Melindrosa com velho no colo (J. Carlos)
A Parcimônia
do Coronel
Humberto de Campos

Solto,
uma noite, na cidade, o coronel pôs-se a andar pela Avenida, indo ter ao ponto
dos bondes, à Rua Santo Antônio. Adivinhando-lhe a origem e o pensamento, uma
francesinha aproximou-se, o olhar petulante, o sorriso perverso, o gesto
desafiador.
—
Meu benzinho, por quanto você dá um beijinho na gente? — aventurou o
velhote,
com a cara mais sem-vergonha deste mundo.
—
Cinqüenta mil-réis, "mon cheri!"
A
essas vozes, o coronel meteu o guarda-chuva debaixo do braço, e continuou a
andar, tomando pela Treze de Maio. À esquerda da Evaristo da Veiga, sofreu
outro assalto. Fez a mesma pergunta.
—
Vinte mil-réis, "mon p'tit!"" — informou a aventureira.
Parcimonioso
e ajuizado, o "centenário" nortista não deu resposta. Pôs-se a caminhar,
de novo, guarda-chuva em punho, até que, na praia da Lapa, novamente abordado,
ouviu a terceira resposta.
—
Dez mil-réis, "p'tit cochon"!
Ia o
coronel, já de caminho, refletindo nessa redução de preços, obtida à proporção
que avançava, quando se encontrou com o seu amigo, patrício e compadre, o
capitão Teneredo Bordallo.
— Ó
compadre, por aqui?
— É
verdade, compadre!
—
Aonde vais?
Agostinho
meditou rapidamente sobre as economias a fazer, e informou:
—
Homem, eu mesmo não sei.
E
após um instante, pensando nas reduções já conseguidas:
—
Mas, pelo que vejo, compadre, eu vou a Copacabana!
(In Grãos de mostarda –
pequenos contos)
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