FREI MANÉ MAGO NA PRAÇA
JOSÉ DE ALENCAR
Depois de
orar fervorosamente na velha Igreja do Rosário, joia barroca que ornamenta a
não menos vetusta Praça dos Leões, Frei
Mané Mago de Jurema deu uma passadinha na Academia Cearense de Letras, onde
solicitou uma cadeira para Frei Cancão
de Fogo do Amor Divino, seu fiel secretário e escrevinhador de suas
memórias. Disseram-lhe que assim que houver uma vaga, informarão com a maior
presteza, basta que morra um acadêmico. Pena que o Presidente “à força” da
República não seja Acadêmico da ACL, porque existem milhões de pessoas rezando
para que esse cabra morra.
Inteirado da
corrente de orações que cerca a diabólica figura daquele que tomou de assalto a
Presidência da República, Frei Mané Mago contou as últimas moedas de sua
algibeira e subiu as escadarias do velho L’Escalle, onde comeu 200 gramas de
bacalhau, regado por uma boa dose de vinho do Porto. Em seguida, degustou uma
xícara de café expresso e umas bolachinhas com doce de goiaba pregado no cocuruto. Frei Cancão de Fogo absteve-se do nobre repasto porque havia comido CINCO coxinhas...
Frei Mané seguiu pela
Guilherme Rocha, procurando uma loja da TOK-DISCOS, porém foi logo informado por
um transeunte que a referida casa, que fora deleite de sua juventude musical,
há muito fora extinta. Procurou as escadas rolantes das lojas Americanas, que
também não existem mais e entrou por uma galeria esquisita, batizada de Shopping
“não sei das quantas”, onde deparou com 352 coreanos e mais uns 800 japoneses
vendendo componentes eletrônicos e produtos de “marca”, todos de procedência e
durabilidade duvidosa. A amarelidão dessa gente o fez lembrar, com escrúpulos (mas, sem preconceitos), dos patos amarelíssimos da Praça Portugal.
Mais adiante
cruzou com dois policiais do Ceará
Pacífico, de que nos fala o governador Camilo Santana, e perguntou como
estavam as coisas no Triângulo das Bermudas e a movimentação naval nas
imediações da Coréia do Norte, regiões banhadas pelo dito Oceano. Não obtendo
qualquer resposta de futuro, dobrou a esquina apressado.
Seguiu pela
24 de maio, rumo ao Sebo do Geraldo e
adquiriu um livro raríssimo de Gustavo Barroso – Mulheres de Paris, onde leu com muito gosto uma crônica sobre a
existência de um CAFÉ DU CEARÁ, em plena capital francesa, no distante ano “da
graça” de 1931! Sim, meus diletos leitores. Segundo Gustavo Barroso, desde
meados do Século XIX, existia em Paris, na rua La Gaité, uma casa de repasto
chamada Au Café du Ceará, cujo
proprietário, francês de nascimento, a pegara de terceira mão e não sabia a
origem do nome. O bairrista Barroso deduziu que algum cearense dos velhos
tempos do Ceará cafeicultor, da Serra do Baturité, instalara-se em Paris com
esse negócio.
Inicio da crônica Au Café du Ceará (Gustavo Barroso)
Frei Mané
seguiu adiante, sempre acolitado por seu fiel discípulo Frei
Cancão do Amor Divino e dirigiram-se ao Beco da Poeira, que não mais existe no
seu antigo lugar de origem. Ali pretendiam comprar uma agulha de radiola e um carretel
de fita para sua máquina de escrever Olivetti
Línea 88. Tudo debalde. Ali encontraram tão somente uma banca de revistas,
onde leram a seguinte manchete: “Presidente Temer é internado e faz cirurgia na
uretra”, enquanto um camelô esgoelava-se a cinco metros de distância:
- BORRACHA
PARA PANELA DE PRESSÃO! DESENTUPIDOR DE PINTO!!!
Antigamente,
nos bons tempos de Frei Mané Mago, ali se vendia desentupidor para fogão a gás.
Olivetti Línea 88 - a popular SETE LAPADAS, onde Frei Cancão de Fogo iniciou suas travessuras como escrevinhador.
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