quarta-feira, 24 de maio de 2017

CAUSOS DO PAULIM - 2


DE COMO PAULIM FOI PARAR
NO SANTANTÕIM DO BURACO

Por José Augusto Moita

     Aos mais jovens e aos que não são de Fortaleza, devemos primeiro dizer que o Santantõim do Buraco era um local aqui próximo onde existia uma escola de correição para jovens delinquentes. E agora vocês, que conhecem bem de perto o Paulim, hão de perguntar de queixo caído como pôde isso acontecer, se ele foi um menino de conduta ilibada, de ótimos antecedentes, religioso ao extremo e que só vivia do colégio para o lar. E lhes responderei, antes que pairem dúvidas sobre a dignidade de tão querido personagem, que tudo não passou de uma sórdida campanha, liderado por um invejoso desafeto que não suportava ver Paulim como o melhor aluno da classe, líder estudantil e presidente do Grêmio Escolar.

   
 A calúnia que resultou na desventura do nosso herói se deu no dia do aniversário de Dona Mocinha, jovem e bonita mestra sobre a qual Paulim nutria uma homérica paixão infantil. Só que ele não era o único. Q'suco, um garoto sardento do cabelo vermelho, capeta em forma de guri, também estava platonicamente enamorado da professorinha. E resolveu destruir seu concorrente através de uma sórdida trama: embrulhou cuidadosamente para presente uma caixinha daquelas que trazem dentro jóias acolhidas por chumaços de algodão, e no lugar do conteúdo, cuidadosamente alojado colocou um retorcido pelo pubiano. Posicionou o artefacto estrategicamente na gaveta primeira a ser aberta pela mestra, junto com um bilhete apócrifo que dizia: uma prenda do aluno mais elegante e bonito da escola.
      A diretora, depois de conseguir fazer tornar do desmaio Dona Mocinha, exigiu uma apuração sumária para descobrir o executor do atentado terrorista. Não tinha como Paulim escapar, tudo compunha em seu desfavor. Além do peremptório "mais elegante e bonito", por essa época ele já dedilhava alguns acordes ao violão, cantando uma modinha muito em voga à época que falava de cabelos em forma de caracóis. Não deu outra, desceu para o submundo dos apenados juvenis.
     Como nesse mundo não há injustiça que perdure, sua redenção veio através de quem menos se podia esperar, Dedé Sonho de Valsa, o cidadão alegre encarregado da higiene pessoal dos garotos. Ao submeter Paulim ao primeiro banho, o diligente encarregado, com seus olhar cirúrgico, observou que além de um diminuto pingolim, nosso futuro Gogó de Ouro da Maraponga ainda estava com a genitália completamente desprovida de pelos, a não ser uma rala e insignificante penugem. E de imediato fez um ofício à diretora, relatando que o material encontrado no corpo do acusado era  incompatível com o objeto da acusação. Graças a essa alma caridosa se deu a absolvição do Paulim, que pode ir para o conforto do seu lar, mas antes passando pelo escritório do Dedé para ganhar um Sonho de Valsa.

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