OS 134 ANOS
DE NASCIMENTO DO POETA JOSÉ OITICICA E O HARPAGÃO MODERNO
A campanha abolicionista no Brasil fez brilhar o estro de poetas como
Castro Alves e Tobias Barreto, dois nordestinos de espírito libertário que
fizeram da sua arte um instrumento de luta contra a escravidão. Após o 13 de
maio de 1888, quando a Princesa Isabel promulgou a lei que anistiava os
cativos, alguns poetas hoje esquecidos voltaram os seus ataques contra o pior
dos opressores, o CAPITALISMO, elegendo o burguês como o mais desprezível dos
opressores de homens pobres e supostamente livres. Não é à toa, portanto, que
os estatutos da famosa Padaria Espiritual, o movimento literário mais
expressivo do Ceará, tenham demonstrado ódio e desprezo pela burguesia.
Um desses poetas libertários que se projetaram após a campanha
abolicionista é José Oiticica, nascido na data de hoje (22 de julho de 1882),
em Oliveira-MG. Esse poeta foi brilhantemente retratado por Humberto de Campos
em seu livro “Carvalhos e Roseiras”, relançado em 2009 pela editora Café &
Lápis, de São Luís-MA. Referindo-se ao homem branco vítima desse sistema
opressor diz o ilustre escritor maranhense:
“O senhor deste pária já não é,
entretanto, o rei, o Estado, a autoridade política; mas o burguês, o
capitalista, o Harpagão moderno, o polvo de vinte tentáculos, o soberano
incontrastável, em suma, cujo cetro é guardado em silêncio, mas seguramente, em
grandes cofres de ferro.”
Ora, nos “bons tempos” de Humberto de Campos e José Oiticica, homens
de letras ainda ocupavam cargos de destaque na política. Vide o caso de José de
Alencar, que foi ministro de Sua Majestade o Imperador Pedro II, Joaquim
Nabuco, Machado de Assis e até mesmo Olavo Bilac e Paula Ney, que ocuparam
cargos influentes depois da proclamação da República. Tivemos também o escritor
José Américo de Almeida, autor do romance A Bagaceira, como ministro do
primeiro governo de Getúlio Vargas. Hoje os representantes da plutocracia não se
contentam mais em mandar em surdina, nos bastidores da política e passam a
ocupar todas as esferas de poder com uma ganância nunca vista. Os homens de
letras, com raríssimas exceções fazem parte de uma escória tratada com inexcedível desprezo pelos que mandam na política atual.
Analisando o soneto A ANARQUIA, um dos poemas mais conhecidos de José
Oiticica, diz Humberto de Campos:
“O ideal revolucionário do Sr. José Oiticica
é dos mais audaciosos que efervescem no momento. Ele já não se contenta com as
modalidades mais arrojadas do socialismo europeu: é anarquista resoluto, firme,
extremado, e prega, resolutamente, a anarquia.”
No soneto A Anarquia o então jovem poeta Oiticica
expressou suas opiniões sobre esta filosofia política e a perseguição a qual
sofriam muitos de seus entusiastas:
Para a
anarquia vai a humanidade
Que da
anarquia a humanidade vem!
Vide como
esse ideal do acordo invade
As classes
todas pelo mundo além!
Que importa
que a fração dos ricos brade
Vendo que a
antiga lei não se mantém?
Hão de ruir
as muralhas da Cidade,
Que não há
fortalezas contra o bem
Façam da
ação dos subversivos crime,'
Persigam,
matem, zombem... tudo em vão...
A ideia,
perseguida, é mais sublime,
Pois nos
rude ataques à opressão,
A cada herói
que morra ou desanime
Dezenas de
outros bravos surgirão.
SOBRE JOSÉ
OITICICA:
Nascimento:
22 de julho de 1882 -Oliveira, Minas Gerais (Brasil)
Morte: 30 de junho de 1957 (74 anos) - Rio de Janeiro
(Brasil)
Ocupação: Professor,
Filólogo e Escritor
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