UM
PRECURSOR DE ZÉ LIMEIRA
Bernardo Guimarães
(1825-1884) foi um romancista e poeta brasileiro nascido na cidade de Ouro
Preto-MG. "A Escrava Isaura" foi o seu romance mais popular. Estudou
Direito em São Paulo. Foi juiz municipal na cidade de Catalão em Goiás. Foi
jornalista, professor de latim, francês, retórica e poética. Estreou como poeta
com "Cantos da Solidão", mas foi como romancista que seu nome ganhou
destaque. Foi considerado o criador do romance sertanejo e regional, ambientado
em Minas Gerais e Goiás. De todos os seus romances "O Seminarista" é
considerado sua melhor obra. É patrono da cadeira nº 5 da Academia Brasileira
de Letras.
No
meio de sua obra avulsa encontram-se vários poemas irreverentes, como este
intulado Disparates Rimados, escrito uns cem anos antes de Orlando Tejo nos revelar
a verve poética de Zé Limeira, o Poeta do Absurdo:
DISPARATES
RIMADOS
Quando
as fadas do ostracismo,
Embrulhadas
num lençol,
Cantavam
em si bemol
As
trovas do paroxismo,
Veio
dos fundos do abismo
Um
fantasma de alabastro
E
arvorou no grande mastro
Quatro
panos de toicinho,
Que
encontrara no caminho
Da
casa do João de Castro.
Nas
janelas do destino,
Quatro
meninos de rabo
Num
só dia deram cabo
Das
costelas de um supino.
Por
tamanho desatino,
Mandou
o Rei dos Amores
Que
se tocassem tambores
No
alto das chaminés
E
ninguém pusesse os pés
Lá
dentro dos bastidores.
Mas
este caso nefando
Teve
sua nobre origem
Em
uma fatal vertigem
Do
famoso conde Orlando.
Por
isso, de vez em quando,
Ao
sopro do vento sul,
Vem
surgindo de um paul
O
gentil Dalai-lama,
Atraído
pela fama
De
uma filha de Irmensul.
Corre
também a notícia
Que
o Rei Mouro, desta feita,
Vai
fazer grande colheita
De
matéria vitalícia.
Seja-lhe
a sorte propícia,
É
o que mais lhe desejo.
Portanto,
sem grande pejo,
Pelo
tope das montanhas,
Andam
de noite as aranhas
Comendo
cascas de queijo.
O
queijo — dizem os sábios —
É
um grande epifonema,
Que
veio servir de tema
De
famosos alfarrábios.
Dá
três pontos nos teus lábios,
Se
vires, lá no horizonte,
Carrancudo
mastodonte,
Na
ponta de uma navalha,
Vender
cigarros de palha,
Molhados
na água da fonte!...
Há
opiniões diversas
Sobre
dores de barriga:
Dizem
uns que são lombrigas;
Outros,
que vêm de conversas.
Porém
as línguas perversas
Nelas
vêem grande sintoma
De
um bisneto de Mafoma,
Que,
sem meias, nem chinelas,
Sem
saltar pelas janelas,
Num
só dia foi a Roma.
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