quinta-feira, 4 de junho de 2020

HOMENAGEM DE JORGE MELLO AO POETA ARIEVALDO VIANNA

“NASCI PRA FAZER CORDEL” - Me dizia o amigo  Vianna.
De Jorge Mello

Nesse momento difícil pelo qual passamos, é muito triste se despedir dos amigos que se vão, roubados de nosso convívio pelo destino. Falo dessa vez de um nordestino, filho daquele chão de Quixeramubim no Ceará. Falo do poeta, escritor, cordelista autor de mais de uma centena de folhetos e mais de três dezenas de livros publicados. Falo de ARIEVALDO VIANNA. 
Guardo com respeito, carinho e admiração parte dessa produção em meu ACERVO. Éramos amigos, como irmãos. Perdi um colega, companheiro de papos dentro das noites, e um parceiro, porque escrevemos a quatro mãos, o folheto de cordel "PELEJA DO TROVADOR ELETRÔNICO COM O ROBÔ GOLIARDO” em homenagem a Belchior. Esse também se foi. E como o Ari, também meu parceiro. Com Belchior, em parceria, criamos 25 canções. Numa delas escrevemos: “A vida, é uma aventura da qual não sairemos vivos”. E vejo a confirmação desses versos de minha canção “Rock Romance de um Robô Goliardo”, acontecendo prematuramente com meu jovem amigo Arievaldo Vianna. Em nossa criação, o folheto de cordel citado, escrevemos essa peleja entre esses dois personagens, que foram criados por mim e Belchior, em nossas canções. 
Quem conhece o Nordeste, e “palmilhou seu chão sagrado”, sabe de como são fortes os cabras do sertão. Mas, o destino nos reserva surpresas como essa. Vem, e retira das artes, da cultura, da literatura, da xilogravura, do desenho, e, também do convívio dos amigos um de seus cabras, mais talentosos.
Meu conforto com essa enorme perda de Arievaldo Vianna, é ver que ficaram rastros desse enorme talento na forma de sua vasta obra, com descobertas impagáveis, como: “SANTANINHA - Um Poeta Popular na Capital do Império”; “LEANDRO GOMES DE BARROS – O Mestre da Literatura de Cordel – Vida e Obra”; “No tempo da Lamparina”; “São Francisco de Canindé”, e outros livros maravilhosos. Isso sem citar as centenas de títulos escrito em versos e publicados como folhetos de cordel.
Arievaldo Vianna era dotado da alegria necessária aos contadores de história, e do conhecimento necessário para falar das coisas do Nordeste, e da vivência necessária para criar seus folhetos de cordel, e sagacidade e talento para dominar a linguagem das artes a que se dedicou.
E para terminar, utilizo um texto meu já publicado numa revista de arte, que resume esse tipo de artista, essa espécie rara de pessoa. Perguntaram-me o que era o “dom” na música e na poesia. Respondi naquela oportunidade, depois de transcorrer sobre a habilidade do instrumentista e dos que têm domínio e qualidade da voz, explicando o que entendo por artistas que se dedicam às artes, e principalmente, às artes de escrever, e de trabalhar com a palavra. Disse eu naquela oportunidade:
“... para criar músicas e criar poemas, além da habilidade necessária e do conhecimento da técnica no trato com as palavras, com melodia e principalmente com a harmonia, há que ter uma coisa a mais. E, vendo assim, posso dizer que o “dom” é entendido como uma sensibilidade de ver longe, de ver por caminhos que outros não conseguem ver nada.”

Era isso que meu amigo Arievaldo Vianna tinha, esse “dom”, entendido como a capacidade e “sensibilidade de ver longe, de ver por caminhos que outros não conseguem ver nada!”

Jorge Mello (escrito na manhã do dia 04 de junho de 2020).

Publico uma estrofe escrita por mim, no folheto de cordel: “PELEJA DO TROVADOR ELETRÔNICO, COM O ROBÔ GOLIARDO” em homenagem a Belchior, escrito em parceria com Arievaldo Vianna:

O talento é igual ao diamante
Não tem brilho, nem cor sem o trabalho
Vem da força da terra no cascalho
Só então o carvão fica brilhante.
Poetar é um pouco desse instante...
Quando ferve a palavra em agonia
Sai a joia que só o poeta cria,
Escrever é o gozo triunfal...
Belchior é poeta universal
Já criou e fez tudo em poesia.

Esses meus versos, podem ser cantados também para meu querido amigo Arievaldo Vianna, substituindo a palavra Belchior, por ARIEVALDO. Assim ficaria no penúltimo verso:
“Arievaldo é poeta universal
Já criou e fez tudo em poesia!

segunda-feira, 13 de abril de 2020

ENCANTOU-SE MORAES MOREIRA



Moraes na Bienal do Livro de SP, lançando
A história dos Novos Baianos em Cordel, pela Editora IMEPH



Morre aos 72 anos cantor baiano 

Moraes Moreira

Moraes era membro da Academia Brasileira de Literatura de Cordel – ABLC. Ele estava na casa no Rio de Janeiro e faleceu durante o sono

O cantor baiano Moraes Moreira morreu nesta segunda-feira (13) no Rio de Janeiro. Segundo o Blog do Marrom, o também cantor e compositor Paulinho Boca de Cantor confirmou a informação. Muito emocionado, Paulinho mal conseguia falar e contou que ele faleceu durante o sono.
A causa da morte de Moraes ainda não foi informada. Também não há informação sobre quando e onde será o sepultamento.

Fonte: Jornal CORREIO da Bahia



MORAES MOREIRA FEZ CORDEL SOBRE O CORONAVÍRUS
Quarentena (Moraes Moreira)

Eu temo o coronavirus
E zelo por minha vida
Mas tenho medo de tiros
Também de bala perdida,
A nossa fé é vacina
O professor que me ensina
Será minha própria lida

Assombra-me a pandemia
Que agora domina o mundo
Mas tenho uma garantia
Não sou nenhum vagabundo,
Porque todo cidadão
Merece mas atenção
O sentimento é profundo

Eu não queria essa praga
Que não é mais do Egito
Não quero que ela traga
O mal que sempre eu evito,
Os males não são eternos
Pois os recursos modernos
Estão aí, acredito

De quem será esse lucro
Ou mesmo a teoria?
Detesto falar de estrupo
Eu gosto é de poesia,
Mas creio na consciência
E digo não a todo dia

Eu tenho medo do excesso
Que seja em qualquer sentido
Mas também do retrocesso
Que por aí escondido,
As vezes é o que notamos
Passar o que já passamos
Jamais será esquecido

Até aceito a polícia
Mas quando muda de letra
E se transforma em milícia
Odeio essa mutreta,
Pra combater o que alarma
Só tenho mesmo uma arma
Que é a minha caneta

Com tanta coisa inda cismo….
Estão na ordem do dia
Eu digo não ao machismo
Também a misoginia,
Tem outros que eu não aceito
É o tal do preconceito
E as sombras da hipocrisia

As coisas já forem postas
Mas prevalecem os relés
Queremos sim ter respostas
Sobre as nossas Marielles,
Em meio a um mundo efêmero
Não é só questão de gênero
Nem de homens ou mulheres

O que vale é o ser humano
E sua dignidade
Vivemos num mundo insano
Queremos mais liberdade,
Pra que tudo isso mude
Certeza, ninguém se ilude
Não tem tempo,nem idade

* * * 



Moraes Moreira: 'O cordel me deu um ritmo maravilhoso'

"O cordel me deu um ritmo maravilhoso. Comecei a gostar da brincadeira e passei a exercitar a mente, já que você tem que ser rápido para fazer cordel. Uma pessoa fala uma frase e já começo a contar sílaba. Vira uma loucura”

. Moraes Moreira, membro da Academia Brasileira de Literatura de Cordel

Moraes Moreira é músico, mas também acadêmico. Ocupante da cadeira de número 38 da Academia Brasileira de Literatura de Cordel, com sede no bairro de Santa Teresa, no Rio de Janeiro, o baiano de 71 anos acabou de dar sua maior contribuição à manifestação literária da cultura popular nordestina.
Lançado nesta semana, Ser Tão (selo Discobertas), novo álbum de Moraes, reúne nove músicas inéditas. Todas compostas em formato de cordel. “Tem uma história que aconteceu comigo e o Xangai no aeroporto. Ele estava lá e um cara chegou e falo: ‘Olha o cantor Xangai’. Ele respondeu: ‘Cantor não, cantador.’ Fiquei reparando naquilo até que, um dia, encontrei novamente com o Xangai e disse que estava fazendo minha passagem de cantor para cantador”, conta Moraes.
A vertente cantador de Moraes Moreira tem convivido muito bem com a de cantor. Hoje, ele retorna a Belo Horizonte para, ao lado dos companheiros Baby do Brasil, Pepeu Gomes, Paulinho Boca de Cantor e Luiz Galvão, fazer o show do DVD Acabou chorare – Novos Baianos se encontram.
A apresentação será no KM de Vantagens Hall, mesmo espaço que recebeu o grupo em setembro de 2016 – na época, o histórico combo setentista dava início a uma turnê retrospectiva. A reunião deu tão certo que eles continuam na ativa.
Ser Tão teve gestação longa. Moraes é o irmão mais novo de José Walter Pires, o cordelista Zewalter. Sempre interessado nas métricas do cordel, Moraes publicou, em 2009, o livro A história dos Novos Baianos em formato de cordel. “São 161 estrofes e 966 versos”, comenta. Em 2016, houve outro livro, Poeta não tem idade, com 70 cordéis, um inclusive sobre a Declaração Universal dos Direitos Humanos.
Já apaixonado pela produção, foi convidado pela ABLC para se tornar seu integrante. “Quando o presidente me chamou, falei: ‘Vocês vão querer um cabeludo na academia?’ Ele disse que eu estava no ponto, e a coisa esquentou”, relembra Moraes. Ele, que tem como padrinho na ABLC o poeta paraibano Manoel Monteiro, começou a intensificar a produção, até chegar aos cordéis musicados. As primeiras gravações são de 2012.

DOIS MUNDOS

O material que redundou em Ser Tão é bem diverso. Moraes coproduziu o trabalho com Alexandre Meu Rei, que ainda toca cordas (viola, guitarra, violão) na maior parte das músicas. O álbum é aberto por Sambadô/Deixa o pé no chão. Os versos fazem menção aos dois “mundos” do músico: o do cancionista, com o samba, e o do cantador, e também a diferentes momentos e autores da música brasileira: “O nosso pioneirismo/É verdadeiro e não tarda/Da bossa ao tropicalismo/O nosso afã de vanguarda/Caymmi é um caso à parte/Acordes Gilbertianos/Na vida fazendo arte/Velhos e novos baianos.”
I am the captain of my soul é um cordel em inglês, com versos inspirados no poema vitoriano Invictus, do britânico William Ernest. Já O nordestino do século é dedicado a Luiz Gonzaga. Moraes escreveu a música ao saber do reconhecimento que o Rei do Baião havia recebido da prefeitura do Recife em 2012.
Música e versos são de autoria de Moraes, que só dividiu uma das faixas: Nas paradas, parceria com o conterrâneo Armadinho. “Sou do sertão da Bahia, da Chapada Diamantina (ele nasceu no município de Ituaçu). Para este disco, me inspirei muito no tempo do sertão. Foi uma volta às raízes, à vida de menino com a banda de músico, os violeiros e sanfoneiros da minha cidade”, diz.

Compor com métrica, de acordo com Moraes, acabou se tornando uma mania. “O cordel me deu um ritmo maravilhoso. Comecei a gostar da brincadeira e passei a exercitar a mente, já que você tem que ser rápido para fazer cordel. Uma pessoa fala uma frase e já começo a contar sílaba. Vira uma loucura.” Para ele, há muita diferença entre o cantor e o cantador. “O primeiro tem a coisa glamourosa do show. Já o cantador fala de suas raízes, da cultura popular. Agora estou indo mais por aí”, afirma.
O trabalho recém-saído do forno já vai ganhar os palcos. Ser Tão estreia no Teatro Ginástico, no Rio, em 22 deste mês.

GRUPO PLANEJA DISCO DE INÉDITAS

“Te confesso que no começo fui meio resistente”, assume hoje Moraes Moreira sobre o retorno dos Novos Baianos. Em maio de 2016, quase 20 anos depois de lançar seu último disco, Infinito circular, Baby do Brasil, Pepeu Gomes, Paulinho Boca de Cantor, Luiz Galvão e Moraes se reuniram na Concha Acústica, em Salvador, para um show da icônica trupe setentista.
A reunião deu tão certo que eles deram início a uma turnê, que rendeu um CD/DVD e segue até hoje. Na próxima quarta-feira, os Novos Baianos irão ao Theatro Municipal, no Rio, como concorrentes do Prêmio da Música Brasileira. Por Acabou chorare – Novos Baianos se encontram, o grupo concorre em duas categorias: melhor álbum e melhor grupo de pop/rock. Moraes e Pepeu produziram o trabalho.
“Depois que vi a coisa andando, deu vontade de continuar”, conta Moraes. Ele afirma que o show está “mais maduro”, depois de ter rodado boa parte do país. A apresentação deste sábado (11) em BH, segundo diz, seguirá basicamente o mesmo roteiro que a de setembro de 2016. Agora tocando principalmente para um novo público, que não conheceu os Novos Baianos em sua primeira fase, a banda continua apresentando uma sonoridade que cativou os fãs décadas atrás – mistura vibrante e alegre de samba, rock e bossa nova.
Os Novos Baianos são autores de alguns clássicos da música brasileira: Acabou chorare, Preta pretinha, Tinindo trincando, A menina dança e Ladeira da praça. “Vamos continuar com a turnê, mas, daqui a pouco, daremos uma parada. A ideia é lançar, daqui a um ano e meio, pela Som Livre, um novo disco”, conta Moraes. O próximo registro será só de inéditas.



sábado, 4 de abril de 2020

OS CONTOS DE FREI MANÉ MAGO



MANCHA ESTRANHA NA CORTINA
(Ou a origem da MAMADEIRA DE PIROCA)


A cortina da sala apareceu manchada... Mancha estranha, de substância não identificada, parecida com grude, cola branca, catarro... sabe-se lá o quê? Dona Raimunda examinou minuciosamente, raspou aquela gosma seca com a unha, aproximou o nariz para sentir o cheiro e não soube definir com precisão a tal meleca ressecada que impregnara a sua cortina. Grude não era, porque as bandeirinhas da procissão da santa tinham sido feitas há bastante tempo. Depois disso a cortina já fora trocada. Parecia catarro, mas não tinha aquele tom esverdeado, aquele mau cheiro característico. É bem verdade que seu caçula, o Jairzinho, andava gripado há mais de dois meses, catarrento que só, e vez por outra era flagrado limpando as mãos na cortina da sala. Por conta disso já havia sido repreendido severamente pela zelosa matriarca.
Mulher sertaneja, de família tradicional, dona Raimundinha morava com o marido, seu João, numa ruazinha da periferia, juntamente com os quatro filhos. A mais velha, a Claudinha, tinha a fama de ser a moça mais religiosa e prendada do bairro. Na boca da mãe, faltava pouca coisa para ser uma irmã Clarissa ou uma Carmelita descalça. Ia para o colégio na parte da manhã, durante a tarde ajudava a mãe nas tarefas domésticas, e a noite saia atrás de terços, novenas, celebrações e outras devoções tão comuns ali no bairro.
Os dois filhos adolescentes, Zico e Duda, ajudavam o pai durante o dia, numa pequena bodega no mercado, e estudavam a noite. Só chegavam em casa depois das dez e meia da noite. O Jairzinho, cabrito mimado, de nove ou dez anos, é que dava um trabalho danado. Ia para escola de manhã sem escovar os dentes, com os olhos cheios de remela, sujava a farda jogando bola e na volta, vinha de pés descalços, sujando-se nas poças de lama, apesar da gripe que o perseguia há mais de dois meses. Não tinha jeito. Dona Mundinha desdobrava-se em cuidados maternos, fazia lambedor de courama e malva-arisca, dava xaropes de botica, passava unguentos trazidos da farmácia no peito do menino, mas o catarro não arrefecia, sempre a pingar ou borbulhar na ponta do nariz, a entrar pela boca e escorrer pelo queixo. É, pelo visto só podia ser o Jairzinho o responsável pelas manchas da cortina.
Ultimamente uma novidade mudara a rotina do lar. A Claudinha, tão devota, tão prendada, dera um desgosto. Saía de casa a boca da noite dizendo que ia à Igreja, mas não era vista no terço nem nas novenas. Uma amiga, sem querer, entregou tudo:
- Hein dona Mundinha, a Claudinha está doente? Não apareceu hoje na igreja...
- Ela foi minha filha, tá com mais de uma hora que saiu daqui dizendo que ia à novena.
- Ah, sim... Eu talvez não tenha procurado direito. Disfarçou a amiga, notando que havia falado demais.
A velha que era atilada e bisbilhoteira, interrogou a filha na volta:
- Então, Claudinha, não foi a igreja?
A moça ficou embaraçada. Mas remendou uma desculpa...
- Ah, sim, mãe. Fui não. No caminho encontrei a Clarissa que me pediu para acompanha-la até a costureira para provar um vestido. E por lá nos entretemos na conversa e perdemos a hora da novena.
A velha fingiu acreditar, mas no dia seguinte resolveu tirar a história a limpo. Depois que a filha saiu, dizendo que ia à igreja, ela deixou passar uns vinte minutos e foi no seu encalço. A três quarteirões de casa avistou um casal no pé do muro, no maior esfregado. Como estava meio escuro não pode reconhece-los, mas achou o cabelo da moça e a silhueta parecidos com a da filha. Foi quando um carro apareceu na rua e jogou um facho de luz na direção do casal. A velha, que vinha a poucos metros de distância, flagrou a Claudinha no maior amasso com o namorado, um tal de Reginaldo, jogador de futebol amador, sem outras profissões no mundo a não ser jogar peladas em campos de várzea, namorar e encangar grilos. Dona Raimunda aproximou-se vermelha como pimenta, o rapaz quis correr mas teve vergonha de deixar a namorada sozinha. Esperaram, a sonsa de cabeça baixa, pronta para ouvir o sermão da mãe, o rapaz, mais desconfiado que cachorro que mata pinto. A velha, porém, surpreendeu:
- Minha filha, isso é canto de namorar? Boa noite, meu rapaz.
- Boa noite, ele respondeu meio sem jeito.
- Passe para casa, dona Cláudia. E quanto ao senhor... Como é mesmo o seu nome?
- Reginaldo.
- Quanto ao senhor, seu Reginaldo, só torne a procurar minha filha depois que falar com o pai dela e pedir permissão para namorá-la. Não pense que estar metido com uma qualquer. Ela é moça de família, está ouvindo? De família! Passar bem!
A velha saiu pisando duro, a filha um pouco atrás, fungando e fingindo um choro de arrependimento. Dona Raimunda não era do tipo que se deixava comover por encenações:
- Acabe com esse fungado, sua cunhã sem-vergonha. Merecia levar uma surra. Mas por enquanto vou ver qual a atitude do rapaz. Se ele vier falar com seu pai, tudo bem, não vou me opor ao namoro, mas nem pense em encontra-lo às escondidas, está ouvindo. Mando seu pai lhe aplicar uma surra de relho. Ora, inda mais esta.
E saiu pisando duro, seguida pela filha que mais parecia uma cabrita desmamada. Para não despertar a atenção do velho, que assistia ao Jornal Nacional, dona Raimunda demorou-se uns minutos na calçada e mandou a filha entrar calada, sem chamar atenção.
No outro dia as coisas se ajeitaram. O rapaz apareceu meio sem jeito na calçada. A velha deu as coordenadas para o marido e pediu que não se alterasse, ouvisse o que ele tinha a dizer. O velho, depois de ouvir do pretendente as suas intenções, fez o sermão de praxe e falou que consentiria, mas o namoro teria que ser na sala de visitas, com horários pré-determinados. Ou seja, depois da janta, os velhos vinham para a sala assistir televisão. Seu João via o jornal, espichado na sua preguiçosa, com os óculos na ponta do nariz e assim que começava a novela das oito começava a meter de cabeça e pescar, cochilando, emitindo breves roncos e de vez em quando uma flatulência para temperar. A velha, com a cara enfiada na TV, para não perder um detalhe sequer da novela, virava-se e dizia:
- João! Tenha modos, respeite o rapaz. Ora mais essa...
E o velho, sem saber de coisa alguma, abria os olhos e dizia:
- Hããã... Hein? O quê. E voltava a cochilar novamente.
Sim, o rapaz estava num canto da sala, sentado no sofá juntamente com a namorada. A princípio aquele namorinho de pegar na mão, que foi evoluindo à medida que o peralta se inteirava dos hábitos dos velhos e ia dando tratos à criatividade. No sofá aparecia um gato de estimação, o Mimoso, que era “os querer” da Claudinha. Bicho manhoso, gordo e mimado, deitava-se numa almofada, pertinho da dona e ficava se esfregando. O Reginaldo viu nisso a oportunidade de ouro para começar uma série de bolinações. Pegava a almofada e botava no colo, alegando que era para o gato não passar pelos para sua calça. Então botava o gato em cima de ficava alisando, conquistando a confiança do bicho. Quando a cena foi ficando rotineira e não era mais novidade para a velha, ele passou à segunda parte do plano. Puxar a mão da namorada para debaixo da almofada e coloca-la em cima do seu instrumento, já em ponto de bala. A sonsa da Claudinha fingiu surpresa das primeiras vezes, mas acabou gostando da brincadeira e enquanto o safado do Reginaldo alisava os pelos do bichano, ela manipulava a sua ferramenta por cima da calça, grosa e morna que só uma mamadeira de mingau. Foi justamente essa a comparação que passou pela cabeça da safada. Um dia, a coisa foi mais longe e sentindo que o vulcão ia entrar em erupção, Reginaldo puxou rapidamente uma ponta da cortina e conseguiu recolher boa parte do jato expelido, livrando-se do vexame de ficar com as calças molhadas. Foi assim que o Jairzinho ganhou um concorrente na tarefa de emporcalhar a cortina.
Por falar no Jairzinho, que se deitava antes da novela e ficava lendo gibis até adormecer, raramente aparecia na sala quando o namorado da irmã estava por lá. O pai dormia na espreguiçadeira, enquanto a mãe apurava os cinco sentidos para não perder o menor detalhe da novela. E a irmã se divertia com o Reginaldo e o Mimoso ali no sofá. O menino achou estranha aquela cena da almofada e resolveu bisbilhotar. Veio por trás do sofá e se escondeu detrás da cortina, olhando por uma brecha. Estranhou que a mão da irmã estivesse por baixo da almofada, enquanto o galalau do cunhado fingia alisar o gato. Num dado momento veio a bomba... O Reginaldo, prevenindo mais uma vez o jato prestes a jorrar, agarrou subitamente a ponta da cortina, e pôs-se a esfregá-la sofregamente por baixo da almofada, enquanto o gato saltava para o colo da irmã. Quando o marmanjo devolveu a ponta da cortina, o menino passou a mão e viu que estava toda melecada. Então resolveu botar a boca no trombone:
- Chega mãe! Descobri! Descobri quem é que anda lambuzando a sua cortina!!!
O jovem casal, pego de surpresa, ficou sem fala. O Reginaldo se ajeitou às pressas, mais morto do que vivo, esperando o golpe de misericórdia. Mas o Jairzinho, inocente, saiu-se com essa:
- Descobri, manhê! Quem anda lambuzando a cortina é o Mimoso. Tava aqui no colo desse cara e de repente ele puxou a cortina para enxugar uma mijada que ele deu, veja aqui.
O Reginaldo levantou-se atabalhoadamente, deu boa noite e tratou de se escafeder o mais rápido que pode. A sonsa da Claudinha se encolheu envergonhada e quando percebeu que a mãe ia examinar a cortina, correu para o seu quarto e bateu a porta. A velha acendeu uma lâmpada. Seu João se remexeu na espreguiçadeira, resmungando e dizendo:
- Hããã... Hein? O quê? O que foi?
A velha, para não fazer escândalo e atrair a curiosidade da vizinhança, tranquilizou a besta do marido:
- Nada João, foi o gato que sujou a cortina.
Dizendo isso aproximou-se com cuidado e passou a mão na substância viscosa que impregnava a sua bela cortina de seda. Era exatamente o que ela suspeitava... O cheiro, a textura e a viscosidade não deixavam margem para dúvidas. Ainda bem que Jairzinho era meio inocente e culpara o pobre do Mimoso. A velha mandou o menino se deitar, e ficou esperando o dia amanhecer, para ter uma conversa séria com a filha. E a conversa foi logo cedo, assim que o marido e os dois filhos saíram para o mercado, no momento em que a sonsa se preparava para se escapulir, rumo ao colégio.
- Espere aí, dona Cláudia! Não vai sair coisa nenhuma, sente aqui. Disse a velha de maneira imperiosa. E prosseguiu: - Eu sei justamente que tipo de nojeira seu namorado esfregou na minha cortina. Não pense que nasci ontem, viu sua descarada? Vamos agora mesmo à casa dele, ter uma conversa muito séria, caso contrário terei que contar tudo ao seu pai.
A filha caiu num pranto, pedindo por tudo que era de mais sagrado, para que a história não chegasse aos ouvidos do pai. Ela nunca apanhara do velho, mas sabia que ele era capaz de dar-lhe umas bordoadas, se tomasse conhecimento do que vinha acontecendo.
- A senhora está me saindo melhor que a encomenda, viu? Para quem foi nascida e criada na barra da minha saia, de casa para a igreja, tem aprendido o caminho da perdição numa rapidez espantosa. Se esse tal de Reginaldo não concordar em casar dentro de três meses, ele vai ver com quantos paus se faz uma jangada. Ora se vai... O João não vai deixar barato.
Dona Raimunda era matreira, não iria tratar da coisa na casa do rapaz, na frente da mãe dele, sujeita a botar a caçada no mato. Ficou na esquina de tocaia, esperando que o mandrião saísse para os campinhos de futebol. Dito e feito... Por volta das nove da manhã, depois de um café da manhã reforçado, o Reginaldo calçou o par de chuteiras, botou a camiseta no ombro e saiu pelas ruas, faceiro que só um galinho de briga. Quando deu de cara com a velha, quase morre do coração, mas não teve tempo de fugir. A velha o arrastou para um local mais discreto e, na presença da filha, deu o ultimato. Sabia perfeitamente o nível de safadeza que vinham praticando na sala de sua casa, uma casa de família, nas barbas do seu marido!  Ai dele, se ele não concordasse em noivar oficialmente e casar dentro de no máximo três meses! Haveria se ver com o velho. João Feitosa não era homem de brincadeira, não o comprasse por besta.
O Reginaldo só faltou mijar nas calças. A princípio quis fugir da responsabilidade, mas diante da ameaça de uma intervenção do pai da menina, acovardou-se. Ele já ouvira um boato que ‘seu’ João tinha vindo embora da Paraíba após ter dado cabo de um sujeito que seduzira uma de suas irmãs e se negara a casar.
A Claudinha, por sua vez, estava tão encolhida que parecia um caracol. O rapaz, tremendo visivelmente as mãos e a boca ainda conseguiu dizer:
- Três meses é muito pouco, dona Raimudinha. Eu não tenho recursos para casar. Não estou preparado. Garanto que não vou fugir da responsabilidade, mas a senhora tem que me dar pelo menos um ano, para arranjar emprego e tentar montar um enxoval.
A velha foi taxativa:
- Em primeiro lugar, vamos oficializar o noivado, está ouvindo? Trate de conversar com o meu marido e fazer o pedido formal. Quanto a data do casamento a gente vê futuramente, mas de antemão lhe previno que vou ficar de olho e não permitirei mais nenhuma safadeza na minha casa. De agora em diante estarei vigilante. A cortina será inspecionada rigorosamente!
De volta para casa a velha ia traçando mentalmente suas novas táticas de vigilância. Não podia ser rigorosa demais, porque o pássaro poderia se espantar e fugir da gaiola. Tinha que fazer a coisa na base do terror psicológico, mas dando uma margem para o rapaz ir usufruindo de alguma coisa. Caso contrário poderia espantar a mosca de cima do bolo. O primeiro passo – e mais importante – era vigiar rigorosamente as saídas da filha, ir deixa-la e busca-la diariamente na porta do colégio, mantê-la em casa durante a tarde e só deixar sair a noite se fosse na companhia dos irmãos ou dela mesma. Não podia haver brecha para possíveis encontros noutro local, senão a sonsa daria com os burros n’água. A vaca iria para o brejo, fatalmente. Ora, dona Raimunda fora jovem algum dia, tão sonsa e safada quanto a filha, então sabia bem o tipo de terreno em que estava pisando.
Em casa pôs a filha sob confissão, entre rasgos de cumplicidade e ameaças terríveis, para saber até onde a coisa havia chegado. Deu-se por satisfeita que ainda não tivessem chegado às vias de fato. Se bem que o namoro era recente,  ainda não chegara a quatro meses. Para os padrões da época, já estavam avançadíssimos!
Dona Raimunda não era do tipo que brinca em serviço. Tratou de fazer a cabeça do seu João para ficar mais atento ao namoro da filha e sondar o rapaz a respeito de suas verdadeiras intenções. Até sugeriu ao marido arranjar um emprego para o futuro genro num armazém de secos e molhados, de propriedade de um compadre deles, para mantê-lo ocupado e sob vigilância mais eficaz. Correndo atrás de bola e que não podia ser. Como é que ia dar conta de casamento desse jeito? Se a velha planejou melhor fez o marido, que falou na mesma semana com o compadre Alcântara, do Armazém São Pedro, a quem pediu uma vaga de balconista para o futuro genro. A coisa foi arranjada sem muita dificuldade e o velho chamou o Reginaldo para uma conversa de homem para homem.
O Reginaldo não era esses modelos de coragem, mas também não era dos mais covardes e ouviu tudo que ‘seu’ João tinha a dizer. Achou bem amarga a proposta do velho, sobretudo no que dizia respeito ao emprego, mas não se achava em condições de recusar. Já assumira o noivado e agora precisava se preparar para o casamento. Pensou em falar com um parente, dono de um escritório de contabilidade, para ver se arranjava coisa melhor, mas deu com os burros n’água. Não obtendo êxito em suas pretensões, teve de sujeitar-se ao emprego no Armazém Alcântara, parede e meia com a bodega do futuro sogro. Os cunhados pareciam dois tetéus, melhor dizendo, uma dupla de cancão do baixio, sempre vigilantes às ações do Reginaldo. Se ele precisava de uma tampa para o tabaqueiro, arranjou uma sob encomenda! E tudo por causa de umas manchas na cortina!
Com a oficialização do noivado e o ingresso do Reginaldo no mercado de trabalho a vigilância da velha foi abrandando, dia após dia. Até porque a novela estava nos capítulos finais e ela estava cansada de ficar com um olho no peixe outro no gato. No final das contas, nem pastorava direito o namoro da filha, nem assistia a sua adorada novela à vontade. Venceu a novela e Reginaldo, que não era besta, percebeu o terreno que ganhara. Seu João, como sempre, resmungava na cadeira de lona e dentro de instantes cochilava ao bel prazer. O maquiavélico Reginaldo, recomeçou a brincadeira de maneira mais ousada, com as mãos acariciando ora as tetas, ora as coxas da namorada e quando percebia que se aproximava o clímax, botava a cabeça da Claudinha no colo, para que ela mamasse até a última gota, sem deixar vestígios na cortina.
Jairzinho, como sempre, foi quem descobriu a nova brincadeira do casal. Escondido por trás da cortina, somente sob a claridade da tela do aparelho de tv, viu perfeitamente quando a irmã abaixou a cabeça e botou na boca aquele troço, onde apojava feito bezerra desmamada. Jairzinho arregalou o par de olhos azuis, fixou as mechas de cabelo alourado que teimavam em cair na vista com um bom suplemento de catarro, e botou a boca no trombone mais uma vez:

- Olha aqui, manhê! A safadeza da Claudinha!!! Está agora mesmo agarrada com uma MAMADEIRA DE PIROCA, vem ver!!!

Eis a origem dessa história que tantos dissabores tem causado à família cristã tradicional brasileira. Um fato extraordinário na vida de Jairzinho, um menino bisbilhoteiro, tornou-se uma expressão que ganhou vulto até na política! O que aconteceu no dia seguinte? É o que já entrevemos nas CENAS DOS PRÓXIMOS CAPÍTULOS.


Frei Mané Mago de Jurema

segunda-feira, 23 de março de 2020

Oração do Mártir S. Sebastião



ORAÇÃO DE SÃO SEBASTIÃO
CONTRA A PESTE

São Sebastião é o santo protetor contra a peste e as doenças contagiosas isso porque no ano de 680 Roma enfrentava uma terrível epidemia, que desapareceu quando os restos mortais do santo foram levadas para lá.

As cidades de Milão, em 1575 e Lisboa, em 1599, acometidas por pestes epidêmicas, se viram livres desses males, após atos públicos suplicando a intercessão de São Sebastião.

Vamos fazer uma grande corrente de oração suplicando a intercessão de São Sebastião contra o coronavirus. A higiene e a adoção das medidas recomendadas pelos órgãos de saúde são fundamentais, mas a oração também é muito importante: fé e ação!




Oração a São Sebastião
(contra as epidemias)

​Glorioso mártir São Sebastião, soldado de Cristo e exemplo de cristão, hoje pedimos a vossa intercessão junto ao trono do Senhor Jesus, nosso Salvador, por Quem destes a vida. Vós que vivestes a fé e perseverastes até o fim, pedi a Jesus por nós para que sejamos testemunhas do amor de Deus.

Vós que esperastes com firmeza nas palavras de Jesus, pedi-Lhe por nós, para que aumente a nossa esperança na ressurreição. Vós que vivestes a caridade para com os irmãos, pedi a Jesus para que aumente o nosso amor para com todos.

Glorioso mártir São Sebastião, protegei a nós e a nossos animais contra o contágio da peste, as epidemias, as doenças e a fome; defendei nossos rebanhos e nossas plantações, que são dons de Deus para o nosso bem e para o bem de todos, livrai-nos da guerra e defendei-nos do pecado, que é o maior de todos os males. São Sebastião, rogai por nós!
Pai-Nosso + Ave-Maria.


domingo, 22 de março de 2020

REGRAS DO CORDEL


QUAIS OS INGREDIENTES PARA UM BOM ROMANCE DE BRAVURA?


Têm-se especulado muito, ultimamente, quais as características de um “verdadeiro cordel” e quais as regras que devem ser observadas.

Peguei como exemplo esse folheto de BRAVURA do cearense João Batista Ferreira Lima, cearense radicado no Piauí, integrante da antologia POETAS DO POVO DO PIAUÍ – Imaginário e Indústria Cultural, organizada pelo professor Gilmar de Carvalho.

O romance de João Batista, intitulado ‘As bravuras de Arnor e a Paixão de Angelita’ traz todos os ingredientes que os leitores esperam de um bom folheto de aventuras. Vejamos:

Arnor possuía um burro,
Novo, possante e zelado
Um revólver trinta e oito
E um punhal temperado
Então pra sua viagem
Estava bem arrumado.

Chegando no Maranhão
Perguntou se alguém sabia
Informar quem era um homem
Valente por demasia,
Protetor de cangaceiro
E terror da freguesia.

Um senhor disse: - Eu conheço
Capitão Ivo Madeira,
Da Fazenda FALE-BAIXO
Assassino de primeira,
Bandido de profissão
Matador por brincadeira.

É bruto, horrível e valente,
Insolente e perigoso,
Desordeiro e desumano,
Perverso, mau, orgulhoso...
Pra ir a fazenda dele
Não tem homem corajoso!

Arnor então respondeu:
- Obrigado cidadão,
Tudo que o senhor me disse
Me deu mais satisfação,
Vou mostrar a esse Madeira
Como se amansa um leão.

(...)

Creio que essa pequena amostra dá uma idéia da dinâmica, dos diálogos e do enredo que geralmente norteia uma produção desse gênero. Exemplos existem aos montes: "Romance de Mariquinha e José de Sousa Leão", "Os amores de Chiquinha e as Bravuras de Apolinário". É lendo os clássicos que a gente aprende o traquejo...

Arievaldo Vianna 




terça-feira, 10 de março de 2020

CONSELHEIRO VIVO


Evento cultural em homenagem a Antônio Conselheiro 
acontece em Quixeramobim 



Ilustração de Arievaldo Vianna para o livro "Os Milagres de Antônio Conselheiro", lançado no ano passado; obra presta homenagem ao beato

Shows, oficinas, lançamentos de livros, palestras e a entrega de comenda devem aquecer o município

VERSO | DN


Com o tema "Antônio Conselheiro 190 anos: resistindo e construindo esperança no sertão", o evento Conselheiro Vivo 2020 acontece até esta sexta-feira (13), no município de Quixeramobim.
A programação é robusta, envolvendo desde shows, oficinas e lançamentos de livros até palestras e a entrega da Comenda Antônio Conselheiro, instituída pela Câmara Municipal de Quixeramobim.
Chegando à 16ª edição, o evento acontece na cidade onde o famoso beato nasceu, despertando no público um olhar mais aprofundado sobre a atuação dessa importante figura da História do Brasil, atuante na Guerra de Canudos, entre 1896 e 1897.
Não à toa, as atividades acontecerão em escolas e espaços públicos do município, tudo com entrada franca, reunindo artistas locais, visitantes de Canudos (BA) e pesquisadores da história de Antônio Conselheiro.



DESTAQUES

Entre os principais destaques da programação, está o lançamento dos livros “Antônio Conselheiro: nem santo, nem pecador” (Rocco Jovens Leitores), de Marcelo Biar (RJ) e “Sertão, Sertões” (Editora Elefante), organizado por Joana Barros, Gustavo Prieto, Caio Marinho (SP). O momento acontece na quinta-feira (12), com a presença de vários coautores das obras.
No dia 13, haverá uma visita guiada à Casa de Antônio Conselheiro – que passa por restauro pelo Governo do Ceará, com previsão de reinauguração ainda no primeiro semestre deste ano. O equipamento passará a ser gerido pela Secretaria da Cultura do Ceará, em parceria com o Instituto Dragão do Mar de Arte e Cultura. Uma boa oportunidade para conhecê-lo.
No mesmo dia, feriado municipal, será realizada a entrega da Comenda Antônio Conselheiro, voltada a aqueles que, por meio de sua obra ou atuação, levam adiante a memória do peregrino.
Neste ano, os agraciados são: o artista, cantor e compositor baiano Bião de Canudos; o Secretário da Cultura do Estado do Ceará, Fabiano Piúba; e o professor Hugo Fernandes Lemos, supervisor do SESC Ler de Quixeramobim e ex-integrante do Movimento Antônio Conselheiro.
Também faz parte da roteiro do encerramento o tradicional desfile temático realizado pelas escolas da rede municipal de ensino e a cerimônia de premiação dos vencedores do concurso literário promovido pela AQUIletras, além de um ato comemorativo em homenagem ao aniversário de Antônio Conselheiro, que, por lei, incluiu a data no Calendário Oficial de Eventos do Estado Ceará.

Serviço
XVI Conselheiro Vivo 2020
Até esta sexta-feira (13), no município de Quixeramobim. Entrada franca.

domingo, 1 de março de 2020

Ribamar Lopes e Audifax Rios



São Francisco de Canindé  na Literatura de Cordel
  
O segundo livro que publiquei, no distante ano de 2002, pelas Edições LIVRO TÉCNICO, foi um ensaio sobre a presença de São Francisco das Chagas de Canindé na Literatura de Cordel. Muito me honram os textos escritos por Ribamar Lopes e Audifax Rios, dois amigos diletos que já partiram para o plano superior,  sobre essa pesquisa que me custou tantas horas de empenho e dedicação.  

A religiosidade é talvez o filão que mais alimenta a poesia popular. A bíblia e as lendas piedosas tiveram traduções as mais variadas na Literatura de Cordel. E diversas também são as versões da eterna luta entre Deus e o Diabo. Esta tendência faz com que a literatura em torno de São Francisco seja proporcional à romaria em Canindé, comparando-se, por exemplo, a Juazeiro do Norte. Em 2002, fizemos um resgate dessa esta trajetória do cordel em torno do "Pobrezinho de Assis/Canindé". Os muitos folhetos que circularam (e ainda circulam) tendo São Francisco como tema, abordam os mais diferentes aspectos – romarias, milagres, castigos, exemplos e até humor, caso do folheto dá conta de sua viagem ao Piauí. O livro resgata também a presença milagrosa do culto franciscano na Amazônia, a fuga do santo para a Itália em lombo de jumento e até uma visita imaginada por Gonzaga no "Encontro de São Francisco com o Padre Cícero em Canindé". Em suma, trata-se de um livro indispensável para os estudiosos da Literatura de Cordel. 

Vejamos a seguir, trechos do prefácio escrito pelo saudoso Ribamar Lopes e a apresentação de Audifax Rios:

"... São Francisco de Canindé na Literatura de Cordel é um ensaio bem estruturado, fundado na pesquisa e na análise cuidadosa, arrimadas, estas, não apenas na apreciação e no estudo dos textos coletados, mas também na observação do autor como testemunha de demonstrações desta realidade. O exaustivo trabalho de pesquisa e análise, a investigação sobre os motivos e origens dos textos referidos, a cuidadosa resenha sobre os autores e até a crítica bem propositada, espontânea e corajosa com que se acham pontilhados os comentários neste ensaio, conferem a Arievaldo Viana a autoridade de estudioso, que antes de se pretender ensaísta já era bastante conhecedor da Literatura de Cordel."

Ribamar Lopes


Ribamar faz a apresentação do livro no lançamento do Dragão do Mar


O CANTO DA OUTRA MECA


Mestre Audifax nos brindou com um lindo prefácio

A religiosidade é talvez o filão que mais alimenta a poesia popular. A bíblia e as lendas piedosas tiveram traduções as mais variadas na Literatura de Cordel. E diversas também são as versões da eterna luta entre Deus e o Diabo.
Representantes do reino divino têm lugar de destaque nesta antologia sagrada: Padre Cícero, Frei Damião, Frei Vidal da Penha, Padre Ibiapina e São Francisco das Chagas. Mais precisamente, de Canindé. Que tem em Clóvis Pinto, Raimundo Marreiro, Gonzaga de Canindé, Batista de Sena, Lucas Evangelista, Aleuda Viana, Moisés Moura, alguns de seus biógrafos. Razão sobeja para Arievaldo Viana propor o “Ciclo Franciscano” na classificação da poesia do povo.
A literatura em torno de São Francisco é proporcional à romaria, comparando-se, por exemplo, a Juazeiro do Norte. Onde Padre Cícero ainda está vivo na memória de muitos e nascido em nosso sertão. São Francisco, importado por Canindé, com uma população de devotos numericamente inferior, não perde em importância histórica e social.
Arievaldo Viana, exaustivamente, resgata a trajetória do cordel em torno do Pobrezinho de Assis/Canindé, dá conta de sua viagem ao Piauí, sua presença milagrosa na Amazônia, sua fuga para a Itália em lombo de jumento. E até uma visita imaginada por Gonzaga no “Encontro de São Francisco com o Padre Cícero em Canindé”.
O autor busca em seu trabalho a presença do santo nos folhetos exemplares e de encantamento e até nas previsões astrológicas “ditadas” durante anos a João Carneiro Filho.
E não para aí a crescente produção de publicações alusivas à vida e aos milagres de São Francisco, de responsabilidade de uma nova geração de cordelistas canindeenses encabeçada por Klévisson Viana, Pedro Paulo Paulino, Natan Marreiro, Jota Batista, Gilvandias Mateus e o próprio autor deste valioso trabalho. Que queimou pestanas em nada menos de sessenta itens sobre o tema, entronizando São Francisco no altar dos milagreiros do cordel.
“São Francisco na Literatura de Cordel” vem fartamente ilustrado com capas de folhetos, na maioria contendo belas xilogravuras. Além disso Arievaldo Viana nos brinda com quatro textos integrais, dentre eles o clássico de 1952 “Um Grande Milagre de São Francisco do Canindé” de autoria de Manoel Camilo dos Santos.

Audifax Rios