VICENTE VITORINO DE
MELO,
EXPOENTE DO CORDEL

Eu viajando este mês
Pela linha do agreste
Fui parar em uma feira
No dia de São
Silvestre
A feira é fraca e de
tarde
Dá cachaceiro por
peste...
Nessa dita feira o
poeta presencia a discussão de um crente com um cachaceiro. Tudo começa quando
o crente passa na calçada de um bar, com uma bíblia na mão e o bêbado
imprudente o convida para uma bicada. O crente condena veementemente o seu
proceder, porém o cachaceiro não se dá por vencido e usa diversos argumentos em
defesa da aguardente:
Você já leu alguns
livros
De fabricar
aguardente?
Pinga-fogo, Canta-galo...
- Deus me livre! –
Disse o crente,
De eu ler certas
misérias
Disse o bêbado: - São
matérias
De conteúdo excelente!
E, prossegue o
cachaceiro, na sua esdrúxula defesa da “branquinha”, sem dar a mínima atenção
aos argumentos do crente. Depois de citar o milagre das Bodas de Caná, onde
Jesus transformou água em vinho, diz o embriagado:
Você não bebe e nem
fuma
Cigarros da Sousa Cruz
Não dança devido a
cota
Um baralho não conduz
Que lucro dá ao país?
Você é um infeliz
Não um membro de
Jesus!
Quando eu bebo Serra
Grande
Eu me lembro da
ladeira
Que subiu Nosso Senhor
Num dia de
sexta-feira,
Lá foi muito judiado
Eu também sou
arrastado
Bebendo a cana
rancheira.
Todo domingo na missa
Eu ouço o padre
ensinar
Coma pão e beba vinho
Para poder se salvar
Eu ouvindo este sermão
Compro do vinho São
João
Bebo dele até topar!
Vicente Vitorino de
Melo
Por: Arievaldo Viana
Vicente Vitorino de
Melo nasceu em Limoeiro-PE, em 16 de novembro de 1917. Foi cantador de viola
até 1950, a partir daí começou a escrever folhetos e publicar um almanaque
anual de astrologia - o Almanaque do Nordeste, que existe desde 1952 e ainda
sobrevive nos dias atuais. Seu primeiro folheto data de 1948: "O exemplo
da asa branca profetizado por Frei Damião". Reside atualmente em Caruaru-PE
e possui alguns originais ainda inéditos. Um deles foi publicado pela
Tupynanquim Editora: trata-se de "O príncipe Alípio - ou o julgamento de
Satanás", onde Vicente demonstra ser um bom poeta de bancada. Sua obra
mais conhecida é "A discussão de um crente com um cachceiro", um dos
clássicos do gênero.
São de sua autoria os
seguintes folhetos: A filha da peregrina, A firmeza de Alzira e o heroísmo de
Zezinho, A morte do Coronel Ludugero, As anedotas do finado Antônio Marinho,
Discussão de um crente com um cachaceiro, Exemplo dos quatro conselhos,
História de Alexandrino e Aulina, História de Luizinho e o velho feiticeiro,
Horrores que a Asa Branca traz, João Sabido e o cacetinho mágico, O horror da
carestia, dentre outros.
Nenhum comentário:
Postar um comentário