Acervo Carlos Juaçaba
JÁ SAIU O ‘BORÓ’?
Devido o sucesso da postagem "MORREU MARIA PREÁ" (http://acordacordel.blogspot.com/2012/02/morreu-maria-prea.html), expressão genuinamente cearense, tenho pesquisado outras de igual popularidade, como "VOCÊ NÃO É BARROSO", "LEI DO CHICO DE BRITO" e "JÁ SAIU O BORÓ?"
Pois é... Eu sou do
tempo que o colega de trabalho chegava na roda de conversa, no fim do mês e
perguntava: - E aí, pessoal, já saiu o BORÓ?
BORÓ – Segundo o Novo Dicionário do Aurélio da Língua
Portuguesa, 2ª edição revista e aumentada da editora Nova Fronteira, seria um
peixe elasmobrânquio da família dos paratrigonídeos. 2. Ficha. Moeda divisionária
emitida por municipalidades ou por particulares (CE).
Segundo Raimundo de
Menezes (Coisas que o tempo levou –
Edições Demócrito Rocha, 2000), num livro chamado “Tratadinho de Câmbio”, o
professor Odorico Castelo Branco tenta explicar a origem do nome “boró” da
seguinte maneira: “o povo quando dá um nome, não diz de onde o ouve; e o nome
pega. Quanto ao boró, já me disseram que é, no sertão, o nome de um peixinho
muito miúdo (...) Alude, portanto, às pequenas dimensões dos vales circulantes
no Ceará”.
Não se sabe ao certo a
origem do nome, mas, segundo historiadores dignos de crédito, como o já citado Raimundo
de Menezes e Filgueira Sampaio, no fim do século XIX circularam em Fortaleza e
logo em todo o Ceará os famosos “borós”. Eram espécies de vales emitidos
inicialmente pela Câmara Municipal e pela Companhia de Bondes, para suprir a
falta de dinheiro miúdo. Os primeiros que surgiram eram impressos, depois todo
mundo passou a fazer os seus próprios borós, impressos, datilografados ou
escritos à mão mesmo, até os bodegueiros. Chegou a um ponto que quase não se
via mais o dinheiro propriamente dito. Quando o governo federal mandou acabar
com a inovação monetária a coisa já assumia grandes proporções e muita gente
que emitia borós sem ter dinheiro para resgatá-los acabou na falência. Na década
de 1980, com o Estado do Ceará em uma crise financeira, o então governador,
Gonzaga Mota (antecessor do Tasso Jereissati), andou reeditando o boró, com o
nome sugestivo de "gonzaguetas", apelido dado pelo povo para os novos
"borós". Desta vez, emitidos pelo próprio Governo do Estado, para o
pagamento do funcionalismo estadual. O comércio aceitou, foram todos depois
resgatados e tudo acabou bem.
Bem curioso é o caso
de um proprietário de sítio, natural do Baturité, chamado Clementino Holanda,
que para facilitar o pagamento dos seus assalariados emitiu borós a torto e a
direito, sem ter o devido lastro. Consta que esses vales exibiam o desenho de
um beija-flor. Como já era de se esperar, na época da quitação o resgate dos
borós não aconteceu e o sujeito ficou completamente desacreditado. Segundo
Raimundo de Menezes, até um cego pendinchão, que esmolava em Cangati,
cantarolava ao pé da viola:
Eu peço por caridade
Pelo seu divino
amor...
Eu só não quero boró
Que seja do “Beija-Flor”...
E mais essa outra
quadrinha:
Eu peço por caridade
Pelo seu Senhor Divino,
Eu só não quero boró
Que seja do
Clementino.
Para saber mais: http://www.fortalezanobre.com.br/2014/02/os-boros.html
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