segunda-feira, 1 de julho de 2019

PRESENÇA CEARENSE NA FLIP PARATY



Prosas, rimas, trocas: cearenses na Flip 2019 alargam olhares sobre a produção literária do Estado
Por Diego Barbosa

Com a proximidade da Festa Literária Internacional de Paraty (Flip), de 10 a 14 de julho, o Verso destaca a participação de cearenses neste que é um dos principais eventos no segmento do País



Erivelto de Sousa, Arievaldo Viana, Jarid Arraes, Mailson Furtado e Klévisson Viana: amostra potente do Ceará em letras | Fotos: Fabiane de Paula/ Fernanda Siebra/ Dani de Costa Russo/ Helene Santos/ Erika Fonseca


Demarcar o lugar e relevância da Festa Literária Internacional de Paraty (Flip) nesta altura do campeonato é exercício redundante. Cravada no calendário cultural do País desde 2003 como um dos mais importantes eventos no segmento, a iniciativa torna a charmosa e prestigiada cidade do litoral fluminense um inspirado polo de encontros, tendo como pilar a troca sempre urgente de debates e fazeres no campo das letras.

Nesta 17ª edição, as características que, pouco a pouco, fizeram-na ganhar as vistas do público não perdem o rumo. Pelo contrário: seguem rastro certo ao alargar as possibilidades de conexão, sobretudo com a região em que o Ceará está inserido.

O grande homenageado deste ano, Euclides da Cunha (1866-1909), é autor de uma das obras seminais da literatura nacional, "Os Sertões", cuja paisagem narrativa, para além de contar um relevante capítulo da história do Brasil, reverbera aspectos intrínsecos à regionalidade encontrada aqui e em todo o Nordeste.

Guia Flip: pontos que merecem destaque no principal evento literário do País
Pluralidade sentida também, de modo intenso, nos cearenses que ocuparão os espaços da festa. De malas prontas para vivenciar os dias de maratona literária, de 10 a 14 de julho, cada um e cada uma tratará de oportunizar novas perspectivas de apreciação e leitura das estéticas inseridas em contos, cordéis, poesias e ficções. Há muito para se discutir e comentar.

A começar por Jarid Arraes. Nascida no Cariri e radicada em São Paulo, foi confirmada como uma das atrações oficiais da Flip ainda em maio, munida de destaque: é a primeira mulher cordelista a integrar a seleta programação do evento.

Em entrevista recente concedida ao Verso, a escritora juazeirense explicou que a curadora da festa, Fernanda Diamant, queria uma "visão refrescante do sertão" pelos olhos de alguém como a autora, conhecida por promover interseções entre a literatura e temas como gênero e raça.

Exemplo presente em "As Lendas de Dandara", "Heroínas Negras Brasileiras em 15 cordéis" e "Redemoinho em dia quente" - primeiro livro de contos dela, publicado pelo selo Alfaguara, destaque na mesa que participará ao lado de Carmen Maria Machado, no dia 13.

Independente

Estando pela primeira vez na festa no ano passado, como apreciador, o também cearense Mailson Furtado volta a transitar pelas ruas de Paraty, agora com a conceituada marca de ser o mais recente vencedor do Prêmio Jabuti. Desta vez, o retorno promete: a convite da Kindle Direct Publishing, plataforma da Amazon, o poeta estará na Casa Libre & Santa Rita de Cássia no dia 13 para conversar sobre autopublicação no Dia do autor independente. 

"Além disso, terei outros momentos em alguns espaços para conversa sobre poesia e literatura independente", sublinha.

"Levarei na bagagem minha experiência enquanto autor sertanejo de uma cidade do interior e as possibilidades de se fazer e consumir arte por estas bandas; também os caminhos necessários da independência editorial e a importância da pulsação sertaneja".
Para o criador do premiado “à cidade”, fica a oportunidade para o público de acompanhar de perto os diferentes espaços de troca e afirmações sobre o fazer artístico no Brasil, embora pondere: “Infelizmente, por inúmeras questões (geográficas, econômicas) é um evento direcionado a quem pode ir, e não a quem deseja ir, coisas que refletem nosso país marcado por desigualdades”.



Tradição

Quem igualmente está se organizando para marcar presença na Flip são os irmãos Arievaldo e Klévisson Viana. O primeiro estreou na festa como convidado especial da Flipinha, em 2014. Neste ano, por meio do convite de Maria Elisabeth Costa - chefe da Divisão de Pesquisa do Centro Nacional de Folclore e Cultura Popular, do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan) - ocupará um espaço mantido pela instituição divulgando a literatura de cordel, reconhecida como Patrimônio Cultural Brasileiro em setembro de 2018.



Arievaldo Viana estará junto a outros representantes do cordel no espaço mantido pelo Iphan, difundindo a tradição local | Foto: Fernanda Siebra

"Além de mim, o Iphan convidou os poetas Moreira de Acopiara, Klévisson Viana e outros autores ligados ao cordel e à xilogravura", enumera.

"Conosco, estará a escritora, antropóloga e professora aposentada da UFRJ, Luitgarde Oliveira Cavalcanti Barros, uma autoridade sobre estudos do Messianismo no Nordeste. É claro que falaremos da importância do patrono da feira, mas também nos debruçaremos sobre outros autores que se ocuparam do tema Canudos", completa. Arievaldo elucida ainda que, na ocasião, seu último livro, "Os milagres de Antônio Conselheiro" (parceria com Bruno Paulino), ganhará amplitude.*

Klévisson Viana, por sua vez, estreando por lá, tratará de dedicar falas envolvendo o cordel deixando entrever um detalhe pertinente: "Creio que nossos autores terão muito a acrescentar à Flip. No meu entendimento, nossa presença nada mais é que o reconhecimento a essa grande contribuição que o Estado do Ceará tem dado para as artes e letras do País e universalmente".

Além disso, não dissocia a envergadura da festa com a necessidade de se pensar a literatura e a sociedade na contemporaneidade. "Nesse momento que o Brasil padece de tantos problemas sociais e políticos, é importante que façamos uma infusão na nossa história, refaçamos caminhos, recuperemos um pouco da trajetória do nosso povo e da nossa verdadeira identidade nacional", considera.



Ao estrear na Flip, Klévisson Viana, autor de quase duas centenas de folhetos de cordel, atualizará temáticas nossas | Foto: Erika Fonseca

Ainda na seara do cordel, duas artistas do Crato, Anilda Figueiredo e Dalinha Catunda, ligadas à Academia dos Cordelistas da cidade, lançarão um folheto de peleja entre as duas.

O escritor, jornalista, professor e cientista político Erivelto de Sousa também participará da festa. Filho de nosso chão, lançará o livro "O Fantasma do Padre", editado pela Autografia.

"A literatura e o livro precisam de sempre mais espaço, e terão. Ler é sempre importante, pois significa descobrir e revelar mundos, essência da vida", ressalta.

Completando o time, o cearense radicado no Mato Grosso, Felipe Holloway, ganhador do Prêmio Sesc de Literatura neste ano na categoria Romance, estará no evento pelo estande do Sesc. No total, o espaço terá cerca de 100 atrações, entre intervenções artísticas, cafés literários, oficinas e exposições.

Fomento

Presidente da Associação Cearense de Escritores (ACE), Silas Falcão organizou um grupo de 20 pessoas para a Flip do ano passado. Neste ano, contudo, por conta da crise financeira de uma empresa aérea, não será possível repetir o feito.

Para ele, de modo a fomentar a presença na Flip, há possibilidades a serem buscadas.

"Seria muito aplaudida a colaboração das secretarias da cultura, do Estado e de Fortaleza, quanto à participação mais efetiva da literatura cearense no evento. Até lá, estamos analisando o aluguel de uma casa própria para esse segmento".
Que a vontade ressoe, e ainda mais forte, porque temos muito a oferecer.

Serviço
17ª edição da Festa Literária Internacional de Paraty (Flip)
De 10 a 14 de julho em diferentes espaços da cidade de Paraty, Rio de Janeiro. Ingressos: R$ 55, cada mesa. Mais informações pelo site oficial do evento.

LEIA TAMBÉM: http://acordacordel.blogspot.com/2019/06/cordel-em-paraty-rj.html

* A palestra da professora Luitgarde Oliveira se chamará "O Mundo Beato e o Ethos da Sociedade Sertaneja- Do Ceará, Três Santos do Nordeste". Na ocasião, serão lançados e comercializados os livros "Juazeiro do Padre Cícero A Terra da Mãe de Deus;" e "Pelos Sertões do Nordeste"

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