PALESTRA SOBRE A GUERRA DE CANUDOS
NA
LITERATURA DE CORDEL.
A VISÃO DO EX-COMBATENTE JOÃO MELCHÍADES FERREIRA DA SILVA,
O CANTOR DA BORBOREMA, AMANHÃ, DIA 26 DE ABRIL, 19h30min, no Centro Cultural
Banco do Nordeste de Sousa-PB, dentro do projeto ABRIL PARA LEITURA - VII EDIÇÃO, comemorativo do Sesquicentenário de nascimento do escritor Euclides da Cunha.
Conheça a
incrível saga de um dos patriarcas da Literatura de Cordel. Neto de um beato
discípulo do Padre Ibiapina, foi raptado por ciganos aos 7 anos de idade, na
terrível seca de 1877. Ingressou no Exército em 1888 e combateu na Guerra de
Canudos. Segundo o pesquisador baiano José Calazans, é autor de um dos
primeiros folhetos escritos sobre a Guerra de Canudos e publicado em 1904.
Como poeta
popular é o criador do Valente Zé Garcia, romance fartamente elogiado por
Câmara Cascudo em Vaqueiros e Cantadores. Personagem do Romance da Pedra do
Reino de Ariano Suassuna e autor de uma versão do Pavão Misterioso... Com vocês
João Melchíades Ferreira da Silva, O Cantor da Borborema.
João Melchíades
O sertanejo é antes de tudo um forte, diz a frase clássica de Euclides da
Cunha. A função do verdadeiro pesquisador é percorrer mares nunca dantes
navegados. É garimpar em terrenos desconhecidos, tirar proveito do que já foi
colhido sem descuidar-se de acrescentar novidades ao assunto. O pesquisador
José Calazans, ao escrever o estudo “CANUDOS NA LITERATURA DE CORDEL” bebeu em
fontes que não haviam sido pesquisadas pelo o autor de ‘Os Sertões’ nem por
outros estudiosos da vida de Antônio Conselheiro. Aliás, antes dele Sílvio
Romero já havia recolhido no seio da musa popular quadrinhas como estas:
Do
céu veio uma luz
Que
Jesus Cristo mandou
Sant'Antonio
Aparecido
Dos
castigos nos livrou.
Quem
ouvir e não aprender
Quem
souber e não ensinar
No
dia do juízo
A
sua alma penará”.
Conforme
José Calazans, “Os versos, que lembram o
responso de Sant'Antonio, eram, sem dúvida alguma, os primeiros de uma dilatada
série de composições referentes ao Bom Jesus Conselheiro e ao povoado de
Canudos, onde o místico cearense iria se fixar em 1893, já desfrutando de
grande prestígio no seio da comunidade sertaneja. A produção rimada sobre o
“messias” cearense pode ser apontada, em nossos dias, como das maiores da nossa
poética popular.”
Essa
tosca produção poética dos seguidores de Antônio Conselheiro não passou despercebida
ao escritor Euclides da Cunha, que a ela se refere em sua obra magna, o livro
OS SERTÕES: “(...) no mais pobre dos saques que registra a história, onde foram
despojos imagens mutiladas e rosários de côcos, o que mais acirrava a cobiça
dos vitoriosos eram as cartas, quaisquer escritos e, principalmente os
desgraciosos versos encontrados. Pobres papeis, em que a ortografia bárbara
corria parelhas com os mais ingênuos absurdos e a escrita irregular e feia
parecia fotografar o pensamento torturado, eles, resumiam a psicologia da luta.
Valiam tudo porque nada valiam”. E numa outra passagem, mais adiante,
conclui desta maneira: “Os rudes poetas
rimando-lhe [do Conselheiro] os desvarios em quadras incolores, sem a
espontaneidade forte dos improvisos sertanejos, deixaram bem vivos documentos
nos versos disparatados que deletreamos pensando, como Renan, que há, rude e
eloquente, a segunda Bíblia do gênero humano, nesse gaguejar do povo”
Na
opinião de Calasans, o autor de “Os Sertões” sentiu a importância que os
conselheiristas davam às criações da Lira anônima, usadas como armas de combate
na guerra de vida e morte da jagunçada contra as forças poderosas da República.
Dir-se-ia que versejar ajuda a combater. Os conselheiristas, enfrentando
dificuldades sem conta, não abandonaram as musas nas horas difíceis e
dramáticas da peleja suicida.
E
conclui o eminente pesquisador baiano: “Vem
da própria gente do Conselheiro a primeira contribuição ao hinário canudense.”
Além
dos poetas anônimos, seguidores de Conselheiro, tivemos também um militar
paraibano engajado no Exército Republicano que escreveu e publicou uma versão
rimada da Guerra de Canudos. Esse poeta foi contemporâneo de Leandro Gomes de
Barros, Silvino Pirauá de Lima e Chagas Batista e pode ser considerado um dos
pilares do nosso romanceiro popular.
Num
folheto escrito após a guerra e publicado em 1904, após ser reformado como
Sargento do Exército Brasileiro, Melchíades registrou versos como estes
descrevendo a fuga atropelada do General Tamarindo, chefe interino da Terceira
Expedição, após a morte do “corta-cabeças” General Moreira César:
“Escapa,
escapa, soldado
Quem
tiver perna que corra
Quem
quiser ficar que fique
Quem
quiser morrer que morra,
Há
de viver duas vezes
Quem
sair desta gangorra.”
João
Melchíades Ferreira, neto do beato Antônio Simão, discípulo fiel do Padre
Ibiapina, sentou praça ainda na Monarquia e com o advento da República foi
convocado a combater em Canudos e posteriormente no Acre. Seus descendentes
guardam manuscritos de sua esposa Senhorinha onde o poeta descreve os horrores
da guerra, que assistiu de perto, ao contrário de Euclides da Cunha, que jamais
esteve na linha de frente de combate. Este é o tema da nossa palestra que
apresentaremos em abril no BNB Cultural de Sousa-PB.
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