quarta-feira, 1 de janeiro de 2014

A CIGANA ESMERALDA


Ilustração: ARIEVALDO VIANA

 

O TESTAMENTO DA


CIGANA ESMERALDA


Autor: Leandro Gomes de Barros
 

QUERES saber tua sorte
Para tua proteção?
Estuda o Livro dos Sonhos
E preste muita atenção
Aprenda a ler tua sina
Nas linhas da tua mão.

 
É a Cigana Esmeralda
Que dá o apontamento,
Com um príncipe da França
Foi feito o seu casamento,
Vamos ver o que ela diz
No seu grande Testamento.
 

É um testamento achado
Por um bando de ciganos
Que andou toda a Europa
No correr de muitos anos
E no rancho de Esmeralda
O descobriu entre panos.
 

Esse bando de ciganos
Veio depois ao Brasil
Trazendo esses papéis
Escondidos num barril
Aportou aqui em quarenta (1840)
A quinze do mês de abril.
 

Quem quiser fazer negócio
No primeiro de janeiro
Não queira vender fiado
Receba logo o dinheiro
Senão venderá fiado
No correr do ano inteiro.
 

Goze o dia do ano
Em festança e brincando
Quem trabalha nesse dia
Passa o ano trabalhando
E quem nele viajar
Passa o ano viajando.
 

Lembrai-vos do Ano Bom
O tempo é coisa que voa
Reparai quando encontrardes
Com a primeira pessoa
Menina, rapaz ou moça
Encontra promessa boa.

 
Não queira em dia de ano
Adquirir intrigado
Porque é dia feliz
Para assistir-se um noivado
É bom para se gozar
A festa de um batizado.
 

A Cigana Esmeralda
Falando em seu natural
Disse que nesse mundo
A vida é comercial
Sem quadras e sem idéias
Não se forma cabedal.
 

E nisso ela não errou
Antes, andou acertada
Antes de entrar em negócio
Estuda logo a parada,
Para não ires cair
Em coisa muito embrulhada.
 

Não jogue na loteria
Que tenha prêmio avultado
Desconfiar das vantagens
Que nunca deu resultado
Como bem, rifas e máquinas
São sonhos de acordado.

(...)

2 comentários:

  1. Quando criança eu tinha muito medo de cigano,porém as crendices me fascinavam.

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  2. Eu também tinha, Angelúcia. Uma vez passou um bando bem numeroso na bodega de meu avô e eu fiquei agachado, por trás do balcão, olhando todo o movimento pelas frestas das tábuas. Vovô manteve a serenidade e não se abalou com a presença dos ciganos, que compraram e pagaram. As ciganas insistiam para ler a mão das pessoas que estavam na bodega.

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