Autor:
Alberto Porfírio
A Cunceição
minha véia
A fia do
véio Joaquim
Ela nunca
foi bonita,
Era a feiúra
sem fim
Mas acho que
só a mamãe
Era tão boa
pra mim.
A Cunceição
era dessas
Da boca cuma
gamela
Cangote cuma
de touro
E os quadri
junto as custela.
Mas se eu
vinha d’uma viagem
E pisava no
terreiro
Na porta da
nossa casa
Era o que
via primêra
Ela vindo me
abraçá
Cum seu amô
verdadeiro
Inté lavava
os meus pés
E dispois
butava chêro.
Passemo
assim muntos anos
Nós vivia
munto bem.
Ela era
munto feia!
Mas eu era
feio tombem!
Fumo assim
inté o capeta
Vim de lá
cum suas paiêta
Pra mexê
nosso xerém.
Um dia eu
fui a uma festa
Na casa do
Zé Romeu
Lá eu vi uma
cabôca
Qui nunca
mais me esqueceu...
Eu oiei
pros zóio dela
Ela oiou
pros zóio meu
Minhas mão
ficaro gelada
Meu corpo
todo tremeu...
Quem nunca
teve paixão
Diga que
nunca sofreu!
Nhô moço,
preste atenção,
Numa coisa
qui eu dei fé
Pode um home
ser valente
Cuma foi o
Josué,
Num tem medo
dôto hoje
Mas tem medo
da muié!
Só dá dessas
dezoiada
Adonde ela
num tive.
Entonce num
é preciso
Dizer o qui
se deu mais,
Num sei qual
o fuxiqueiro
Levado do
Satanás
Que vai
contá as muié
Tudo que os
home faz.
Só sei que
cheguei em casa
Meu rancho
num tava em paz.
A muié, cuma
uma doida,
Falando em
meus procedê
Chorava, se
lastimava,
Falava inté
em morrê
Eu tombem,
arripindido,
Sem tê nada
qui fazê
Só pruquê
num tinha jeito
Pra mode mim
defendê.
Ela dizia: -
Seu cabra!
Eu lhe trato
munto bem
E ocê, lá
pelas festas,
Faz da sua
muié ninguém!...
Vou lhe
dizer uma coisa:
Se ocê num
prometê
Qui num faz
mais u’a desta
Num vivo
mais cum ocê
Vou pra casa
dos meus pais
Nunca mais
você me vê!
Eu iscuitava
essas coisa
E ficava
arrependido
Mas num
podia disfazê
O que já
tinha fazido!
Inté que eu
dixe pra ela:
- Meu bem,
vou lhe prometê
Haja festa
adonde houve
Só vou se
levá você
E se eu
assim num cumpri
Pode aí tudo
fazê
Pode inté me
açoitá
Qui eu num
tenho o que dizê.
Ela cum
essas promessa
Se tornou
mais consolada
Mas num
falou mais cum eu
Sempre
entusiarmada
Butava o
almoço na mesa
E ia cumê
separada
E de noite,
foi drumi
Lá noutro
quarto, apartada!
Agora, ói,
meu senhô,
Cuma foi meu
sofrimento,
Passava as
noite acordado
Sem madorná
um momento
Sintindo no
coração
A dor do
arrependimento.
Qui muié
alpiniosa!
Me butou nas
agonia
Se eu
chegasse na cozinha
Ela pra sala
saía
Se eu
voltava pra sala
Ela ficá num
queria
Eu, já quage
sem juízo
Ia drumi,
num podia,
Cuma qui
dois intrigado
Passemo
assim oito dia!
Agora, nhô
moço, agora
Mim dê
licença qui eu diga
O qui foi
qui eu inventei
O que foi
qui eu pratiquei
Mode acabar
cum a intriga.
Toda muié
neste mundo
Tem medo de
assombração
Sabe o quê
qui eu me lembrei?
Foi de
inventá uma visão.
Garrei logo
a lamparina
E fui botá
lá na cunzinha
Mermo no pé
da parede
E amarrei
cum u’a linha.
Eu cá de
fora puxando
Ela vinha se
arrastando
E cum a
zuada qui fazia
A muié de lá
ouvindo
Mermo
estando drumindo
Ficá só num
arresistia.
Foi mermo
cuma eu pensei,
A lamparina
rolava
Ela chamava
por mim
Eu de cá me
levantava
Agarrava a
lamparina
E no mermo
canto botava.
Assim, nas
duas ou três vez
Ela cum
medo, a tremê,
Já
perguntava: - Neguim!
Eu vou drumi
mais ocê?...
- Num
sinhora! ...Num sinhora!
Eu de cá
arrespondia,
Era dizendo
num venha
Mas só eu
mermo sabia...
Ela chorava
cum medo
A lamparina
tinia,
Eu dava
tanto suspiro
Que inté sem
querê gemia...
Quando o
medo apertou mermo
Ela a
intriga esqueceu
Vei pelo pé
da parede
Sentou na
beira da rede
E passou a
noite mais eu!!!
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