quinta-feira, 4 de junho de 2020

HOMENAGEM DE JORGE MELLO AO POETA ARIEVALDO VIANNA

“NASCI PRA FAZER CORDEL” - Me dizia o amigo  Vianna.
De Jorge Mello

Nesse momento difícil pelo qual passamos, é muito triste se despedir dos amigos que se vão, roubados de nosso convívio pelo destino. Falo dessa vez de um nordestino, filho daquele chão de Quixeramubim no Ceará. Falo do poeta, escritor, cordelista autor de mais de uma centena de folhetos e mais de três dezenas de livros publicados. Falo de ARIEVALDO VIANNA. 
Guardo com respeito, carinho e admiração parte dessa produção em meu ACERVO. Éramos amigos, como irmãos. Perdi um colega, companheiro de papos dentro das noites, e um parceiro, porque escrevemos a quatro mãos, o folheto de cordel "PELEJA DO TROVADOR ELETRÔNICO COM O ROBÔ GOLIARDO” em homenagem a Belchior. Esse também se foi. E como o Ari, também meu parceiro. Com Belchior, em parceria, criamos 25 canções. Numa delas escrevemos: “A vida, é uma aventura da qual não sairemos vivos”. E vejo a confirmação desses versos de minha canção “Rock Romance de um Robô Goliardo”, acontecendo prematuramente com meu jovem amigo Arievaldo Vianna. Em nossa criação, o folheto de cordel citado, escrevemos essa peleja entre esses dois personagens, que foram criados por mim e Belchior, em nossas canções. 
Quem conhece o Nordeste, e “palmilhou seu chão sagrado”, sabe de como são fortes os cabras do sertão. Mas, o destino nos reserva surpresas como essa. Vem, e retira das artes, da cultura, da literatura, da xilogravura, do desenho, e, também do convívio dos amigos um de seus cabras, mais talentosos.
Meu conforto com essa enorme perda de Arievaldo Vianna, é ver que ficaram rastros desse enorme talento na forma de sua vasta obra, com descobertas impagáveis, como: “SANTANINHA - Um Poeta Popular na Capital do Império”; “LEANDRO GOMES DE BARROS – O Mestre da Literatura de Cordel – Vida e Obra”; “No tempo da Lamparina”; “São Francisco de Canindé”, e outros livros maravilhosos. Isso sem citar as centenas de títulos escrito em versos e publicados como folhetos de cordel.
Arievaldo Vianna era dotado da alegria necessária aos contadores de história, e do conhecimento necessário para falar das coisas do Nordeste, e da vivência necessária para criar seus folhetos de cordel, e sagacidade e talento para dominar a linguagem das artes a que se dedicou.
E para terminar, utilizo um texto meu já publicado numa revista de arte, que resume esse tipo de artista, essa espécie rara de pessoa. Perguntaram-me o que era o “dom” na música e na poesia. Respondi naquela oportunidade, depois de transcorrer sobre a habilidade do instrumentista e dos que têm domínio e qualidade da voz, explicando o que entendo por artistas que se dedicam às artes, e principalmente, às artes de escrever, e de trabalhar com a palavra. Disse eu naquela oportunidade:
“... para criar músicas e criar poemas, além da habilidade necessária e do conhecimento da técnica no trato com as palavras, com melodia e principalmente com a harmonia, há que ter uma coisa a mais. E, vendo assim, posso dizer que o “dom” é entendido como uma sensibilidade de ver longe, de ver por caminhos que outros não conseguem ver nada.”

Era isso que meu amigo Arievaldo Vianna tinha, esse “dom”, entendido como a capacidade e “sensibilidade de ver longe, de ver por caminhos que outros não conseguem ver nada!”

Jorge Mello (escrito na manhã do dia 04 de junho de 2020).

Publico uma estrofe escrita por mim, no folheto de cordel: “PELEJA DO TROVADOR ELETRÔNICO, COM O ROBÔ GOLIARDO” em homenagem a Belchior, escrito em parceria com Arievaldo Vianna:

O talento é igual ao diamante
Não tem brilho, nem cor sem o trabalho
Vem da força da terra no cascalho
Só então o carvão fica brilhante.
Poetar é um pouco desse instante...
Quando ferve a palavra em agonia
Sai a joia que só o poeta cria,
Escrever é o gozo triunfal...
Belchior é poeta universal
Já criou e fez tudo em poesia.

Esses meus versos, podem ser cantados também para meu querido amigo Arievaldo Vianna, substituindo a palavra Belchior, por ARIEVALDO. Assim ficaria no penúltimo verso:
“Arievaldo é poeta universal
Já criou e fez tudo em poesia!

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