Lançamento da biografia de Leandro Gomes
de Barros antecipa comemorações do sesquicentenário do mestre da Literatura de
Cordel
O escritor
cearense Arievaldo Vianna lançará biografia do poeta paraibano Leandro Gomes de
Barros na abertura do IV Congresso de cordelistas, editores e folheteiros, que
acontecerá dia 10/12, no Espaço do Cordel, durante a XI Bienal Internacional do
Livro do Ceará. O lançamento antecipa as comemorações pelo sesquicentenário de
nascimento do poeta, que acontecerá no dia 19 de novembro de 2015. O autor já
recebeu convite para lançar a obra na cidade de Pombal-PB, berço do grande
cordelista, em março do ano que vem. Para o escritor paraibano Bráulio Tavares,
em artigo publicado num jornal daquele estado por ocasião dos 90 anos de morte
de Leandro Gomes de Barros, realizar uma biografia do poeta com as poucas
informações que subsistiram à ação do tempo é a mesma coisa que catar confetes
na rua um mês depois do carnaval.
Arievaldo
Vianna encarou o desafio e apresenta um trabalho amparado em fotos, documentos
e informações inéditas sobre a vida e obra de Leandro. Na opinião do poeta e
pesquisador baiano Marco Haurélio, que assina o texto de apresentação, “trata-se
da biografia do nosso mais importante poeta popular, Leandro Gomes de Barros,
patriarca da literatura de cordel e autor de, pelo menos, vinte clássicos
incontestáveis do gênero. Ari salda o débito que contraiu com o mestre
paraibano desde que foi apresentado, na infância, pela avó Alzira de Souza Lima
(1912-1994) ao grande pícaro Cancão de Fogo, espécie de Lazarillo de Tormes
sertanejo, e maior criação de Leandro.”
O grande vate
paraibano é autor de dois folhetos que influenciaram Ariano Suassuna na criação
de sua obra mais famosa, O Auto da Compadecida. Trata-se de O Dinheiro (ou O
testamento do Cachorro), de 1909 e O cavalo que defecava dinheiro. Em artigo
que escreveu e publicou em 1976, Carlos Drummond de Andrade considera o poeta
“Rei da poesia sertaneja” e reivindica para ele o título de “Príncipe dos
Poetas Brasileiros”, que na verdade foi concedido à Olavo Bilac, em 1913. Esse
polêmico artigo de Drummond é cuidadosamente analisado em um dos capítulos da
biografia escrita por Arievaldo. Segundo o autor, foi uma pesquisa árdua e
persistente, ao longo dos últimos dez anos, sem contar com apoio financeiro de
qualquer espécie, apenas a colaboração de amigos que também admiram a obra do
grande poeta.
Na opinião do
professor Gilmar de Carvalho, respeitado estudioso da cultura popular e, em
especial do Cordel, “Leandro é daquelas unanimidades a favor. Inegável que foi
o grande nome do folheto e um dos sistematizadores da edição de cordéis no
Brasil, com rima, métrica e folheto múltiplo de quatro páginas, com capa
gráfica, no início, e com xilogravura, tempos depois. Curiosa essa passagem do
violeiro para o poeta de bancada. Importante compreender como a maquinaria
obsoleta para os grandes centros se interiorizava e dava lugar a jornais
políticos e depois a uma atividade que
movimentou a economia, que revolveu nossas camadas de memória e se fixou no
imaginário social.”
Gilmar, que
assina o prefácio da obra, afirma que “Leandro pode ser colocado, sem exagero,
nas bases disso tudo. Não vale atribuir a ele um pioneirismo dissociado do
contexto em que vivia e atuava. Ele existiu porque existiram os cantadores da
Serra do Teixeira, na Paraíba, os folcloristas como Sílvio Romero, Rodrigues de
Carvalho e Gustavo Barroso, os revendedores e agentes das casas editoras e os
leitores ávidos pelos clássicos e pelas novidades trazidas por esta Indústria
Cultural de bases assentadas na tradição popular.”
Gilmar observa
ainda que “Leandro não apenas se debruça sobre a tradição oral, sobre os
clássicos contados nas feiras europeias e trazidos como folhetos (sem rima e
sem métrica, em forma de prosa) para o Brasil a partir de 1808, quando a
imprensa torna-se possível. Ele também interfere na forma de crônica na vida do
Recife ou de um Nordeste que sofria por conta das secas e tinha em Padre Cícero
(cantado por ele em 1910) um mito em ascensão. Era necessário que Arievaldo
pusesse um ponto final em sua pesquisa. Ela corria o risco de se confundir com
sua própria vida e ser uma daquelas tarefas exaustivas, inconclusas, para as
quais uma existência é pouco. Seu Leandro ganha outros matizes, perde o peso do
ícone e ganha a leveza da voz. Deixa para todos nós um legado precioso. Que
segue para a Paraíba e faz pouso na Popular Editora, visitada por Mário de
Andrade, em 1927. Que segue nas mãos de João Martins de Athayde. Que chega a
Juazeiro do Norte por meio do alagoano José Bernardo da Silva. Que é
“pirateado” tantas vezes que nem dá para dizer por quem.”
O livro de
176 páginas deveria vir acompanhado de uma Antologia com as obras mais
expressivas do mestre de Pombal-PB, mas, infelizmente, a dificuldade de
encontrar editor interessado fez com que o autor buscasse patrocínio de
entidades do movimento sindical como a Fundação Sintaf e o Sindsaúde, além do
aval da editora Queima-Bucha, de Mossoró-RN. Só assim foi possível lançar uma
primeira edição de apenas mil exemplares para a Bienal do Ceará. Arievaldo
espera conseguir o apoio necessário para lançar a obra completa em 2015. Para
tanto, já iniciou uma negociação com as Edições Demócrito Rocha.
No texto de
apresentação da obra, Marco Haurélio ressalta que, sendo um poeta atemporal, “Leandro
também se valeu da sátira para criticar os desmandos de seu tempo: a influência
estrangeira em Pernambuco, Estado onde se estabeleceu. Com o chicote da sátira,
vergastou os coronéis da Velha República. Pleno de graça, lançou chispas em
direção ao clero, sem esquecer os novas-seitas (protestantes) e a justiça (dos
tribunais). Ao mesmo tempo, exaltou os cangaceiros liderados por Antônio
Silvino, criando o modelo que seria seguido pelos futuros biógrafos de Lampião
no cordel: a fusão do cangaceiro nordestino com o cavaleiro andante do Medievo
europeu”.
Mas o livro
reúne, além dos fatos relacionados à vida do poeta, raridades como fotos de
familiares do poeta, documentos que esclarecem aspectos antes obscuros da
biografia de Leandro. Grande parte do mérito é de Cristina Nóbrega, bisneta de
Daniel, irmão de Leandro. Merecem
destaque também as entrevistas enriquecedoras, realizadas com o escritor Pedro Nunes
Filho e o consagrado cordelista Paulo Nunes Batista. O primeiro é bisneto de
Josefa Xavier de Farias, irmã de Adelaide (mãe de Leandro). O segundo é filho
do pioneiro do cordelismo, Francisco das Chagas Batista, grande amigo do
criador de Cancão de Fogo, e guarda na memória uma série de episódios
interessantes que ouvia de seu irmão Pedro Werta, afilhado do biografado. É
este poeta, criador de um gênero literário, estrela mais fulgurante de uma
constelação, que mereceu, de Arievaldo Viana, a pesquisa que redundou neste
livro. A literatura de cordel agradece. Apenas, para não ser injusto com o
biógrafo e o biografado, não direi que Arievaldo retratou com precisão o tempo
de Leandro. Simplesmente porque o tempo de Leandro é a eternidade.
SERVIÇO: Dia 10 de dezembro de 2014 - 15h - Abertura do IV Congresso de cordelistas, editores e
folheteiros, com a Palestra “A Literatura de Cordel de Inácio da Catingueira,
Leandro Gomes de Barros aos dias atuais” com Arievaldo Viana e Arlene Holanda e
Lançamento dos livros: “Leandro Gomes de
Barros – Vida e Obra” de Arievaldo Vianna e “Inácio, o Cantador-Rei de Catingueira” de Arlene Holanda.
Mediação: Antônio Andrade Leal (Tuíca do Cordel)
Local:
Praça do Cordel.
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