quarta-feira, 30 de maio de 2018

CARTAZES DE JÔ OLIVEIRA

Meu parceiro Jô Oliveira, ilustrador de diversos livros da minha bibliografia, acaba de produzir SEIS CARTAZES belíssimos para uma produtora de filmes da Bahia: Montanhas Filmes.








Fonte: https://www.obrasildejooliveira.com.br/

segunda-feira, 28 de maio de 2018

EM CANINDÉ

SOB A LUZ DA LAMPARINA



A greve dos caminhoneiros foi um dos fatores que resultou no adiamento do lançamento do livro NO TEMPO DA LAMPARINA. Sim, meus caros, querosene também é um combustível derivado de petróleo! O que não faltou foi cerveja, logo após esse encontro maravilhoso, no 'pré-lançamento' que ocorreu no auditório da CDL de Canindé, com a presença dos amigos Arlando Marques, Alfredo Paz, Toinho Pereira, Higino Luiz Barros de Mesquita (ex-prefeito de Canindé), Prefeita Sonia Costa, de Madalena e minha esposa Juliana Araújo. Outros amigos que compareceram (mas que não aparecem nessa foto): Izabel Pontes, Maria Clara Pontes, ex-prefeito de Canindé Celso Crisóstomo, Padre Moacir Cordeiro Leite, poeta Sílvio Roberto Santos, escritor Augusto César Magalhães Pinto, radialista Ney Alcântara, Pedro Adriano e algumas crianças que também abrilhantaram esse momento com a pureza de seus sorrisos infantis.

quinta-feira, 24 de maio de 2018

LAMPARINA



NO TEMPO DA LAMPARINA
Será sábado que vem, no auditório da CDL de Canindé, o pré-lançamento do livro “No Tempo da Lamparina”, do confrade Arievaldo Viana. Incluindo memórias, anedotário, causos, cordel, humor e perfis biográficos, “No Tempo da Lamparina” sequencia a dedicação que Arievaldo vem mantendo fielmente em favor da cultura popular cearense, especialmente dos sertões de Canindé, onde o autor conserva fortes laços de vida.

A publicação vem somar-se a outras já lançadas, num ciclo cultural que teve início nos anos noventa. Por esse tempo, Arievaldo encetou o projeto Acorda Cordel na Sala de Aula, pontapé que, no apagar das luzes do século passado, fez reacender a chama da literatura autêntica do povo. De lá para cá, a trajetória literária desse canindeense de alma nascido no município de Quixeramobim é tão-somente de ascensão, para regozijo dos leitores de seus livros e folhetos de cordel.
Chargista, xilogravador, poeta e escritor de nomeada premiado por aí afora, Arievaldo segue firme apostando na leitura impressa, convicto de que a era da informática só trouxe benefícios ao mercado editorial. Não é à toa, exatamente por isso, que as publicações de Arievaldo primam pela excelência da apresentação gráfica, visto que essa é também uma das searas do seu grande talento.
Nascido na zona rural, Arievaldo viveu sua meninice quando ainda havia infância pura. E dessa infância, guarda ele o mais nobre repertório de fatos jocosos, de pessoas simples, causos singulares, cenas sertanejas, situações típicas de nossa gente criativa e forte. Uma carrada de lembranças interessantes preservadas numa memória prodigiosa, e compartilhadas com o público por meio do livro. Dizendo melhor: dos livros que Arievaldo escreve, com o fervor de sua sensibilidade sempre apurada.
Com isso, o poeta reafirma seu dom, contribuindo seguramente para a manutenção viva da cultura popular, que tem como palco altaneiro o sertão nordestino – no nosso apreço, o sertão cearense. “No Tempo da Lamparina” é o filho caçula, por enquanto, da notável capacidade intelectual e emotiva de Arievaldo, que ainda brochote, agitou o meio cultural canindeense, com os diversos vieses de sua criatividade e com o apoio espiritual de homens da grandeza dos saudosos Professor Laurismundo Marreiro e do jornalista e escritor Chico Karam, sem esquecer o cordelista Gonzaga Vieira, que há pouco nos deixou.
Ora cinquentão, Ari presenteia-nos com mais um filho de seu estro fecundo. O lançamento do livro “No Tempo da Lamparina” acontecerá por ocasião da sessão mensal da Academia Canindeense de Letras, Artes e Memória (ACLAME), mas será também aberto ao público. Valerá, portanto, a pena conferir.
Pedro Paulo Paulino
Poeta e jornalista

quarta-feira, 23 de maio de 2018

SERTÃO DAS MEMÓRIAS


NO TEMPO DA LAMPARINA
II VOLUME DE MEMÓRIAS
DE UM MENINO SERTANEJO



Pré-lançamento do novo livro de Arievaldo Vianna, neste sábado, 26/05, em sessão da Academia Canindeense de Letras.

Data: 26 de maio de 2018
Local: Auditório da CDL de Canindé
Horário: a partir das 9h
Entrada aberta ao público.
Informações: arievaldoviana@gmail.com.br

  
O sertão das nossas memórias

“No tempo da lamparina – Memórias de um Menino Sertanejo” é o título do novo livro de Arievaldo Vianna, espécie de continuação do livro “Sertão em Desencanto” lançado em maio de 2016. Como nas antigas estórias de Trancoso, em que fabulosos tesouros são desenterrados, Arievaldo Vianna abre, nesta obra, os baús da própria memória, e tira de lá um mundo de vivências que retratam não apenas suas experiências individuais, mas todo o quadro de um sertão desconhecido das novas gerações.
Já para os que, como ele, nasceram naquela parte do mundo nos anos 1960 – e que, portanto, viveram no mesmo cenário e em circunstâncias semelhantes – este livro tem o condão de os transportar instantaneamente para aquela realidade de cores fortes e sons marcantes...
Foi assim que ao ler avidamente cada página pisei novamente na areia fria do riacho à sombra dos pés de oiticica, ouvi os bandos de capotes no terreiro, senti o cheiro do ferro a brasa, da folha verde de marmeleiro e da cinza de fogão a lenha que se misturava aos objetos do precioso monturo... ouvi o tilintar dos chocalhos pesados das vacas, e dos mais delicados, das ovelhas, sendo tangidas nas capoeiras, pelo familiar aboio dos vaqueiros...
Percorri o corredor da casa de fazenda, abri o caixão da farinha e vi, na despensa, a prateleira dos queijos e os baús de redes lavadas e cheirando a sol, prontas para receber hospitaleiramente qualquer viajante que chegasse, a qualquer hora do dia ou da noite.
O valor de obras como esta ultrapassa em muito o papel de reavivar memórias familiares. Este livro é o retrato histórico de uma época, o que enriquece o conhecimento que se tem a respeito da humanidade, cuja jornada é a somatória de cada vivência, cada saber particular e de grupos ou comunidades.
Assim, nas memórias bem-humoradas de um menino atento ao mundo à sua volta, vêm à tona tradições e práticas que se perderam completamente ou estão em vias de desaparecer, como o trabalho artesanal do curtidor de couro.
São muitas histórias, boas de contar, de ler e de ouvir, pelos que as viveram e pelos que nunca imaginaram que tal mundo possa ter existido.

Ana Rita Araújo (jornalista)

segunda-feira, 21 de maio de 2018

LANÇAMENTO

NO TEMPO DA LAMPARINA


No próximo sábado, 26 de maio, faremos o pré-lançamento do livro NO TEMPO DA LAMPARINA - II VOLUME DE MEMÓRIAS DE UM MENINO SERTANEJO na reunião da ACLAME - Academia de Letras Canindeense, a partir das 10h, no auditório da CDL. O lançamento será coordenado pelo presidente da entidade, escritor e radialista Tonico Marreiro.

O nono capítulo do livro NO TEMPO DA LAMPARINA - II VOLUME DE MEMÓRIAS DE UM MENINO SERTANEJO, traça o perfil de diversas figuras com as quais convivi (ou ainda convivo) desde a juventude, dentre elas: Ribamar Lopes, Luiz Campos, Gonzaga Vieira, Chico Karam, Mestre Azulão, Alberto Porfírio e Laurismundo Marreiro, todos já falecidos e também Jota Batista, Itami de Moraes, Chico dos Romances e Lucas Evangelista.












quinta-feira, 17 de maio de 2018

ANOTAÇÕES DE UM ANDARILHO



ESCRITOR MARCOS MAIRTON LANÇA NOVO LIVRO EM FORTALEZA

“Breves Anotações de um Andarilho” - O mais recente livro de Marcos Mairton é composto por textos curtos, que cabem em uma página. Setenta deles. Adornados por ilustrações de Valdério Costa.
O autor não esconde que sua intenção é a de que sejam textos em prosa. Chama-os de microcontos. Não por narrarem pequenas histórias, mas por usarem poucas palavras para que essas histórias sejam narradas.
Mas há controvérsias. Na apresentação da obra, José Paulo Cavalcanti Filho, profundo conhecedor da obra de Fernando Pessoa, diz:
A busca por novos caminhos leva Marcos Mairton, nesse livro, a incorrer em um gênero (ainda) indefinido, na literatura. Que nem é prosa, nem é poesia. Usando, como ferramenta solitária, seu gênio superior. E só quem tem absoluto controle da técnica, e plena consciência dos desafios que isso oferece, tem coragem para realizar uma ideia revolucionária como a deste livro. Talvez porque, assim diz, “Sem mais nada a perder, perdeu o medo” (O Perdedor). Nesse ponto, vale a pena oferecer, ao leitor, uma pequena mostra da qualidade que se vê em alguns versos (se versos forem) do livro:
“E caminhando vive. E, enquanto vive, caminha” (Andarilho).
“De tanto que se recusou a ouvir o próprio coração, este um dia cansou e calou-se para sempre” (Cardíaco).
“Comeremos o pão que o diabo amassou. E a menina ficou feliz, imaginando que não passariam fome naquele dia (Fome).
Sejam os textos prosa ou poesia, o que se percebe é que eles, ao mesmo tempo que têm existência própria, compõem um todo. Isso talvez diga um pouco do título da obra. Seriam as breves anotações de alguém que anda pelo mundo, observando o que se passa fora e dentro de si mesmo.



Marcos Mairton, nasceu em Fortaleza, Ceará, a 17 de agosto de 1966. É escritor, poeta, cordelista, compositor e juiz federal. Tem diversos livros publicados, dentre eles, O Quilombo do Encantado, com ilustrações de Jabson Rodrigues, incluído no Programa Nacional Biblioteca na Escola - PNBE 2012; Um sapo dentro de um saco, com ilustrações de Eduardo Vieira, incluído no Programa Nacional do Livro Didático - PNLD 2013; e Uma Aventura na Amazônia, ilustrado por Rafael Limaverde, com várias edições pelo IMEPH, desde 2008, adotado como material paradidático em escolas de vários municípios. É editor do blog Mundo Cordel e membro fundador da Academia Quixadaense de Letras e da Academia Brasileira de Cultura Jurídica - ABCJuris.


Valdério Costa é ilustrador, artista visual e escritor. Vencedor na categoria Mestres, do Prêmio Culturas Populares 2017, do Ministério da Cultura. Nos últimos 20 anos realizou exposições individuais e participou de feiras, bienais e exposições coletivas. É graduado em Artes Plásticas pela Universidade de Brasília. Professor de Artes Visuais e História da Arte da Secretaria de Educação do Distrito Federal. Atua como docente em escolas públicas e privadas ministrando oficinas práticas e teóricas sobre a técnica de xilogravura e de ilustração. Ilustrou, entre outros os livros: Dez cordéis nota 10, 2016; O lobo milionário e os três porquinhos, 2016; O mundo de mundim, 2013; A cartomante em cordel, 2012; A escrava Isaura em cordel, 2011; Vertentes e evolução da literatura de cordel, 2011; Adivinhas do curioso e do respondão, 2011; Vida e obra de Gonzagão, 2011.



LANÇAMENTO!
Dia 17/05 - LIVRARIA BENFICA, a partir das 19 horas

Dia 18/05 - LIVRARIA CULTURA, a partir das 19 horas.

quarta-feira, 16 de maio de 2018

CORDEL NA ESCOLA



ABC DAS MARAVILHAS

A poesia popular está chegando à escola. Do Ceará para todo o Brasil, o projeto Acorda Cordel Na Sala de Aula, criado pelo poeta Arievaldo Viana, vai espalhando a arte do folheto e da cantoria como ferramenta auxiliar (e lúdica) na aprendizagem formal.
Por Eleuda de Carvalho da Redação




De recuperação, aquela dúzia de meninos e meninas. Sentadinhos, um tanto enfastiados na tarde morna, numa sala pintada de cor goiaba, na escola municipal Madre Teresa de Calcutá, ali por trás do Pão de Açúcar da Aguanambi. Naquele dia, em vez da aula de recuperação, a turma vai conhecer um projeto que já vem dando muito o que falar em muitos lugares do Brasil. "Ceará, Rio Grande do Norte, Tocantins, Paraná, Paraíba, Minas Gerais e São Paulo já conhecem e aplaudem essa idéia", diz Arievaldo Viana, o criador do projeto Acorda Cordel na Sala de Aula. Falar em cordel, é também falar do mano do Ari, o poeta e desenhista Antônio Klévisson, que criou a editora Tupynanquim, responsável por fazer uma ponte entre a nova geração e os clássicos da poesia de cordel. A premiada novela gráfica dele, Lampião... era o cavalo do tempo atrás da besta da vida, foi adotada pelo Ministério da Educação. "Já foi impressa a nova tiragem pela editora Hedra, de São Paulo. A gente faz assim, vai comendo pelas beiradas, à moda índio comendo canjica quente".
Gerardo Frota Carvalho, o Pardal, vice-diretor da escola, é também poeta cordelista. Os alunos do Madre Teresa já têm um contato com esta literatura popular impressa e também com a poesia oral, assim como o teatro de bonecos. O professor Pardal é também poeta. É dele o folheto As aventuras da família Microbim, usado em sala de aula para fazer pensar questões ligadas à saúde e higiene. "Quando o tempo sobra, vou criando", diz. Estão presentes ainda, para apresentar o projeto Acorda Cordel, o cantador repentista Zé Maria de Fortaleza e o cordelista Antônio Carlos da Silva, o Rouxinol do Rinaré. Duas professoras de Maracanaú, Eudézia Aveiro Sales e Eliane Taveira, que escrevem monografia sobre as experiências didáticas do cordel, também foram convidadas e acabam de chegar. Um cordão num canto da sala traz folhetos pendurados, criando visualmente o significado do nome que se dá a este incrível livrinho, de capas com desenhos ou xilogravuras, e dentro uma história muito bem contada em rimas perfeitas e versos cadenciados. Sobre uma mesa, perto da lousa, o leque de inúmeros folhetos atraindo os olhos da meninada. Só uma lambiscada dos cerca de 120 mil cordéis publicados pela Tupynanquim, de 1999 pra cá.
Arievaldo, vestindo um colete sertanejo, espécie de gibão urbano feito pelo mestre Pedro Artesão, antes de principiar a contar a história do cordel - que é por si uma aula divertida de história do Brasil e da Península Ibérica, e falar de Gregório de Matos Guerra, o Boca do Inferno, poeta baiano que no século 17 divulgava sua ferina arte em simples folhetos escritos a mão, e de contar dos pioneiros desta arte propriamente dita, feito o poeta Silvino Pirauá; e de dizer, também, que cordel e imprensa, no Brasil, isto é, comunicação erudita e popular impressa, "são da mesma idade" (que à colônia foi proibido por ordem real ter tipografias, lei revogada somente em 1808, "com a vinda de D. João VI, que levou uma carreira de Napoleão"). E ainda, antes de explicar quem foi Leandro Gomes de Barros, que estabeleceu o modelo de folheto usado ainda hoje em dia, pegou de vez o público, todos virados meninos naquela hora abafada, ao contar como foi que ele, Arievaldo, começou a ler.
"Falou-se muito na morte do cordel, nos anos 90. Diziam que só restaria o folheto circunstancial. Este foi o grande engano dos pesquisadores. Que ninguém duvide do charme deste pequenino produto, no passado nem tão longe, poderoso veículo de alfabetização. Quando eu tinha cinco anos, aprendi a ler na coleção de folhetos que minha avó guardava numa maleta. Ela lia pra mim, eu ficava encantado", conta Arievaldo. A vó dele, dona Alzira, leu pra ele a história de João Grilo. Ari interpela os alunos, todo mundo levanta a mão - já conheciam o danado presepeiro a partir da minissérie Auto da Compadecida, a mais famosa peça do mestre Ariano Suassuna. Ari recita trechos do cordel, de cor - versos que ele aprendeu menino, juntando letra à letra, soletrando as sílabas, cantando a cadência da história, ritmada. Talvez seja o cordel a saída mais prazerosa e eficaz para um drama que se vê na escola pública de hoje: crianças terminando o ensino fundamental sem saber ler. Uma das mais novas produções dos cordelistas cearenses está na coleção Baião das Letras, editada pela Secretaria Estadual da Educação, em parceria com a Secult. São 25 histórias, de diversos gêneros - crônica, poesia, teatro, conto - em livrinhos ilustrados destinados a escolas de 60 municípios de baixo IDH (Índice de Desenvolvimento Humano).



Entre motes e rimas

Acorda Cordel não é só conversa, por mais animada que seja - é vivência prática. Arievaldo Viana utiliza o material à mão, lousa, giz e slides, para falar de métrica, rima e oração. Cada criança ajuda, brincando de rimar as palavras, de entender como se cria uma estrofe. Mas, além desta poesia "de bancada", como os poetas dizem, isto é, impressa, escrita, explica ele, há a modalidade do improviso, na qual são mestres os cantadores de viola. É aí onde entra em cena, com sua bela viola de repentista, o cantador Zé Maria de Fortaleza. Ali, literalmente no calor da hora, vai improvisando rimas - e consegue chamar a atenção da menina que estava desatenta, inventando ali na bucha uma estrofe com ela, e segurando outra vez sua atenção. Arievaldo Viana recita o texto A Raposa e o Cancão, e depois Klévisson também conta um dos seus livros, O pulo do gato. Rouxinol do Rinaré apresenta a versão que fez para o romance Iracema: Um curumim, um pajé e a lenda do Ceará.
Para saber mais sobre o projeto Acorda Cordel, e conferir novas imagens das oficinas e informações, é dar uma espiada no fotolog do Arievaldo Viana, no endereço http://.com.br/acorda_cordel:74. Entre os dias 5 a 7 de fevereiro, o projeto será implantado em Reriutaba (o primeiro município cearense a encampar a idéia foi Canindé), com uma oficina de capacitação para 135 professores. Cada um receberá um kit completo do projeto Acorda Cordel - o livro básico, uma caixa com 12 folhetos e um CD com romances e poemas declamados por Geraldo Amâncio, Zé Maria de Fortaleza, Azulão e Arievaldo Viana. Será também inaugurada uma cordelteca, com cerca de mil folhetos, contando com a presença do presidente da Academia Brasileira de Literatura de Cordel, o poeta Gonçalo Ferreira da Silva. No site Overmundo, artigo do jornalista Edson Wander, de Goiânia, fala da recepção do Acorda Cordel pelo país. Confira, no endereço www.overmundo.com.br/overblog/patativa-nao-era-analfabeto. Os folhetos que fazem parte do projeto são publicados numa parceria entre Tupynanquim e a editora Queima-Bucha, de Mossoró. Os folhetos podem ser encontrados, avulsos ou em caixas temáticas, nas livrarias Livro Técnico e na banca Tupynanquim, no Dragão do Mar.

FONTE: Jornal O POVO - Fortaleza-CE (fevereiro de 2007)

CONTO POPULAR


A MULHER QUE ENGANOU O DIABO





Meu avô Manoel Lima contava o interessante causo da MULHER QUE ENGANOU O DIABO.
Tal fato aconteceu, justamente, porque a dita mulher possuía um cabelo comprido e volumoso, que chegava perto dos joelhos. O marido da criatura vendera a alma ao Tinhoso e como é de praxe nesses casos, o Fute marcou o dia de vir buscá-lo. Só o dispensaria se o coitado adivinhasse a sua idade.

Ao aproximar-se a data fatídica, o marido acabrunhado deitou-se numa rede e se pôs a gemer inconsolável. A mulher sabendo do problema disse a ele que não se incomodasse que ela haveria de descobrir os anos do Capeta. Possuidora de uma vasta cabeleira, que passava da cintura, a mulher bolou uma estratégia. Ficou completamente despida, se acocorou no meio da estrada, por onde o inimigo haveria de passar, e se cobriu com o cabelo. Quando o Diabo vinha, a cavalo, a mulher se levantou de repente e mostrou a bunda, saindo do meio daquela moita de cabelos. O capeta tomou um susto e disse:
- Que marmota é essa? Estou com sete mil, duzentos e quarenta dois anos e nunca tinha visto uma coisa parecida!!! Figa!
A mulher saiu correndo, por dentro do mato, e foi dizer ao marido a idade do Capeta. Foi assim que a astuciosa criatura livrou o marido das garras do Tinhoso.

(Arievaldo Vianna)

domingo, 13 de maio de 2018

CORDEL DAS MÃES



Árvore da Vida (lactância) - Imagem Pinterest

POEMA PARA O DIA DAS MÃES
Apolônio Alves dos Santos

Vários poetas versaram
Belas canções maternais,
Os temas já se esgotaram
Mas pretendo versar mais
Sobre minha mãe querida
Os meus deveres exigem,
Por ela ter sido origem
Dos dias da minha vida.

Lá da santa eternidade
Mamãe, implore a Jesus
Que ajude por caridade
Eu carregar minha cruz
Pr um caminho sensato
E guie mais os passos meus
Pelo santo amor de Deus,
Perdoe este filho ingrato.

Fui um filho ingrato, sim!
Por não ter reconhecido
O que mamãe fez por mim...
Em não ter correspondido
Com a dor do sentimento
Chorar muito eu necessito
Lamento triste e aflito
Com grande arrependimento.

Mamãe, aceite a mensagem
Que lhe envio de presente...
Quero prestar-lhe homenagem
“Remorsionadamente”
E cheio de nostalgia.
Reflito, muito sentido,
Por não ter retribuído
O que você merecia.

Quem tiver sua mãe viva
Levante as mãos para o céu
Que uma mamãe compassiva
Não deixa um filho ao léu...
A minha já fez partida...
Deixou-me banhado em choro
Perdi o maior tesouro
Que já possuí na vida.

São nove meses de dores
O quanto uma mãe padece
E mais muitos dissabores
Que o filho não reconhece
Quanto uma mãe sofredora
Do filho tudo defende,
Mas o filho não entende
O valor da genitora.

Este lindo poema foi escrito pelo grande poeta popular Apolônio Alves dos Santos (1926 – 1998), autor de O Herói João Canguçu, entre outros clássicos do cordel. O presente poema foi publicado como apêndice ao folheto A MOÇA QUE SE CASOU 14 VEZES E CONTINUOU DONZELA, do mesmo autor, editado pela Luzeiro,de São Paulo. (Marco Haurélio)

domingo, 6 de maio de 2018

ANIVERSÁRIO DO POETA



Foto: Raimundo Cândido (Ribeira do Poti)


Hoje, 06 de maio, é o aniversário do poeta João Lucas Evangelista, Mestre da Cultura do Ceará:

De JOÃO GRILO e de CANCÃO
O poeta herdou a manha
A defesa do CORDEL
Foi sempre sua campanha
Sem jamais sair da pista
JOÃO LUCAS EVANGELISTA
MENESTREL DA CALAMBANHA.


 Foto: Arusha Oliveira

LUCAS EVANGELISTA,
O MENESTREL DO REINO DA CALAMBANHA*

“No castelo das pedras sertanejas
Brilha o sonho do povo brasileiro.”
(Ariano Suassuna)

Saímos bem cedo de Fortaleza, eu e meus compadres Stélio Torquato Lima e Arusha Oliveira, seguimos pela BR 0-20 até Canindé e de lá tomamos o rumo de Santa Quitéria, Hidrolândia, Ipueiras e Crateús, munidos de gravadores, filmadoras e câmeras fotográficas. O objetivo era entrevistar o Fabuloso Menestrel do Reino da Calambanha em seu habitat natural.
Se o leitor ainda não sabe quem é o misterioso personagem em questão, trata-se do autor das consagradas canções “Carta de um marginal” e “Tostão de Chuva”, ninguém menos que o velho bardo João Lucas Evangelista. Nascido no ano da graça de 1937, Lucas Evangelista teve a sorte de nascer cearense porque, no século XIX, o nosso Estado resolveu permutar a belíssima Parnaíba, com seu delta exuberante e clima agradável, pela aridez e o calor de Crateús. Se não foi uma boa troca, pelo menos ganhamos um poeta. Fizemos essa pitoresca viagem no “Astronauta Libertário”, um velho carango que meu compadre Stélio mimava com chistes e agrados. Até instalara um aparelho de tocar CD's, razão pela qual a viagem de ida foi embalada por canções de Roberto Carlos e Belchior.
Como diz a “Canção de Gesta” de Jorge Mello e Belchior, enquanto o som do alto falante rolava e me dava o toque, fui relembrando o início de minha amizade com esse trovador eletrônico chamado Lucas Evangelista. Acompanho o seu trabalho com bastante interesse, desde a época em que o conheci nos festejos religiosos da cidade de Canindé-CE, no comecinho da década de 1980. Ali o poeta comparecia duas vezes por ano, na Festa de São Francisco e no Natal, vendendo folhetos, discos e fitas K7 contendo a sua inspirada produção poética. As canções "Filho de cigano" e "Veniz, o cão de guarda" são as minhas preferidas, embora seu maior êxito nessa seara ainda seja "Carta de um marginal". Dos romances publicados em folheto gosto de "As aventuras de João Desmantelado", publicado pela Editora Luzeiro e "Lucilane, o vaqueiro valente nas vaquejadas do céu", este último um clássico do gênero. Foi Lucas que, de certa forma, me estimulou a publicar meus primeiros folhetos. Por volta de 1997, encontrei o poeta novamente em Canindé, porém bastante desanimado em relação ao futuro da Literatura de Cordel. Disse-me que as principais editoras estavam fechando e que não havia uma nova geração para dar continuidade à tradição. Isso serviu-me de alerta para iniciar uma "campanha" em prol da revitalização do cordel.
Seguramente, minha conversa com Lucas Evangelista em 1997, sobre a situação em que se encontrava o cordel, mais precisamente o folheto, o suporte tradicional da poesia popular, foi o fator determinante para que, a partir de então, eu abraçasse a cruzada de difundir e revitalizar essa arte pelos quatro cantos do país.
Chegamos em Crateús por volta do meio dia e já éramos esperados pelo velho bardo que, juntamente com o escritor Raimundo Cândido, nos levaram até os estúdios da rádio Educadora, onde participamos de uma animada entrevista. Em seguida, fomos recepcionados por membros da Academia de Letras de Crateús, cuja sede funciona na antiga estação ferroviária. Foi ali, cercados por livros, folhetos e homens de letras, que ligamos o nosso equipamento para colher o depoimento de Lucas Evangelista e outros poetas da região. Foi uma conversa longa, reveladora e bem descontraída, mas ao concluir a entrevista me parecia haver faltado algum elemento, algum ingrediente picaresco, já que Lucas Evangelista é um verdadeiro Cancão de Fogo, um amarelinho muito do sabido, como seu xará João Grilo e o irrequieto Pedro Malazartes. Por sinal, seu único irmão chamava-se Pedro, razão pela qual o velho editor Joaquim Batista de Sena os identificava com esses personagens do cordel. Disse-me o Lucas que certa feita eles saíram com duas malas de folhetos para o Mercado São Sebastião, em Fortaleza, quando a esposa de Joaquim Batista de Sena se mostrou preocupada:
— Hein, Joaquim... Você mandou os meninos para o mercado, com essas malas de folhetos e eu acabei de ouvir aqui no rádio que houve uma fuga no presídio e que os ladrões, possivelmente, já se encontram aqui em Fortaleza. E agora?
Sena começou a rir e tranquilizou a esposa desse modo:
— Ora, minha velha, os ladrões é que devem tomar cuidado com os Evangelistas!

(...)

* Trecho extraído do livro NO TEMPO DA LAMPARINA, de Arievaldo Vianna. Lançamento em breve!