Esta semana (dia 14/04, sexta-feira) faz um ano
da partida do cantor, compositor, poeta, cordelista e repentista José João dos
Santos, o famoso "Mestre Azulão", de quem tive a honra de ser amigo e
admirador. Presenciei (e participei como entrevistador) de uma de suas últimas
entrevistas, feitas por Fernando Assunção, na Barraca da Chiquita (Feira de São
Cristóvão) para um projeto de memória do cordel realizado pela Academia
Brasileira de Literatura de Cordel – ABLC.
Um dos ícones da
cultura nordestina, Mestre Azulão, tinha 84 anos e foi um dos fundadores da
Feira de São Cristóvão, que é um Centro de Tradições Nordestinas na Zona Norte
do Rio.
José João dos Santos
nasceu em Sapé, na Paraíba. Mas foi com o apelido de Mestre Azulão que se
tornou conhecido em todo o Brasil.
ARIBU
Era o mestre Azulão quem
me contava essa deliciosa anedota, com sua prosa fácil, encantadora e verve
aguçada.
O 'causo' refere-se a
um sujeito do brejo paraibano, chamado Ari – e por conta de ser meu xará é que
ele me contou isso umas cinco ou seis vezes, morrendo de rir.
Segundo o Azulão,
o cabra era morto de preguiça e
totalmente despreocupado com o futuro da prole. Pai de uma récua de filhos,
passava as tardes sentado num banco de aroeira, suspenso por duas forquilhas,
posto à frente do casebre de taipa, dedilhando uma viola velha e desafinada,
com pretensões de cantador. Num extremo da cerca, onde haviam jogado um gato
morto, baixou um urubu. Um dos pequeninos, admirados de ver um bicho daqueles
assim de perto, exclamou:
— Pía, pai! Olha
acolá, um ARIBU.
— Olha acolá o quê,
menino?!
— Um ARIBU, pai...
O sujeito meio
agastado, segurou o braço da viola bruscamente, parando a toada e, em tom
professoral, explicou:
— ARI, não, meu filho!
Aribu não! ARI é seu pai. A pessoa que lhe deu a vida, que lhe gerou e lhe sustenta com tudo que há de bom e de
melhor! Aquele peste acolá é um URUBU. Um bicho nojento, asqueroso, fedorento,
que vive unicamente de comer carniça, de remexer nos monturos, de beliscar
coisa podre, de meter o bico aonde não deve... Ari... Ari é seu pai, meu filho!
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