Rainha Ester em Cordel
(Arievaldo Viana)
Rainha Ester em Literatura de Cordel
(Revista Raízes - Edição n°. 2 - Março 2a. quinzena - 2008 -
Adar Beit – 5768)
Por: David Salgado
Quem poderia imaginar a história de Purim contada em prosa e
verso na literatura de cordel do nordeste brasileiro? Essa realmente me pegou
de surpresa. Mas o que é em realidade a literatura de cordel. O velho Aurélio
diz o seguinte: Romanceiro popular nordestino, em grande parte contido em
folhetos pobremente impressos e expostos à venda pendurados em cordel, nas
feiras e mercados. (Dicionário Aurélio Buarque de Holanda).
Trazida pelos portugueses que aportavam por volta de 1850 em
terras tropicais, com o passar dos anos, essa literatura foi aos poucos se
afirmando especialmente pelo seu baixo custo e hoje é encontrada praticamente
em estados do nordeste como Pernambuco, Ceará, Alagoas, Paraíba e Bahia. Muitas
vezes repleto de um belo tom humorístico e também por retratarem fatos da vida
cotidiana da cidade ou da região, a literatura dos livretos pendurados em
cordas tipo barbante, daí o nome Literatura de Cordel, contagia a população
nordestina e principalmente os turistas que por ali andam. Os principais assuntos
retratados nos livretos são: festas, política, secas, disputas, brigas,
milagres, vida dos cangaceiros, atos de heroísmo, milagres, morte de
personalidades, etc.
Pensando melhor, se formos parar pra pensar realmente, a
história da Rainha Esther é sem dúvida um belo tema para um bom poeta da
literatura de cordel desenvolver. Ela foi uma heroína do povo judeu, com
coragem e muita determinação enfrentou a possível morte ao apresentar-se diante
do Rei sem ter sido autorizada com o único intuito de salvar o seu povo do
decreto perverso do ministro Haman.
Acrescentaria ainda um outro ponto importante. Talvez por
sua conotação de salvação e pela facilidade de identificação com os exilados
que viviam na antiga Pérsia, Purim e sobretudo o jejum de Esther, foram
enormemente populares entre os Bnei Anussim. Não há dúvida que os conversos
ibéricos viram Esther como a salvadora do povo judeu. Vale lembrar que a rainha
Esther conseguiu ajudar seu povo justamente quando este se encontrava na
clasdestinidade, ocultando sua própria identidade judaica. O que em outros
contextos poderia apresentar um desafio à normatividade judaica, exatamente o
fato de sua clandestinidade é que despertou nos Bnei Anussim, um alto grau de
identificação com esta Festa.
Exatamente por isso a Festa de Purim é sem dúvida uma das
mais conhecidas e preservadas pelos Bnei Anussim durante séculos.
Mas o que faria uma poeta de literatura de cordel se
interessar por essa história e como ele a conhecia?
O despertar dos Bnei Anussim pelo mundo é um fato consumado
hoje em dia. No Brasil, e principalmente no nordeste, historiadores e
pesquisadores afirmam que a presença de seus descentes é numerosa já que um
percentual respeitável dos brancos portugueses que vieram para colonizar o país
eram cristãos-novos que escondiam sua verdadeira fé, eram portanto,
criptojudeus. Seus descendentes estão por aí e com certeza muitos deles
enraizados como trovadores, compositores e poetas da literatura de cordel.
Assim, já estou mais tranqüilo e na verdade não tão surpreso de encontrar a
História da Rainha Esther em Literatura de Cordel.
E com vocês... a “História da Rainha Ester” do Poeta da
Academia Brasileira de Literatura de Cordel, Arievaldo Viana Lima.
http://www.ablc.com.br/popups/cordeldavez/cordeldavez008.htm
Supremo Ser Incriado
Santo Deus Onipotente
Manda teus raios de luz
Ilumina a minha mente
Para transformar em versos
Uma história comovente.
Falo da vida de Ester
Que na Bíblia está descrita
Era uma judia virtuosa
E extremamente bonita
Por obra e graça divina
Teve venturosa dita.
Foi durante o cativeiro
Do grande povo Judeu
Um rei chamado Assuero
Naqueles tempos viveu
E com o nome de Xerxes
Na História apareceu.
O rei Assuero tinha
Pelo costume pagão
Um harém com muitas musas
As mais belas da nação
Mas era a rainha Vasti
Dona do seu coração...
(...)
O folheto já saiu em várias edições, pelas editoras TUPYNANQUIM, QUEIMA-BUCHA e COLEÇÃO CANCÃO DE FOGO.
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