terça-feira, 17 de setembro de 2019

FEIRA DO CORDEL BRASILEIRO



Desenho: JÔ OLIVEIRA | Arte: KLÉVISSON (Clique para ampliar)


Vem aí, a IV FEIRA DO CORDEL BRASILEIRO!

De 17 à 20 de outubro de 2019. Serão 4 dias de interação, valorização, difusão e troca de conhecimentos de uma das maiores manifestações culturais do Brasil, fazendo da CAIXA Cultural Fortaleza um verdadeiro celeiro de grandes artistas e um imenso acervo com as mais variadas obras do cordel brasileiro.

Faltam apenas 30 dias, marque na sua agenda, convide os amigos, traga a família e embarque com a gente nessa grande viagem ao mundo encantado do CORDEL.

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segunda-feira, 9 de setembro de 2019

Leandro ou Athayde?


O REINO DA PEDRA FINA 

e a HISTÓRIA DA PRINCESA 

DA PEDRA FINA

Por: Marco Haurélio (Cordel Atemporal)



Acervo da Casa de Rui Barbosa.


Pouca gente, mesmo no meio do cordel, conhece estes versos, de Leandro Gomes de Barros:

É esta a real história
Do Reino da Pedra Fina,
Do moço Moysaniel
E da princesa Angeltrina,
Filha do reino encantado
Da tenebrosa colina.

Havia um grande país
De nação civilizada,
Aonde tinha uma serra
De grandes pedras formada.
Diziam que lá havia
Uma princesa encantada.

A serra era muito alta,
Tinha uma grande colina.
Da serra descia um rio
D’água muito cristalina.
Via-se escrito nas águas:
PRINCESA DA PEDRA FINA.

NOTAS:
1. Circula por aí, ainda hoje, atribuída erroneamente a Leandro Gomes de Barros, a versão mais conhecida dessa história que tem por base um conto maravilhoso. O romance iniciado com estes versos “No reino da Pedra Fina/ Havia uma princesa/ Misteriosa, encantada/ Por obra da natureza,/ Com ela as duas irmãs/ Que eram a flor da beleza.", aqui representada por uma antiga edição da Guajarina, de Belém (PA), nunca foi de Leandro, como dá a entender o famoso rapsodo nos dois primeiros versos acima reproduzidos: “É esta a REAL história/ Do Reino da Pedra Fina (....)”. A versão em que o protagonista é chamado José e o antagonista é um barbeiro, sombra do herói, nas antigas edições, jamais teve, que se saiba, um autor identificado.
2. O saudoso cordelista João Firmino Cabral (1940-2016) me disse, em conversa informal, que, quando criança, ouvia  dos mais velhos a afirmação de que se tratava de um dos mais antigos romances de Silvino Pirauá.
3. Na década de 1970, as filhas de José Bernardo da Silva passaram a publicá-la em nome de Leandro, incorrendo num erro que, desde então, vem sendo repisado.
4. A editora Prelúdio de São Paulo publicou, na década de 1950, uma variante de Manoel Pereira Sobrinho, amparada na versão de Leandro. Por engano, a capa desta edição foi reutilizada, no início dos anos 2000 na versão mais conhecida, aumentando ainda mais a confusão.

quarta-feira, 4 de setembro de 2019

MESTRES DO CORDEL




VICENTE VITORINO DE MELO, 

EXPOENTE DO CORDEL


No início da década passada, acho que entre 2000 e 2003, correspondi-me com o poeta Vicente Vitorino de Melo, autor e editor do Almanaque do Nordeste e do célebre folheto “Discussão de um crente com um cachaceiro”, um dos melhores do gênero. Imagino que o poeta seja falecido uma vez que se dizia muito doente em suas correspondências, que cessaram bruscamente. Ele era muito atencioso e costumava enviar alguns folhetos de sua autoria, juntamente com alguns originais inéditos. Um deles foi “O príncipe Alípio ou o julgamento de Satanás” que foi lançado pela Tupynanquim Editora. Enviei a porcentagem do poeta e ele me mandou, em seguida, “A filha da peregrina”, texto que venceu um prêmio literário promovido no Estado de Pernambuco. Ele nasceu em Limoeiro-PE no  e residia em Caruaru, no mesmo Estado, no período em que manteve correspondência comigo. Certa feita demonstrei interesse em fazer uma edição do clássico “Discussão de um crente com um cachaceiro” e ele, prontamente, respondeu que não podia me conceder tal autorização por haver negociado os originais do dito folheto com o editor Giuseppi Baccário, da Casa das Crianças de Olinda. Gostei da sua sinceridade, coisa que às vezes não ocorre com outros poetas populares.

Eu viajando este mês
Pela linha do agreste
Fui parar em uma feira
No dia de São Silvestre
A feira é fraca e de tarde
Dá cachaceiro por peste...

Nessa dita feira o poeta presencia a discussão de um crente com um cachaceiro. Tudo começa quando o crente passa na calçada de um bar, com uma bíblia na mão e o bêbado imprudente o convida para uma bicada. O crente condena veementemente o seu proceder, porém o cachaceiro não se dá por vencido e usa diversos argumentos em defesa da aguardente:

Você já leu alguns livros
De fabricar aguardente?
Pinga-fogo, Canta-galo...
- Deus me livre! – Disse o crente,
De eu ler certas misérias
Disse o bêbado: - São matérias
De conteúdo excelente!

E, prossegue o cachaceiro, na sua esdrúxula defesa da “branquinha”, sem dar a mínima atenção aos argumentos do crente. Depois de citar o milagre das Bodas de Caná, onde Jesus transformou água em vinho, diz o embriagado:

Você não bebe e nem fuma
Cigarros da Sousa Cruz
Não dança devido a cota
Um baralho não conduz
Que lucro dá ao país?
Você é um infeliz
Não um membro de Jesus!

Quando eu bebo Serra Grande
Eu me lembro da ladeira
Que subiu Nosso Senhor
Num dia de sexta-feira,
Lá foi muito judiado
Eu também sou arrastado
Bebendo a cana rancheira.

Todo domingo na missa
Eu ouço o padre ensinar
Coma pão e beba vinho
Para poder se salvar
Eu ouvindo este sermão
Compro do vinho São João
Bebo dele até topar!




Vicente Vitorino de Melo

Por: Arievaldo Viana


Vicente Vitorino de Melo nasceu em Limoeiro-PE, em 16 de novembro de 1917. Foi cantador de viola até 1950, a partir daí começou a escrever folhetos e publicar um almanaque anual de astrologia - o Almanaque do Nordeste, que existe desde 1952 e ainda sobrevive nos dias atuais. Seu primeiro folheto data de 1948: "O exemplo da asa branca profetizado por Frei Damião". Reside atualmente em Caruaru-PE e possui alguns originais ainda inéditos. Um deles foi publicado pela Tupynanquim Editora: trata-se de "O príncipe Alípio - ou o julgamento de Satanás", onde Vicente demonstra ser um bom poeta de bancada. Sua obra mais conhecida é "A discussão de um crente com um cachceiro", um dos clássicos do gênero.
São de sua autoria os seguintes folhetos: A filha da peregrina, A firmeza de Alzira e o heroísmo de Zezinho, A morte do Coronel Ludugero, As anedotas do finado Antônio Marinho, Discussão de um crente com um cachaceiro, Exemplo dos quatro conselhos, História de Alexandrino e Aulina, História de Luizinho e o velho feiticeiro, Horrores que a Asa Branca traz, João Sabido e o cacetinho mágico, O horror da carestia, dentre outros.