sexta-feira, 22 de setembro de 2017

LANÇAMENTO EM JOÃO PESSOA


LIVRARIA DO LUIZ PROMOVE MANHÃ DE AUTÓGRAFOS DO LIVRO “MIOLO DA RAPADURA”, DE KLÉVISSON VIANA

Klévisson Viana é um danado. Após dezenas de livros e folhetos premiados, nos apresenta mais um balaio saboroso de suas múltiplas criações, com este livro MIOLO DA RAPADURA. Tem desenhos e gravuras assinalados com sua marca. Tem poemas pungentes, saudosos, mas também avulta a alegria descarada deste moço. Há uma mostra de seus folhetos e algumas parcerias com Bráulio Tavares, Evaristo Geraldo da Silva, Rouxinol do Rinaré e Arievaldo Vianna. 

                Adubando o material, o vigor deste artista que soube fruir a seiva generosa do povo nordestino ao mesmo tempo em que expandia a rama contemporânea desta cultura através dos caminhos do hiperespaço. Porque o Klévisson Viana é o matuto mais moderno do mundo!

                Nas 168 páginas de o MIOLO DA RAPADURA, o leitor deparar-se-á com hilárias e também tristes narrativas, verídicas, fantásticas e/ou adaptadas, textos críticos, recheados de conteúdo, de sabedoria erudita e popular, em diferentes formatos - Oitavas, Sétimas, Sextilhas, Décimas, Emboladas, Poesia Matuta entre outros. Tudo com o padrão Klévisson de produção - o máximo cuidado na forma e no conteúdo, a qualidade do artesão premiado na palavra. É o Klévisson agora quarentão que sabe dizer porque vivencia as coisas do sertão como um refinado observador do que há acolá.

                MIOLO DA RAPADURA não é apenas um livro, ou uma coletânea de textos. É obra que busca encontrar a essência, o tal miolo da nossa arte-rapadura, sabidamente doce, como diz o poeta de Quixeramobim. O mel mais saboroso não está no aspecto que o autor aqui descreve, mas no cerne das tradições nordestinas revividas e revigoradas pelas letras escritas, na recontagem e remontagem d’algumas histórias clássicas da cultura mundial, em traço tipicamente nosso.

Além deste livro, que o leitor lerá entre sorrisos e mesmo rasgadas gaitadas, queria lembrar aqui as novelas gráficas de KV, em particular, ''Lampião... Era o cavalo do tempo atrás da besta da vida'', aonde traço fino, paisagem recriada ao estilo da talha cortada dos gravadores da madeira e de uma reconstituição perfeita da época de Lampião, abriram passagem para Klévisson Viana voar além das fronteiras regionais. Seu trabalho na Tupynanquim - reimprimindo romances em folheto há muito fora de catálogo - aliás, quem imprime ainda estes livrinhos, que imortalizaram nomes como os do mestre Leandro Gomes de Barros, José Pacheco, Athayde e muitos outros? Só este caboclo sonhador, mas sonhador de pés bem fincados em sua terra, e com este olhar carinhoso a sua gente.

PS: Pra sentir o verdadeiro sabor da rapadura, tem que provar até o miolo. Pra entender de verdade o que Klévisson diz, só lendo o livro todinho, de ponta a ponta, como quem diante do “pequeno tijolo doce” está a lambê-lo, persignado e feliz.

Serviço:

MANHÃ DE AUTÓGRAFOS DO LIVRO
“MIOLO DA RAPADURA” DE KLÉVISSON VIANA

Local: LIVRARIA DO LUIZ
Endereço: Galeria Augusto dos Anjos – Praça João Pessoa, 88 – Centro, João Pessoa – PB
Data: Dia 30 de setembro (sábado)
Horários: 10h da manhã
Classificação indicativa: Livre
Valor do livro: R$ 40,00
Informações: (85) 3217-2891 | (83) 3576-5573

Atendimento à imprensa:
(85) 9 9675-1099 | (85) 3217-2891 | tupynanquimcordelbrasil@gmail.com


 

* * * 


KLÉVISSON VIANA

Antônio Clévisson Viana Lima (Klévisson Viana) é cordelista, cartunista, xilogravador, editor e presidente da AESTROFE – Associação de Escritores, Trovadores e Folheteiros do Estado do Ceará. É também membro da ABLC-Academia Brasileira de Literatura de Cordel (RJ). Coordena o projeto editorial da Tupynanquim Editora, onde já publicou cerca de mil obras de quase uma centena de autores. Como autor, Klévisson Viana publicou mais de 30 livros e quase 200 folhetos de Literatura de Cordel. Seus trabalhos já “passearam” pelos quadrinhos, televisão e adaptações para o teatro. Destaca-se o folheto "A quenga e o delegado", transformado em episódio da série Brava Gente da Rede Globo. Tem trabalhos publicados em diversas editoras nacionais e internacionais como Chandeigne – Paris (FR), Editora Leya – Lisboa (PT), Editora Hedra –São Paulo (BR), Nova Alexandria –São Paulo (BR), Editora Demócrito Rocha – Ceará (BR), Editora Amarilys – São Paulo (BR), Edelbra – Porto Alegre (RS), Nova Alexandria – São Paulo (BR) dentre outras. Tem outras obras publicadas em antologias na Turquia, Bélgica, Itália e Holanda. Seu currículo consta de diversos prêmios importantes. Foi vencedor seis vezes consecutivas do PNBE – Programa Nacional da Biblioteca Escolar (MEC), três vezes do Troféu HQ Mix, uma vez do PNAIC – Programa Nacional de Alfabetização na Idade Certa (MEC) e "Prêmio Jabuti de Literatura" concedido anualmente pela Câmara Brasileira do Livro (CBL) dentre outros. Klévisson Viana coordena eventos culturais, ministra palestras, oficinas e recitais em todo o Brasil e já levou sua arte a países como França, Portugal, México, Cabo Verde e Costa Rica e é o idealizador da Feira do Cordel Brasileiro, já na segunda edição.


quinta-feira, 21 de setembro de 2017

LOS TABAJARAS EM CORDEL


“LOS INDIOS TABAJARAS”
Dois tapuias cearenses que conquistaram o mundo


O Ceará sempre teve bons instrumentistas. De Nonato Luis a Vilamar Damasceno, de Manassés a Macaúba, de Cirino a Luzirene do Cavaquinho, sempre tivemos artistas que se projetaram dedilhando instrumentos de corda, mas nenhuma história se compara a dos índios Mussaperê e Herundy, dois remanescentes da nação Tabajara, nascidos em Tianguá, que apesar de serem ilustres desconhecidos em seu Estado natal, projetaram-se no mundo inteiro como virtuoses do violão, chegando a se apresentar nos maiores teatros da América do Norte e da Europa, além de terem gravado dezenas de discos pela RCA norte-americana. No site da gravadora “Revivendo”, responsável pelo relançamento de alguns de seus discos (através do selo Again) encontramos esse texto que serviu como base para produção de uma biografia em CORDEL, narrando a fantástica saga de “Los Índios Tabajaras”. Essa biografia em versos deverá ser lançada ainda este ano.

“A trajetória dos Índios Tabajaras dificilmente encontrará paralelo com qualquer outra, vindo de onde vieram e alcançando, no chamado mundo civilizado, o que alcançaram. Tudo pareceria a criação de um delirante ficcionista, não fosse a mais concreta realidade.

Primeiro, por suas origens. São índios brasileiros autênticos, da raça tupi-tabajara, nascidos na remota e agreste serra de Ibiapaba, dentro do então isolado município cearense de Tianguá, na divisa com o Piauí.

Na língua tupi, receberam os nomes de Mussaperê e Herundy, que significam O Terceiro e O Quarto, pois estavam nessa ordem de nascimento dos filhos do cacique Ubajara, ou Senhor das Águas, ao todo trinta e quatro irmãos.




A FANTÁSTICA TRAJETÓRIA DE
‘LOS INDIOS TABAJARAS’
Os cearenses que conquistaram o mundo
Autor: Arievaldo Viana

Brisa que sopra na serra
Onde cantam as águas claras
Que descem num véu de noiva
Banhando as lindas Iaras
Dai-me rimas pra contar
A vida dos TABAJARAS.

Nos contrafortes da serra
E no topo da Ibiapaba
A brava Nação Indígena
Ali ergueu sua taba
O índio via a fartura
Dentro de sua igaçaba.

Viçosa, Guaraciaba,
São Benedito, Ubajara,
A linda bica do Ipu
Com sua beleza rara,
Frecheirinha e Tianguá
São da Nação Tabajara.

Veio o colonizador
Com seu instinto cruel
Se espalhou rapidamente
Como abelha no vergel
E fez jorrar muito sangue
Aonde jorrava mel.

Dessa tribo de guerreiros
Descende a Índia Iracema
A musa de Alencar
Heroína do poema
Anagrama de América
Do cearense um emblema.

Porém a história que
Pretendo agora narrar
É tão inacreditável
Que alguém pode duvidar
Dois curumins que partiram
Para o mundo conquistar.

São “Los Índios Tabajaras”
Ilustres desconhecidos
Na sua pátria natal
Não foram muito queridos;
Porém conquistaram o mundo
E foram reconhecidos.

Seus nomes: Muissaperê
E Herundy, seu irmão,
Filhos de um bravo cacique
O último desta Nação
Dos Tabajaras famosos
Tianguá foi seu torrão.

No início do século XX
Nasceram estes meninos
Tiveram muitos irmãos
Sofreram mil desatinos
Porém Tupã já traçara
Pra eles belos destinos.

Preciso agora explicar
Os nomes deles aqui
No meio de sua gente
Mussaperê e Herundy
Quer dizer: Terceiro e Quarto
No dialeto Tupi.

Os nomes eram por causa
Da ordem de nascimento
Foram 34 irmãos
Eu li num apontamento
Muita gente batalhando
Para obter seu sustento.

Certo dia uma milícia
Na sua tribo chegou
E o tenente Hildebrando
Moreira Lima os levou
De lá para o Cariri
Numa reserva os botou.

Pelo tenente Hildebrando
Foram todos bem tratados
E os filhos do Cacique
Foram todos registrados
Inclusive, alguns deles,
Foram alfabetizados.

Com o nome de Natalício
Herundy foi registrado
E também Mussaperê
Teve o seu nome alterado
Antenor Moreira Lima
Passou logo a ser chamado.

Porém o sangue tupi
Corria nas suas veias
E não quiseram ficar
Retidos nessas aldeias
As terras que foram suas
Agora eram alheias.

Seu desejo era chegar
Lá no Rio de Janeiro
E então percorreram a pé
Quase o Nordeste inteiro
Buscando a sobrevivência
Vagando sem paradeiro.

Partiram em trinta e três
Os pais e quatorze filhos
Cruzaram muitas estradas
Vencendo mil empecilhos
Mas sempre visando o Rio
Sem jamais sair dos trilhos.

Numa feira nordestina
Compraram um violão
E aprenderam sozinhos
A tocar uma canção
Mas tiveram que trocá-lo
Por u’a cuia de feijão!

Finalmente eles chegaram
Na capital Salvador
No Estado da Bahia
E ali o Governador
Lhes deu passagens e foram
Ver o Cristo Redentor.

Chegaram em trinta e sete
Lá no Rio de Janeiro
Após percorrerem todo
O nordeste brasileiro
A pé, com longas paradas
Mas sem perder o roteiro.

Almirante Jaceguai
Era o nome do navio
Nele seguiu a família
Exposta ao vento e ao frio
Até que certa manhã
Eles chegaram no Rio.

No Albergue Leão XIII
Conseguiram se abrigar
Porque a sua odisséia
Foi mesmo de admirar
Saiu longa reportagem
Em um jornal popular.

Deslumbrados com a cidade
Falando um mal português
Vestindo roupas de branco
E assustados, talvez,
Se apresentavam nas praças
Esperando a sua vez.

Eles tocavam de ouvido
A viola e o violão
E encantavam platéias
A cada apresentação
Mas negavam sua origem
Com medo de repressão.

Porém o aspecto físico
Da dupla denunciava
Sem falar no seu sotaque
Que também atrapalhava
É que alguém, por maldade,
Aos índios amedrontava.

Dissera alguém que no Rio
Tivessem muito cuidado
Se o Governo descobrisse
Sua origem ou seu estado
Seriam mortos ou presos
Eis o engodo formado.

Mas com o tempo a dupla
Começou desconfiar
Que aquilo era mentira
E começou a pensar
Numa emissora de rádio
Para se apresentar.

(...)




Chefe Tabajara




TRECHOS DA BIOGRAFIA PUBLICADA

NO SITE DA GRAVADORA REVIVENDO:



"Passam a atuar também nos cassinos da Urca e da Pampulha, em Belo Horizonte. Em 1944, vão a São Paulo para, em seguida, empreenderem uma longa temporada por toda a América Latina, que se estenderá até 1949. Começam pela Argentina, onde o sucesso foi grande e depois rumam para o Chile, Peru, Equador, Colômbia, Venezuela, Cuba e México. Às vezes só ganhavam o suficiente para a alimentação e o prosseguimento da viajem.




Mussaperê já vinha se interessando pelos autores clássicos: Beethoven, Bach, Litzt, Mozart e outros grandes mestres. Quando chegam ao México ainda só sabiam tocar de ouvido, sem nenhum conhecimento teórico musical. Num espetáculo, são apresentados pelo ator mexicano Ricardo Montalbán como "analfabetos musicais", um modo peculiar encontrado para dizer que, apesar disso, tocavam bem, mas que os acabou instigando a aprender música.

Mussaperê volta para Caracas e toma lições com Francisco Christancho, maestro da sinfônica da capital venezuelana, e prossegue seus estudos no Brasil. Herundy, por sua vez, volta a Buenos Aires, onde compra uma casa, e também passa a se dedicar ao estudo da música e do canto.

EUROPA
Dois anos depois, reúnem-se novamente e partem para uma excursão à Europa. A música clássica passa então a predominar em seu repertório. Tornam-se respeitados em vários países como intérpretes de Tchaikovsky, Sibelius, Targa, Falla, Villa-Lobos, Chopin e outros. As adaptações instrumentais são feitas por Mussaperê, que as passa para o irmão. Incluem também em seus espetáculos músicas folclóricas européias, cantando-as nos diversos idiomas, sempre com os maiores aplausos do público e a melhor crítica, a ponto de terem a agenda tão cheia de compromissos que têm de recusar muitos convites.

Foi uma demorada excursão que terminaria em Madri, onde o êxito não foi menor. No retorno ao Brasil, no entanto, sentiram que não passavam de uns ilustres desconhecidos e que a música que faziam não correspondia ao interesse das gravadoras e das emissoras. É quando fazem três discos na gravadora Continental, lançados em 1953/54: Tambor Índio/Acara Cary (16.869), Pássaro Campana/Fiesta Linda (16.913) e Te Besaré/Te Quiero Mucho Más (16.972).

AMÉRICA
Cientes de que santo de casa não faz milagre, como diz o ditado, partem, em 1954, para uma nova excursão pelo exterior, a fim de se exibirem inicialmente no Rádio City de Nova Iorque, precedida de uma pequena temporada em Cuba. Gravam, em 1957, na RCA Victor americana, um Lp. chamado Sweet and Savage (Doce e Selvagem), no qual incluem o bolero Maria Helena, de Lorenzo Barcelata, melodias brasileiras e outros standars latinos, que todavia passa despercebido.

Voltam ao Brasil, encetando nova tentativa de penetrar no mundo artístico de sua terra. Não obtendo a mesma aceitação do exterior, resolvem encerrar as atividades artísticas. Como as economias feitas, efetuam a compra de uma propriedade rural na localidade de Araruama, distante cerca de cem quilômetros do Rio de Janeiro, com mais da metade da área coberta por mata virgem. Com a maioria dos trinta e quatro irmãos, fazem da agricultura seu novo meio de existência, procurando reproduzir a vida tribal de sua infância no contato com a natureza.

O RETORNO
Estavam nessa vida anônima e calma, quando a mão do destino começou a agir. No verão de 1963, um produtor da Rádio WNEW, de Nova Iorque, para fazer o fundo musical de um programa humorístico, procura na discoteca da emissora uma música instrumental qualquer. Experimenta daqui e dali e, por acaso, puxa da prateleira justamente o Lp. Sweet and Savage, encontrando logo na primeira faixa em Maria Helena, o que estava querendo.

Assim, diariamente, o fox Maria Helena foi sendo tocado nesse programa de grande audiência. Não tardaria muito para que muitos ouvintes fossem se encantando e passassem a indagar quem eram aqueles grandes instrumentistas e como poderiam adquirir o disco.

Esses pedidos eram encaminhados à R.C.A. Victor, que, dado o volume das cartas, mandou editar um compacto simples, que, para sua surpresa, começou a ser vendido em todos os Estados Unidos em números impressionantes, a ponto de alcançar o 4º lugar no hit parade! Daí para o relançamento do Sweet and Savage, aquele de 1957, foi um passo. Resultado: 2º lugar entre os estéreos e 4º lugar entre os monos no ano de 1963!

Os executivos da R.C.A. Victor, diante de fatos tão inacreditáveis, comunicaram-se com sua filial do Rio de Janeiro, com a ordem expressa de que aqueles índios fossem localizados e embarcados imediatamente para Nova Iorque, pois queriam produzir com eles novos discos.

Encontrá-los, porém não foi nada fácil. Ninguém sabia onde tinham se escondido. Por fim, são encontrados no seu retirado sítio de Araruama, às margens da lagoa do mesmo nome.

- Pensávamos que fosse brincadeira. Só acreditamos mesmo quando recebemos a passagem de ida-e-volta e ajuda de custo para seguir com destino a Nova Iorque com tudo pago...Ficamos hospedados nos melhores hotéis e só não gostamos mesmo foi do tal caviar servido todos os dias - contava Mussaperê.

Em apenas trinta e seis dias, gravam em Nova Iorque dois Lps. e dois compactos, com destaque especial para Moonlight and Shadows, Solamente Una Vez e Always In My Heart, tendo esta última vendido rapidamente 200 mil cópias e ido para o 3º lugar nas paradas.

Os convites para se apresentarem por todos os Estados Unidos não cessam de chegar, assim como para a Europa e o Japão, onde também se tornam ídolos. Em muitos concertos são acompanhados por orquestras filarmônicas. No início dos anos 70, já estão com 48 Lps. gravados e oito milhões de cópias vendidas.

Tudo parece mesmo criação de algum delirante ficcionista, mas é a vida real e fantástica de dois pobres índios, que de uma aldeia perdida numa serra brasileira, um dia iniciaram sua jornada, rumo ao sucesso internacional, caminhando a pé."

O texto acima não representa a biografia completa do artista, mas sim, partes importantes de sua vida e carreira.


*  *  *

terça-feira, 5 de setembro de 2017

DO FUNDO DO BAÚ


LANÇAMENTO DO LIVRO "O BAÚ DA GAIATICE"

Há 18 anos (maio de 1999) fizemos o lançamento do livro O BAÚ DA GAIATICE no Pirata Bar da Praia de Iracema, com show do humorista Hiran Delmar e presença maciça dos amigos. O livro já está na terceira edição, totalizando uma tiragem de 5 mil exemplares. O lançamento da primeira edição foi destaque na imprensa. Tivemos matérias de página inteira em alguns jornais, dentre os quais O POVO, Diário do Nordeste, O Estado, Tribuna do Ceará e o tablóide HOJE, que fazia muito sucesso na época.


ARIEVALDO E A ARTE DE FAZER RIR


BLANCHARD GIRÃO 
 jornalista e escritor


Se alguns resquícios etílicos ainda me afetavam o fígado, foram definitivamente curados. Tudo por conta do "Baú da Gaiatice", de Arievaldo Viana, que lí de uma tirada só no último fim-de-semana. Ri a bandeiras despregadas com os "causos" colhidos no filão riquíssimo da cultura popular em suas diversas vertentes, a sertaneja, em primeiro lugar, a suburbana e a anedótica nascida nos meios mais intelectualizados.
Tudo seria vulgar não fosse a capacidade própria de Arievaldo no saber contar, dando a cada estória o seu toque pessoal, a sua graça de humorista.
Nesta coletânea, enriquecida pelo traço irreverente de Klévisson (irmão do autor) e a colaboração valiosa de Pedro Paulo Paulino, Tarcísio Matos, Sílvio Roberto Santos e Jota Batista, deparamo-nos com autênticas jóias do humor, capazes de fazer inveja a um Quintino Cunha, a Emílio de Menezes ou a essa turma que, outrora no Pasquim, hoje empolga o País pelas páginas do novo sucesso editorial brasileiro, a revista "Bundas".
Personagens marcantes, como esse incrível Broca da Silveira, Tia Santana, Miguel Carpina, Zé Freire e muitos outros, joeirados pelo autor e seus colaboradores nas conversas de bodegas do interior e da periferia da cidade grande, colocam-nos diante de estórias hilariantes, reunindo o jocoso, o irônico, o espontâneo e o absurdo que se encontram sob a aparência geralmente rude do homem comum.
"O Baú da Gaiatice" tem o sabor de um cinema-mudo chapliniano, embora sem quaisquer pretensões estéticas. É a pedra preciosa em seu estado de pureza, ligeiramente lapidada pelo talento de quem a reapresenta. Momentos de autêntico estudo da psicologia da alma ingênua do povo, que nem todos têm a competência de perceber e revelar na plenitude de sua beleza.
Em "Sabugo Reciclável", "As Naftalinas", "A Festa do Zuca" ou em "Um Jegue que me Carregue"- para lembrar apenas algumas das estórias singelas que Arievaldo cascalhou no manancial inesgotável da alma da rua  está o melhor do humor cearense dos dias presentes. E olhe que humor é o forte dessa gente que, com Chico Anysio, Falcão, Renato Aragão e muitos outros, tem conseguido provocar a alegria desse Brasil tão amargo do momento. 
Vale a pena adquirir e ler "O Baú da Gaiatice", com apenas 134 páginas, abrigando um fantástico universo de "causos" capazes de levar às gargalhadas o mais circunspecto dos homens.


(Artigo publicado no jornal O ESTADO, em junho de 1999)