistas. Tinha quase 100 anos. Fiz entrevista longa e reveladora a respeito da convivência de Leandro com a família dele. Ele não conheceu, mas cresceu ouvindo histórias sobre o poeta", detalha. Foram identificados ainda o paradeiro de documentos como as certidões de batismo, nascimento, o registro de casamento e a certidão de óbito. "Estou pensando em publicar por conta própria", lamenta o autor.
Leandro Gomes de Barros, o satirista
A fortuna crítica da obra do poeta paraibano acaba de ganhar um reforço robusto: "Um pau com formigas ou O mundo às avessas: A sátira na poesia popular de Leandro Gomes de Barros", de Francisco Cláudio Alves Marques. Fruto da tese de doutorado do autor, o livro é um gigante de mais de 400 páginas, que tem por mérito detalhar um dos aspectos da obra do cordelista.
A escolha de um "recorte" - a sátira - ao invés de pretender uma leitura total da obra é um reconhecimento de sua complexidade e riqueza. E, como satirista, Leandro Gomes de Barros já mereceria o status de clássico. Marques mostra um autor corajoso, em críticas que tanto podiam ser suavizadas, em metáforas e imagens a maquiar o alvo, como golpes violentos, recorrendo a expressões vulgares.


Crítica
O título do livro recupera uma expressão recorrente na obra de Gomes de Barros. "Pau com formigas" costuma ser usada para traduzir um momento constrangedor, uma situação complicação, em que se vê sem saída. O poeta dá-lhe novo sentido, emprega-a como metáfora da violência e da insignificância social que definiam a realidade dos sertões do Brasil.
No estudo, Francisco Cláudio Marques mostra como a obra de Leandro Gomes de Barros retrata, à sua maneira, os tempos em que viveu o autor. Ele captura os conflitos e as transformações sociais (sobretudo, o impacto que se observava nas populações mais pobres), do Império que se desfazia a uma República que chegava sem ampliar direitos ou inverter a ordem do poder.
LIVRO
Um pau com formigas ouo  mundo às avessas: A sátira na poesia popular de Leandro Gomes de Barros
Francisco Cláudio Marques
Edusp
2014, 448 páginas
R$ 72
Fábio Marques
Repórter
Fonte: DIÁRIO DO NORDESTE (Caderno 3)